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Comunicação

200 anos de imprensa no Brasil

Historiadores lembram das primeiras tentativas de implantação da tipografia e do nascimento da censura junto com o jornal

Primeira impressão do jornal Gazeta do Rio de Janeiro (10/09/1808) e do Correio Braziliense (01/06/1808) |
Primeira impressão do jornal Gazeta do Rio de Janeiro (10/09/1808) e do Correio Braziliense (01/06/1808) (Foto: )

Foram necessários 300 anos, após o Descobrimento do Brasil, para que a imprensa fosse criada no país. Houve algumas tentativas de começar a atividade antes da chegada do príncipe regente dom João VI, mas nenhuma foi bem sucedida. As gráficas que existiram eram clandestinas, e o Brasil, na época colônia de Portugal, viu as primeiras tipografias que chegaram aqui serem destruídas por ordem da corte. O exemplo mais conhecido foi o do tipógrafo Antonio Isidoro da Fonseca, cuja tentativa de impressão no Rio de Janeiro, em 1747, lhe custou a apreensão da tipografia e o exílio em Lisboa.

No resto do mundo há registros dos primeiros jornais industriais no século 17, dois séculos depois de Guttenberg ter criado o processo de impressão com tipos móveis de metal. A primeira publicação periódica semanal foi o Nieuwe Tijdinghen, de 1605, na Antuérpia (Bélgica), seguidos dos primeiros jornais alemães e, na seqüência, pela Inglaterra. Em Portugal, o primeiro foi A Gazeta, de Lisboa, em 1641. A doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP), Ana Luiza Martins, autora do livro História da Imprensa no Brasil, escrito em co-autoria com Tânia Regina de Luca, explica que é difícil estabelecer um lugar correto para o Brasil no ranking dos países que receberam por primeiro a tipografia. "Certamente fomos um dos últimos países a conhecer os prelos e editar jornais", diz.

Estudos mostram que o país foi o 12º da América Latina a receber uma máquina de impressão, quando o México já tinha oficina desde 1535. Buenos Aires tem sua primeira tipografia em 1780. O primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, só foi lançado em 10 de setembro de 1808: nesta semana completou seus 200 anos, agora, com o nome de Jornal do Commercio. "Note que a primeira tipografia oficial foi trazida pelo Conde da Barca em novembro de 1807. Mas ela só funcionou quase um ano depois", explica o presidente da Asso-ciação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo.

A história da imprensa no Brasil, entretanto, também é lembrada em 1º de junho de 1808, quando circulou no país o primeiro jornal, o Correio Braziliense, que era produzido e editado em Londres, na Inglaterra, pelo gaúcho Hipólito da Costa. O jornal vinha clandestinamente por navios e os poucos exemplares eram distribuídos a pessoas com quem Hipólito tinha interesse de se comunicar, de comungar das mesmas idéiass. Azêdo conta que Hipólito era militante da Maçonaria, se mudou para Portugal mas foi preso: ele conseguiu fugir para Londres onde abriu o jornal para o seu próprio sustento. O Correio circulou até dezembro de 1822.

A questão que fica na história da imprensa brasileira é por que demoramos tanto tempo para termos a nossa primeira máquina de impressão? A historiadora Ana Luiza explica que não interessava à Coroa propagar a palavra impressa em suas terras da Amé-rica, por isso a falta de vontade política e o extremo controle da igreja coibiram o inicial funcionamento. "O principal bloqueio, porém, provinha do caráter mercantil capitalista inerente à imprensa, inviável no país analfabeto e escravocrata, sem consumidores, onde pesavam a natureza feitorial da colonização, a presença das populações indígenas, a predominância do analfabetismo, a ausência de urbanização e a precariedade da burocracia estatal", explica.

Primeira Impressão

Dependente direto da corte portuguesa, o Brasil só viu oficialmente a tipografia em funcionamento com a chegada da família real ao Brasil. O príncipe regente precisava imprimir os interesses da Coroa. Por isso, assim que começou a circular o primeiro jornal do Brasil, ele já foi censurado. A Gazeta do Rio de Janeiro servia para comunicar atos do governo português. Passava pelo crivo de três instituições: a inquisição, o império português e os costumes da época – qualquer assunto que fugisse desses interesses não era noticiado. Eis a importância do Correio Braziliense, que circulava clandestinamente e foi o grande impulsionador das idéias abolicionistas e republicanas, pelo seu perfil contestador. O Correio era semelhante a um livro, tinha entre 96 e 150 páginas e circulava mensalmente. A Gazeta do Rio de Janeiro era diária e foi considerada por muitos anos apenas como um órgão oficial do imperador. A consulta a esses periódicos, segundo Ana Luiza, ainda é importante como fonte histórica. "Podem ser usados para verificar como, em certos aspectos, pouco evoluímos. Pois, naqueles jornais, são apontados vários dos problemas os quais vivemos hoje. A corrupção era e é um deles."

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