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Saúde

30% dos acidentes atendidos nos PS envolvem as mãos

Campanha de prevenção a acidentes domésticos alerta para os riscos a que crianças estão expostas

Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas (Foto: Arquivo Gazeta do Povo)

É com as mãos que nos defendemos das ameaças e situações de perigo. Por causa desse comportamento quase instintivo, elas costumam ser a parte do corpo mais exposta. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (ABCM), os acidentes envolvendo essa região representam 30% do total de atendimentos feitos nos pronto-socorros (PS) brasileiros. Em grande parte dos casos, as vítimas são crianças. No Hospital Universitário Cajuru (HUC), elas são responsáveis por 50% dos traumas em mãos.

No Hospital Evangélico, a situação não é diferente. De acordo com o diretor-clínico do hospital, Flamarion dos Santos Batista, o número de atendimentos cresce principalmente na época de festas. "Em junho, por causa das festas juninas, e no fim do ano os acidentes com rojões são muito freqüentes", conta. Dos 7.883 casos de queimados atendidos no Evangélico de janeiro até 16 de outubro deste ano, 1.198 (15%) tiveram as mãos atingidas – em um terço as vítimas foram crianças.

Um levantamento do Ministério da Saúde aponta que a cada ano são registradas 6 mil mortes e cerca de 140 mil internações na rede pública de crianças e adolescentes com até 14 anos, vítimas de acidentes domésticos, o que representa um custo de R$ 63 milhões para o Serviço Único de Saúde (SUS). Medidas preventivas simples poderiam reduzir esse número em até 90%. Com o objetivo de orientar os pais, a ABCM lançou neste mês, em todo o Brasil, a Campanha de Prevenção a Acidentes Domésticos, que se estenderá até o fim do período das férias escolares, em fevereiro.

Cozinha

Segundo a médica Giana Silveira Giostri, chefe do Serviço de Cirurgia de Mão do HUC e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, em 50% dos casos os ferimentos nas mãos acontecem dentro de casa. Os mais comuns são causados por portas e janelas (quando as mãos são esmagadas), objetos cortantes, vidros ou queimaduras. "A cozinha é o local mais perigoso. Não deixar facas nas gavetas mais baixas e utilizar copos e pratos de plástico são atitudes simples, mas que têm um papel fundamental na prevenção", afirma.

Foi por um descuido que o garoto Vítor, de 9 anos, cortou o dedo brincando com o primo mais velho na churrasqueira da casa dos avós, quando tinha 6 anos. Na época Vitor foi socorrido pelo avô, que limpou o ferimento e fez um curativo. "Achamos que estava resolvido, só que meses depois notamos que ele não conseguia dobrar o dedinho", conta a mãe, Viviane dos Santos. Ao consultar um especialista, foi constatado que com o corte o tendão havia se rompido. "Ele teve de passar por duas cirurgias para recuperar o movimento, uma em julho deste ano e outra na semana passada", conta Viviane.

Giana chama a atenção também para objetos perigosos como o ferro de passar e o fogão. "Quando estiver cozinhando é importante nunca deixar os cabos das panelas para fora, para que a criança não consiga puxar. Na lavanderia, o ferro de passar também deve ficar em um local fora de alcance. É preciso cuidar com o fio, para que a criança não puxe, pois o ferro pode cair em cima dela", explica. De acordo com chefe do Serviço de Queimados do Hospital Evangélico, Luiz Henrique Calomeno, o ferro e o forno juntos são responsáveis por 7% das queimaduras entre crianças na faixa dos dois anos de idade. "São queimaduras que podem ser graves, de segundo e até terceiro grau. Nessa idade a criança está aprendendo a andar e muitas vezes se apóia na tampa do forno. Como ela ainda não tem muito equilíbrio e tem medo de cair, continua se apoiando mesmo percebendo que está quente", explica. Segundo o médico, as queimaduras causadas por água quente são as mais freqüentes, respondendo por 20% dos casos. Em seguida vem as causadas por fogo (17%).

Um segundo de desatenção da mãe também foi suficiente para que a pequena Gabriela, de 1 ano e 4 meses, puxasse de cima da pia a xícara de chá quente. "Me afastei um pouquinho para pegar o açúcar, foi muito rápido", conta Patrícia Marques. Gabriela teve queimaduras de segundo e terceiro grau na mão e no pulso, ficou oito dias internada e talvez ainda precise passar por uma cirurgia.

Quedas

Além de cortes, queimaduras e esmagamentos, as fraturas também são bastante freqüentes entre crianças. De acordo com um levantamento feito pela ONG Criança Segura, as quedas são a principal causa de hospitalização na faixa etária de 0 a 14 anos, representando 55% das internações. Segundo a coordenadora regional da entidade, Alessandra Françóia, 63% dos ferimentos nos membros superiores são resultantes de quedas.

Por volta dos dois anos de idade, a criança começa a subir em cadeiras, sofás e armários. "Nessa idade ela não tem noção de perigo nem de altura", afirma o ortopedista Edílson Forlin, do Hospital Pequeno Príncipe. Na queda, a criança procura apoio com as mãos e é aí que acontece a maior parte dos ferimentos. Segundo o médico, a fratura do punho é a segunda mais freqüente entre crianças, ficando atrás apenas das fraturas da clavícula.

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