A expressão um tanto sisuda de José Arruda Botelho muitas vezes deixava quem o via de relance, ou com pouca frequência, ressabiado. Era comum que os menos íntimos logo formassem a ideia de um homem austero. As grossas sobrancelhas, por vezes franzidas, davam uma aparência séria, reforçada pelo cachimbo sempre à mão. Essas particularidades, no entanto, logo tinham a natureza desmistificada: bastava apenas uma conversa com José para descobrir que ele era a simpatia em pessoa, além de um homem amoroso e humilde, que tratava todos de igual para igual.
Tal comportamento também foi marcante em sua atuação profissional. Químico industrial, ingressou na carreira logo cedo. Depois de morar em Itu, no interior de São Paulo, onde nasceu em 1936, mudou-se para a capital paulistana aos 18 anos. Depois, chegou a morar em Recife. Lá foi gerente da empresa de cerâmica Celite. Em 1973 conheceu Curitiba, lugar que o abrigaria até o fim de sua vida.
A mudança veio em decorrência do cargo de diretoria que assumiu na Lorenzetti Porcelana Industrial, em Campo Largo. Chegou a se tornar presidente nacional da empresa. Apaixonado pelo trabalho, era do tipo de pessoa que considerava o ofício uma vocação. Para José, lidar com química proporcionava um novo desafio a cada empreitada. O trabalho com a cerâmica o instigava a encontrar soluções para fazer com que a produção de peças, que iam de pratos a disjuntores elétricos, fosse eficiente.
Em 1987, recebeu o título de cidadão honorário em Campo Largo em virtude das ações sociais desenvolvidas durante a direção na Lorenzetti.
Foi pioneiro ao instituir benefícios aos funcionários, como o acesso à cooperativa de alimentos, assistência social, coral, auxílio saúde e incentivo à formação profissional. Se importava com as pessoas, conhecia os funcionários pelo nome e também sabia sobre a família, os problemas e a rotina das pessoas.
Outras conquistas laurearam sua vida profissional, como a diretoria da Fiep, o recebimento de medalhas e a fundação da própria empresa.
Muito sério no que se propunha e nos compromissos que assumia, não media esforços para ajudar qualquer pessoa que necessitasse. De espírito generoso, ajudou financeiramente duas creches em Campo Largo por toda a vida, mas nunca chegou a divulgar essa informação.
A esposa Maria Cecília, com quem havia casado antes de deixar a cidade natal, era a companheira nas empreitadas. Da mesma maneira como agia nas outras esferas da vida, foi um marido amoroso. Levava flores com frequência e nunca saía de casa sem dar um beijo de despedida. Assim, com muita cumplicidade e companheirismo, neste ano completaram 53 anos de um casamento feliz. Tiveram dois filhos, Daniela e José Eduardo. A proximidade era grande. José trabalhou lado a lado com eles por vários anos. Aconselhava-os quando necessário.
Uma das maiores alegrias de José ocorreu há cerca de três anos: foi o nascimento dos netos Guilherme e Lorenzo, um de cada filho. As crianças mudaram a rotina e lhe deram nova ocupação.
O número de amigos também era algo marcante. Gostava de receber os mais próximos em casa para churrascos e não fazia nenhum tipo de distinção em suas amizades. Se dava bem com todo mundo. Duas vezes por ano viajava com eles para o Mato Grosso. Passava os dias pescando – era a atividade favorita para relaxar.
Em abril, descobriu que estava com fibrose pulmonar, doença sem cura e que o levou ao internamento julho. Nos últimos momentos, manteve o cuidado com todos a sua volta. José percebeu que a saúde estava debilitada e tratou de preparar, em doses homeopáticas, a família para o que estava por vir. Assim pôde descansar em paz. Deixa a esposa, dois filhos e dois netos.



