
Lá estão os desejos escritos um a um: fazer academia, emagrecer alguns quilos, estressar-se menos no trabalho e ter mais tempo livre. Se nessa época vontade não falta e todo mundo tem uma listinha de hábitos a serem melhorados por que é tão difícil fazer com que as promessas sobrevivam à quarta-feira de cinzas e durem por todo o ano?
Para os especialistas, falta planejamento e metodologia. "Comer melhor, parar de fumar e se exercitar são as metas mais comuns e também os principais passos para ter uma vida mais saudável. Em primeiro lugar, é preciso tratar isso como um objetivo profissional, estabelecer um método em conjunto com seu médico", diz Rodrigo Alexandre Camargo, médico fisiologista do Hospital Santa Cruz.
Na maioria das vezes, a lista de desejos está longe de ter ações concretas, muito menos datas para o cumprimento dos objetivos. "As pessoas não pensam no que elas precisam fazer para mudar. Querem emagrecer, mas não fazem uma relação de atitudes necessárias para que isso aconteça", afirma Daniela Zanuncini, psicóloga, especialista em psicologia do corpo e diretora da Bem-Estar Desenvolvimento Humano.
Tudo de uma vez
Quando a laboratorista Tatiana Silva Tironi foi questionada sobre o que queria mudar dali para frente, logo respondeu: tudo. "Ela não sabia por onde começar. Não sabia definir uma prioridade. Quando queremos mudar tudo, acabamos não mudando nada", diz Melina Kunifas, coach pessoal de saúde, especialista certificada pela Internacional Coach Federation (ICF).
No ano-novo, Tatiana quer emagrecer, passar a praticar uma atividade física de forma rotineira e mudar a vida profissional. A principal dificuldade? Definir e organizar suas metas. "Eu sempre planejei, mas nunca pensei por onde começar". Segundo Melina, para aumentar a probabilidade de ser bem sucedido é preciso escolher uma atitude de cada vez. "Não somos muito abertos a mudanças, queremos segurança e previsibilidade. É assustador pensar que a partir do dia 31 vai mudar o horário que eu acordo, a comida que como, a maneira que organizo meu tempo. Parece que não vou continuar sendo a mesma pessoa."
Como prioridade, Tatiana escolheu deixar o sedentarismo para trás. A etapa seguinte foi vencer a preguiça. "Não gosto de academia, não adianta. Já entrei algumas vezes e não consegui levar adiante. Então pensei em fazer uma coisa de que gosto."
Há um mês e meio, matriculou-se em aulas de artes marciais. Apesar de não ter se pesado e ainda estar longe de perder os 20 quilos que pretende em 2010, ela já vê alguns resultados. "Estou mais disposta para fazer várias coisas. Acho que até emagreci um pouco e estou mais leve para pensar nos próximos passos."
Atividade física, um bom começo
Assim como Tatiana, a consultora Vera Mendes também começou a mudar seus hábitos a partir da atividade física. Além de não praticar esportes, Vera fumava três maços de cigarro por dia e não tinha cuidado com a alimentação. "A minha mudança tinha de ser grande e para isso eu precisava saber por onde começar. Então me matriculei na academia de natação."
Nos primeiros meses foi um fiasco. "Parava no meio da piscina para pegar fôlego. Então percebi que o cigarro não tinha mais lugar na vida que eu queria ter". Foi quando ela decidiu marcar um dia para parar de fumar. "Eu já tinha tentado acupuntura, medicamentos e adesivos. Percebi que a pior parte da mudança é o período em que ficamos adiando e criando coragem para colocar em prática. Quando parei de verdade, vi que sobreviveria sem o cigarro."
Segundo o médico Rodrigo Camargo, o que aconteceu com Vera serve de exemplo. Bons hábitos acabam trazendo outras transformações para o bem da saúde. O inverso também é válido, os maus hábitos acontecem em conjunto. Nesse caso, a atividade física funcionaria como um estopim para melhorar a qualidade de vida. "Traz uma consciência corporal e faz com que a pessoa comece a fazer outras escolhas saudáveis. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o sedentarismo é a principal causa de morte evitável."
São inúmeros os benefícios da prática regular de atividade física. Segundo a coordenadora de fitness da Academia Gustavo Borges, Karla Konig, a maioria dos exercícios físicos, principalmente os aeróbicos, libera hormônios que auxiliam na manutenção do prazer, a noroepinefrina, dopamina e serotonina. "Esses três hormônios trazem benefícios para a parte psíquica, como o aumento da atividade cerebral, a sensação de prazer, supressão da dor, controle do humor e a melhora do sono."
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Alimentação é o segundo passo
Depois das comilanças das festas, livrar-se dos quilinhos extras passa a ser um caso de urgência e, quanto mais rápida for a dieta, melhor. É aí que mora o perigo. "A maioria das pessoas procura dietas milagrosas, mas não é dessa forma que alcançamos um objetivo a longo prazo", diz Bianca Araújo de Oliveira, nutricionista da NutriSaúde consultoria.
As famosas dietas restritivas da sopa, da lua ou das frutas, por exemplo podem resultar em uma perda significativa de peso rapidamente, no entanto, causam prejuízos à saúde. "Costumo dizer que emagrecer é fácil, mas o que você está perdendo para isso, gordura ou músculo? Está com disposição ou se sente debilitado? Consegue manter por muito tempo a dieta? Tudo isso é importante na hora de pensar em um cardápio."
Segundo a nutricionista, as temidas proibições não precisam existir. Para alguém que adora chocolates, cortar totalmente o doce só vai aumentar a ansiedade. "Sempre digo que nada deve ser proibido, mas sim comedido. A maior dificuldade enfrentada pelas pessoas que querem fazer dieta é essa, mas apenas controlando as quantidades é possível perder peso."
Outro ponto importante é que uma nova rotina alimentar deve ser inserida progressivamente, não de um dia para o outro. A principal dica da consultora em saúde Melina Kunifas é incorporar um novo costume por semana, trocando um dos cereais por grão integral, diminuindo o açúcar, a ingestão de gordura. "Quando já acostumamos com um dos hábitos podemos passar a fazer outro", afirma. Assim é mais fácil resistir às tentações de restaurantes por quilo e conviver em um mundo que não vive de dieta.
Para o analista financeiro Gilson Luiz Silvério dos Santos, deixar de ter a mesma rotina de alimentação em casa foi o mais complicado na sua luta contra o peso. "Parecia que eu não seria a mesma pessoa. Adoro doces e sobremesas. Eu tomava café da tarde, jantava e depois sempre comia uma torta ou pavê."
Gilson pesava 119 quilos em agosto de 2008. Para 2009 ele planejou uma grande virada. "Queria voltar aos 88 quilos que tinha quando me casei. Procurei ajuda de uma nutricionista e comecei a comer mais alimentos frescos, mais verduras, menos doces". As caminhadas no parque viraram costume e os resultados não demoraram. "Em cinco meses perdi 21 quilos."
Para este ano, ele quer chegar aos 75 quilos com a mesma fórmula, mudando pouco a pouco. "Já troquei o açúcar pelo adoçante e diminuí as sobremesas, agora quero comer mais verduras e frutas", diz.
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Menos estresse
Para quem quer mais tranquilidade em 2010, o primeiro passo é cumprir todas as metas propostas para hábitos mais saudáveis. Segundo Raphael Henrique Di Lascio, professor do curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, é impossível fugir do estresse sem ter qualidade de vida. "A frustração é uma das principais causas do estresse. É um círculo vicioso que traz ansiedade e faz com que a pessoa se culpe", afirma.
O estresse negativo, aquele que atrapalha a rotina e traz problemas fisiológicos, é causado por inúmeros fatores. São essas causas que precisam ser descobertas e combatidas. "Até certo ponto, estressar-se é comum e saudável. A angústia e irritação passam a ser preocupantes quando a pessoa fica em situação de alerta sem que exista uma ameaça real."
Hipertensão, gastrite, úlcera e irritabilidade são as principais consequências do problema, que, segundo Di Lascio, começa a ser resolvido quando a pessoa passa a pensar no que é realmente importante para se ter saúde. "Tudo depende da forma como encaramos as situações. Precisamos aprender a gerenciar nosso estresse. Acho que a reflexão pode começar por encontrar mais tempo para pensarmos em nós mesmos e ter ações coerentes com essa atitude", afirma.
A médica reumatologista Marister Sampaio sempre colocava o trabalho em primeiro lugar e não tinha tempo para nada. "Trabalhava muitas horas por dia. Queria me dedicar à família e me cobrava muito. Isso fazia com eu me irritasse com a família e com os colegas."
Apesar de querer diminuir o estresse, ela não pensava que, para isso, teria de trabalhar menos e dedicar mais tempo a outros afazeres. "Só percebi quando isso estava afetando minha saúde. Então alterei a minha agenda no trabalho e deixei mais espaço para o lazer. Hoje pratico pilates, faço massagem pelo menos uma vez por semana e dou mais atenção aos meus filhos. Posso me considerar muito mais saudável."










