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Trânsito

20 km/h a mais fazem muita diferença

Quando o veículo passa de 30 para 50 km/h, o risco de morte em caso de atropelamento sobe de 5% para 45%. Campanha defende zonas com limites menores de velocidade

Mobilização defende que em áreas residenciais ou escolares o limite seja de 30 km/h | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Mobilização defende que em áreas residenciais ou escolares o limite seja de 30 km/h (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

Um leve toque no acelerador pode significar variação de 20 quilômetros na velocidade do carro e, mais do que isso, um grande salto nas estatísticas de atropelamentos letais. Quando o acidente se dá a 50 km/h em vez de 30 km/h, por exemplo, há uma elevação de 5% para 45% no risco de morte. Essa é uma das razões que levaram o jurista Luiz Flávio Gomes a iniciar uma campanha para criar nas cidades brasileiras zonas em que o limite de velocidade seja de 30 km/h em áreas residenciais ou escolares. A medida já é comum na Europa.

Gomes recorre às estatísticas para provar que a velocidade tem relação direta com mortes no trânsito, à razão de uma a cada 11 minutos. Porém, somos levados a confiar em demasia na nossa sensatez ao volante e a crer na segurança que o carro proporciona. A engenharia automobilística salva vidas e é capaz de amortecer impactos, mas as capacidades humanas continuam as mesmas, falíveis e limitadas frente ao inesperado.

Mesmo diante do imponderável, as pessoas não costumam pisar no freio. O brasileiro criou uma cultura de impunidade e um culto à velocidade no trânsito, avalia o coordenador do Programa Ciclovida, da Universidade Federal do Paraná, José Carlos Assunção Belotto. Como uma mudança de hábito não se processa tão rápido, ele salienta que só será possível mudar o comportamento dos motoristas com perseverança na fiscalização e punição dos infratores.

Para o coordenador do Ciclovida, a "Zona 30" só teria sucesso se fosse acompanhada de campanha educativa e punição. O diretor de Fiscalização da Secretaria de Trânsito de Curitiba, Éder Carlos Rodrigues, concorda que educação é fundamental para mudar a cultura de associar o carro à velocidade e ao status social. Ainda segundo ele, nada mudará se não houver conscientização de que alguns quilômetros a mais podem causar acidentes de proporções irreparáveis.

Números

Rodrigues dispõe de estatísticas para embasar seu argumento: em 2011 houve 18.736 multas em Curitiba por excesso de velocidade só em lombadas e barreiras eletrônicas, cujo limite de velocidade é de 40 km/h. As autuações subiram para 22.186 no ano seguinte. "Se não respeitam o limite de 40, imagina o de 30", observa. Ele diz que na maioria das escolas de Curitiba o limite já é de 30 km/h, mas os motoristas reduzem a velocidade mais por causa dos obstáculos humanos que as crianças representam do que pela sinalização.

Já para o psicólogo e pesquisador do comportamento no trânsito Fábio de Cristo, a velocidade nas vias públicas não tem causa apenas no motorista. "A pista também pode estimular esse comportamento, como, por exemplo, as avenidas largas e retas, que convidam a correr. Assim, o desafio das autoridades consiste em equilibrar as ações, que devem incluir tanto o motorista quanto a infraestrutura viária e a fiscalização", diz.

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