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Educação

800 alunos da Grande Curitiba têm aulas na hora do almoço

Enquanto a maioria dos estudantes está em casa almoçando, pelo menos 800 alunos de escolas da rede estadual de ensino em Curitiba e região metropolitana estão copiando lição, fazendo tarefas ou respondendo a questionários de provas. São crianças que, por falta de espaço nas escolas, estudam das 11 horas às 14h30 e freqüentam aulas aos sábados, para completar a carga horária exigida.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação (Seed), nove escolas do estado tinham o chamado turno intermediário em 2005, com 3.360 alunos matriculados. O número, no entanto, é diferente do informado à Gazeta do Povo em julho do ano passado pela diretoria técnica da Fundepar. Segundo o órgão, que é responsável por obras e pelo fornecimento de material aos colégios, cerca de 30 escolas tinham turnos extras por causa da falta de espaço para atender a demanda por vagas.

Não foram passadas informações sobre este ano. A reportagem enviou um e-mail na tarde de quarta-feira questionando o problema e a previsão de solução, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.

Rotina alterada

A criação de um quarto turno (além dos convencionais manhã, tarde e noite), no ano passado, vem movimentando a rotina da Escola Estadual Iara Bergmann, no bairro Sítio Cercado, em Curitiba. Pais de alunos já fizeram dois protestos e prometem mais barulho para pedir uma escola nova na região e acabar com o horário extra, que, segundo eles, causa muito transtorno para as crianças. "Eles têm dor de cabeça por causa da fome, as aulas são muito corridas e quem estuda à tarde sai quando já está escuro (às 18h30) e é muito perigoso", diz a dona de casa Vera Lúcia Soares Peres, avó de um dos 445 estudantes do colégio que têm aulas no horário de almoço. Todas as 13 turmas de 5.ª série da escola funcionam neste período.

Por não gostar da merenda escolar, Everton de Souza, 11 anos, almoça todos os dias às 10 horas. "Já fiz o almoço, comi e lavei a louça", diz, em frente à escola, a mãe do menino, Lúcia Helena Cunha de Souza, 51 anos. Na casa de Norma da Silva, 32 anos, a situação é inversa. "Ela vai almoçar só no meio do tarde", reclama, contando a rotina da filha. O resultado dos horários incomuns são reclamações freqüentes de dor de cabeça e falta de atenção nas salas de aula. "É comum eles ficarem mais agitados e comerem escondidos durante a aula. No ano passado, uma das professoras até levava bolachas para a turma não ficar com fome", conta a professora de Educação Artística, Merie Ziomek.

Os funcionários e professores da Escola Iara Bergmann contam que o turno intermediário acaba desestruturando todos os outros horários e provoca reclamações de todos os lados. De manhã, como as aulas se iniciam meia hora mais cedo, muitos alunos dormem em sala. À tarde, o fim das aulas por volta das 18h30 provoca reclamações quanto à insegurança. À noite, apesar do horário ser normal, é a falta de intervalo para limpeza que atrapalha. "São sete funcionários para limpar 19 salas em 30 minutos. Eles só conseguem dar uma varrida", diz a professora de Ciências, Márcia Ortiz.

No Colégio Ipê, em São José dos Pinhais, 210 alunos freqüentam o turno das 11 horas às 14h50 (como o horário é prolongado, não há necessidade de aulas aos sábados). "Aqui não há tanta queixa quanto à alimentação, porque eles aceitam bem a merenda", diz o orientador educacional da escola, Marcelo Ferreira. Como a escola tem apenas seis salas de aula, diz ele, o turno intermediário é praticamente inevitável. "Há anos é assim. Só me lembro de termos ficado um ano com o horário regular."

Ferreira confirma, no entanto, que para os professores o horário acaba sendo bastante corrido. "Temos no máximo 15 minutos para o almoço. Você não sente que respira. Não é apropriado para o rendimento do professor", afirma. A diretora da Escola Estadual Hilda Faria Franco (de Rio Branco do Sul), Luciana dos Santos, ameniza a situação do turno extra. Segundo ela, os cerca de 100 alunos do período adoram estudar neste horário. "Fica mais fácil para eles se deslocarem e não precisam acordar tão cedo", argumenta. A diretora diz que só falta um espaço adequado para os professores almoçarem e a rotina é mais corrida que o normal. "Mas uma nova sede deve ser construída, em breve", informa, sem dar uma previsão para a mudança. Pelo menos mais uma escola em Curitiba também trabalha com o turno no período do almoço. Na Escola Estadual Guilherme Pereira Neto, em Campo de Santana, 130 alunos estudam no horário intermediário. A direção da escola não foi encontrada para comentar o assunto.

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