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Dos quatro medicamentos para emagrecer mais consumidos no país, conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), três são anfetaminas, drogas sintéticas que podem causar dependência no caso do uso abusivo, segundo o Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas (Ceatox) de São Paulo. São os medicamentos anorexígenos à base de anfepramona, mazindol e femproporex.

O inibidor de apetite sibutramina, também entre os mais consumidos e vendido comercialmente com os nomes de Reductil, Plenty e Sibutral, não causa dependência, segundo o Ceatox. No entanto, os remédios à base da substância terão controle mais rigoroso a partir desta terça-feira (30), de acordo com a Anvisa, porque podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares.

O toxicologista Antônio Wong, chefe do Ceatox, explica que, entre os anorexígenos, o femproporex é o que mais pode causar dependência. "O uso abusivo da anfepramona e do mazindol também podem levar ao quadro de dependência, mas ocorre com menos frequência", destaca.

Anfepramona, mazindol e femproporex já são remédios tarja preta, dentro do grupo "B2", no qual é preciso que o paciente apresente uma receita especial, de cor azul, para efetivar a compra no estabelecimento farmacêutico.

A sibutramina, que era do grupo "C1", no qual pede-se a receita branca em duas vias, passou para o grupo "B2". A indústria farmacêutica terá 180 dias para adequar a embalagem de tarja vermelha para preta, mas os médicos já devem começar a prescrever com a receita azul.

Wong informou que, embora a sibutramina seja um inibidor de apetite, também é usado como antidepressivo. "Ele é eficiente como antidepressivo, mais que a fluoxetina (vendido com os nomes comerciais Prozac e Daforin). O controle não se deu por causa do perigo do uso abusivo, mas sim porque estudos mostram o risco cardiovascular, arritmia. A Europa retirou do mercado, mas o governo brasileiro, para não deixar os endocrinologistas sem opção, aumentou a fiscalização", destaca o toxicologista, que presta consultoria para a Anvisa.

O toxicologista destaca que não há uso abusivo somente entre os remédios que causam dependência. "Pode haver uso abusivo de todo tipo de medicamento. Se a pessoa se sente bem com o remédio, pode acabar tomando mais do que o receitado pelo médico", destaca.

Antônio Wong afirma que o uso abusivo dos anorexígenos afetam a coordenação motora. Há relatos de pessoas que morreram devido ao consumo em excesso.

Em entrevista ao G1 sobre o uso abusivo de medicamentos, o Ministério da Saúde afirmou que o governo se preocupa com a questão: "É um problema grave no Brasil. (...) Acho importante abordar essa situação porque, para a saúde pública, as drogas ilegais, legais e prescritas podem apresentar danos comparáveis. Nós sabemos que, de todas as drogas, as mais danosas são duas legais, o álcool e o tabaco. E, entre as que não são ilegais, existe ainda o problema dos medicamentos que podem causar dependência", disse o coordenador geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Pedro Gabriel Godinho Delgado.

Consumo Segundo dados divulgados pela Anvisa nesta terça, que integram o primeiro relatório do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), que começaram a ser coletados em 2007, os quatro anorexígenos tiveram consumo de quase seis toneladas no ano passado. Deles, os mais consumidos foram, pela ordem: anfepramona (3 toneladas), sibutramina (1,8 tonelada), femproporex (1,04 tonelada) e mazindol (2 kg).

Os dados se referem às informações repassadas por 38.500 estabelecimentos farmacêuticos, cerca de 62% da rede privada no país. A Anvisa destacou que não é possível aferir se houve alta no consumo pois se trata do primeiro relatório.

Além dos quatro anorexígenos mais vendidos, a Anvisa também verificou dados de venda do antidepressivo fluoxetina (3,5 toneladas em 2009) e do estimulante metilfenidato (174 kg em 2009), para tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que faz parte do grupo das anfetaminas e também pode causar dependência devido ao uso abusivo.

Na avaliação da Anvisa, o SNGPC permite um maior controle para conter o uso abusivo de medicamentos. "Assegura um controle muito mais estrito e, conseqüentemente, promove o uso racional dos medicamentos que podem causar dependência física ou psíquica", diz a Anvisa em nota.

Maiores prescritores Ao analisar os dados do sistema, o órgão de vigilância sanitária verificou que entre os 10 maiores prescritores dos anorexígenos não estão profissionais ligados à área de endocrinologia, o que seria esperado.

O maior prescritor do femproporex é um dermatologista, conforme a Anvisa. Entre os dez maiores prescritores de sibutramina, está um médico do tráfego, que cuida da saúde de caminhoneiros e profissionais do trânsito. Entre os dez médicos que mais prescreveram anfepramona no Brasil no ano passado, estão um ginecologista e outro gastroenterologista. Entre os que mais prescrevem o emagrecedor mazindol há um pediatra.

A Anvisa disse que comunicou ao Conselho Federal de Medicina sobre os maiores prescritores dos medicamentos anorexígenos, para que seja investigado se há irregularidades.

Manipulados

Segundo dados da Anvisa, a anfepramona, também conhecida por dietilpropiona, é vendida pelo menos quatro vezes mais na forma manipulada do que na industrializada. "[Isso] pode ser justificado pela diferença de preço deste medicamento manipulado, que geralmente é muito menor que o preço dos produtos industrializados vendidos em drogarias e pela tendência de dosagem personalizada para cada paciente", diz nota da Anvisa. A sibutramina também é vendida mais na forma manipulada.

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