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obituário

Carlos Martins: empatia por trás das lentes

 | Arquivo da família
(Foto: Arquivo da família)

Carlos Martins trabalhou muito e nunca reclamou disso. O motivo? O fotógrafo era apaixonado por cada detalhe da profissão. Nascido em 21 de outubro de 1950, em Rolândia, no Norte do Paraná, ele se mudou com os pais para Cianorte, no Noroeste , quando ainda era criança. Lá, o segundo dos nove filhos de dona Gessy e seu Antônio Martins decidiu procurar trabalho para ajudar a família. E foi assim que conheceu e se encantou com a fotografia.

No início, ele trabalhava junto com o irmão mais velho, Francisco Martins Neto, também fotógrafo. Em 1967, os dois começaram como aprendizes no Studio Fotolândia, ainda na cidade do Noroeste. Carlos se mudou para Curitiba em 1970 e foi trabalhar na loja “Foto Okamoto”. No ano seguinte foi para o laboratório fotográfico da Paranacolor e aí o gosto pela arte de fotografar só aumentou. “Ele se encantou pela técnica, dizia que era fantástico ver a foto aparecendo na sua frente”, conta a sobrinha Natália Martins.

A partir daí não tinha jeito. Carlos se deu conta de que a fotografia tinha vindo para ficar na sua vida. Trabalhou em parceria com o fotógrafo Mário Ichikawa e com o irmão Francisco antes de abrir o próprio estúdio, em 1980, no Clube Curitibano. O local tinha tudo a ver com seu estilo de trabalho: enquanto os colegas escolheram a fotografia cotidiana e a publicitária, Carlos tomou gosto por registrar eventos. No clube, fazia imagens dos bailes que aconteciam e montava a revista com as fotos das debutantes. Três anos depois, migrou para um estúdio próprio, Rua Vicente Machado, onde permaneceu por 27 anos.

No negócio próprio, ele se especializou, além dos eventos, em montagem de portfólios e ensaios pessoais. Ganhou muita visibilidade em uma época em que a fotografia digital ainda era uma realidade distante. “O trabalho dele era impecável. As pessoas o procuravam porque queriam se sentir profissionais, mesmo que o ensaio fosse para elas guardarem para si mesmas”, conta Natália. A sobrinha ressalta ainda que ele tinha como marca registrada o uso do fundo preto, no qual a luz deve ser trabalhada com mais cuidado para evitar erros.

O trabalho com as festas tinha seus altos e baixos. Teve a chance de participar de grandes eventos e fotografar celebridades, mas também tinha uma rotina cansativa, devido aos horários. Por isso, sempre contou com o apoio da família – tanto do lado do irmão e da sobrinha – também fotógrafos –, quanto da esposa, Dione.

A história de amor começou em 1972, de um jeito simples. Um dia, ele foi até a farmácia onde Dione trabalhava e se encantou pela atendente. Não perdeu tempo: esperou ela terminar o trabalho e perguntou se poderia acompanhá-la até em casa. Depois de nove meses, já estavam casados. Tempos depois, começaram a construir uma família. Tiveram três filhos: Marcelo, Raquel e Alexandre.

A sobrinha Natália foi a que mais se interessou por fotografia. Ela conta que teve a sorte de aprender quase tudo que o tio pôde passar. “Ele me ensinou demais, tudo que ele ia lembrando, me falava. Por mais famoso que ele fosse, nunca se colocou num lugar inatingível, nem se achava mais por isso. Gostava de ensinar, de se aproximar”, comenta. Para ela, essa foi a chave para o sucesso do tio, que conseguia descontrair até os mais tímidos nos ensaios e nos eventos tinha a capacidade de envolver e capturar a espontaneidade das pessoas em grandes momentos.

Na noite de 25 de outubro, Carlos sofreu uma cardiomiopatia dilatada enquanto dormia e faleceu. Deixa esposa, três filhos, uma neta, oito irmãos, 12 sobrinhos e o cachorrinho Tico, seu grande amigo.

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