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Jayme de Loyola e Silva: bondade humana e paixão pela natureza

 | Arquivo da família/
(Foto: Arquivo da família/)

Não é preciso muito esforço para descobrir qual era o trabalho – e maior paixão – de Jayme de Loyola e Silva. Fazendo uma busca rápida na internet, referências diversas sobre seus livros publicados, artigos orientados e histórico como docente e pesquisador despontam nos sites de busca. Também pudera. Ao longo dos mais de 60 anos como estudante e professor de biologia, Jayme foi um colecionador de méritos.

Com dedicação especial à zoologia, foi o criador de um dos primeiros e mais importantes livros do Brasil sobre o tema. Zoologia, de 1973, ajudou gerações de biólogos nos conhecimentos sobre os animais. Na mesma época, foi um dos responsáveis pela pesquisa que determinou os rumos do consumo de camarão no Paraná. A iniciativa estabeleceu as épocas ideais para pesca do crustáceo, levando em conta a reprodução e desova da espécie.

A lista de congratulações é extensa e começou nas salas de aula da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi ali que, nos anos 50, Jayme se tornou calouro do curso de História Natural. E incluiu ainda uma homenagem no museu de história natural de Londres a convite do oceanógrafo e explorador francês Jacques-Yves Cousteau para participar de um congresso.

O próprio ingresso na universidade já foi motivo de orgulho para a família humilde, que viu o quinto de nove irmãos ser o primeiro a cursar uma graduação. E desde a infância, passada entre brincadeiras nas ruas de Curitiba, Jayme já mostrava aptidão para a organização e dedicação – duas de suas principais características que o ajudaram no desempenho ímpar na vida acadêmica. Começou a lecionar na década de 60 na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), até que, algum tempo depois, retornou à UFPR, dessa vez como professor.

Morou em Curitiba por toda a vida e adorava a praia. Era lá onde podia ter contato mais próximo com as microespécies de crustáceos que catalogava e estudava. Foi no Litoral que conheceu a esposa, Romilda, em um romance de verão que fugiu à regra do ditado popular e subiu a serra. Juntos, construíram um relacionamento de companheirismo e respeito ímpar, além de um amor profundo. Os dois filhos que tiveram, Lucio Antonio e Marco Aurélio, se admiram até hoje com o fato de nunca terem visto o casal brigar.

A união da família se manteve mesmo quando, nos anos 70, Jayme conseguiu a oportunidade de realizar pesquisas nos Estados Unidos: mudaram-se todos, de mala e cuia, para Washington D.C. Ao conhecer a cultura do país, o pesquisador se admirou com a maneira correta dos americanos, como seguiam as regras à risca. Se identificou, portanto, com a população de lá, já que sua integridade era uma qualidade notada e admirada por todos com quem convivia.

Depois de um ano, a família voltou para a casa no bairro Guabirotuba, em Curitiba, onde morava. Ali não havia cadeado no portão nem tranca nas portas que impedissem a chegada dos vizinhos, com quem Jayme construiu amizades e desenvolveu um convívio intenso. Esse foi mais um círculo em que era admirado por sua bondade e apoio incondicional – em aspectos que iam do emocional ao financeiro.

Era metódico e tinha uma biblioteca minuciosamente organizada em casa. Seus amados livros, os quais lia vorazmente, carregavam marcas de muito estudo, sempre feito com alegria. Esse sentimento, aliás, o acompanhava a todo momento: tanto seus filhos quanto seus alunos sentiam a positividade em suas atitudes.

Depois de se aposentar, aos 65 anos, não conseguiu deixar a universidade. Trabalhou na UFPR até por volta dos 85, orientando teses de doutorado. E, quando teve de deixar de frequentar o local por causa da idade, o reconhecimento foi incessante. O curso de pós-graduação em biologia e zoologia que fundou, por exemplo, continua recebendo nota máxima em avaliações educacionais mesmo depois de sua saída. O motivo, garantem os professores, é a organização esquemática da metodologia de ensino e funcionamento do curso deixados por Jayme.

Quando começou a ficar mais debilitado, há cerca de dois anos, contou com o companheirismo da família, que assistia com ele aos seus adorados programas esportivos na televisão. Por causa do desgaste da idade, Romilda, com quem estava prestes a completar 60 anos de casado, o amparava quando fosse preciso.

E quando descansou, em janeiro deste ano, foram muitas homenagens dos ex-alunos. Diziam que foi um professor que marcou vidas. Os filhos e a esposa nunca irão esquecer as palavras de apoio que Jayme lhes direcionava em qualquer tipo de situação. Deixa a esposa, dois filhos e dois netos.

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