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Aurora, de 98 anos, passou a viver com a filha, Maria Lúcia, após acidente e avanço do Alzheimer: autoestima prejudicada. | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Aurora, de 98 anos, passou a viver com a filha, Maria Lúcia, após acidente e avanço do Alzheimer: autoestima prejudicada.| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Cuidadores devem ter formação

Uma boa opção para famílias com falta de tempo para cuidar de um idoso é contratar um cuidador. Atualmente, a profissão não é regulamentada, e os cuidadores são classificados como empregados domésticos. No entanto, um projeto de lei do deputado Inocêncio Oliveira (DEM-PE), regulamentando a profissão, está para ser votado no Senado.

Na hora de escolher um cuidador, é sempre importante dar preferência aos que sejam formados. Diversos institutos e escolas oferecem cursos para cuidadores de idosos, com um currículo que inclui conhecimentos de farmacologia, psicologia, educação física e primeiros socorros, voltados especificamente para o idoso.

Além disso, é bom ficar de olho em quem está entrando em sua casa. "Você precisa fazer uma sondagem, ver como é o comportamento dessa pessoa", orienta a coordenadora do curso de cuidadores do Centro de Educação Anísio Pedrussi Noêmia Aparecida da Silva. É importante buscar antecedentes e recomendações de trabalhos anteriores, além de acompanhar de perto o trabalho do cuidador no primeiro dia.

Serviço

Para maiores informações sobre cuidadores, ligue no Disque Idoso, 0800-41-0001.

O fim da vida de um idoso é um teste difícil para muitas famílias. A doença pode afetar drasticamente a rotina e a estrutura familiar, até porque cuidar de alguém em estado terminal, ou mesmo dependente de ajuda externa, causa estresse. "A família altera sua dinâmica de vida, o que gera esgotamento em todos", afirma o geriatra José Mário Tupiná. "A gente diz que a família fica doente."

Para a psicóloga Sandra Moreira de Oliveira, antes de cuidar do idoso, é importante preparar psicologicamente a família e as outras pessoas ligadas com o dia-a-dia desse paciente. "A maior dificuldade em lidar com a morte está em cada um dos familiares", diz.

De acordo com a psicóloga, muitas vezes a família fica muito angustiada com a situação, e essa angústia acaba sendo transferida, direta ou indiretamente, para o idoso. "Se você se afeta pela a angústia do outro, não consegue ajudá-lo", explica Sandra.

"Primeiramente, cada um deve olhar para si e ver se está preparado para lidar com essa situação", aconselha a psicóloga. Além disso, é fundamental dividir a função de cuidar do paciente. Em muitas famílias, apenas uma pessoa acaba tomando conta sozinha do doente, o que põe em risco a saúde mental do próprio cuidador.

Autoestima

A preparação para enfrentar a doença de um parente próximo não é tão simples. "A maior dificuldade é aceitar que a pessoa tem uma doença", conta a bibliotecária aposentada Maria Lúcia Castro. A mãe dela, Aurora, de 98 anos, sofre de Alzheimer. O problema, diagnosticado há cinco anos, começou a se manifestar após um acidente ocorrido no pátio do edifício onde Aurora vivia: ela caiu, ao sair sozinha para pegar o jornal, e fraturou a bacia.

Para a filha, a queda na autoestima foi decisiva para o agravamento de sua condição mental. "Com o acidente, ela teve de reconhecer que não tinha mais autonomia. Ela me disse numa ocasião: ‘Eu pedi desculpas ao meu espelho por ter virado uma velha feia’. Foi a frase mais triste que eu já ouvi na minha vida", relata Maria Lúcia.

A aposentada diz que a mãe não queria morar com ninguém e, mesmo contra os conselhos da família, gostava de sair sozinha de casa, como no dia em que se acidentou. Atualmente, Aurora vive junto com a filha.

Embora os idosos apresentem resistência em aceitar essa condição, com o avanço da idade, é natural que indivíduo precise de ajuda para executar tarefas rotineiras, como ir ao banheiro ou fazer uma refeição. E tornar-se dependente afeta profundamente o bem-estar do idoso. "Ficar refém do outro é algo que atemoriza a todos nós", afirma Sandra.

Mudança de casa

Para o idoso, a melhor alternativa é ficar na sua própria casa. "Ele deve sentir que, independentemente do seu estado de saúde, está em seu lugar", explica Tupiná. Até mesmo uma mudança para a casa de um parente, por exemplo, pode acentuar seu mal-estar, mas muitas vezes esse é o único caminho possível.

Por outro lado, a família que recebe um idoso fragilizado precisa estar preparada para a mudança na rotina. Maria Lúcia observa que a decisão deve ser tomada em conjunto com todos os moradores, pois a presença do idoso dependente afeta toda a dinâmica da casa.

Quando a família não consegue se adaptar, às vezes é preciso recorrer a instituições de longa permanência, como asilos ou clínicas de repouso. "Muitas vezes, para que o idoso tenha uma melhor assistência, é melhor colocá-lo numa clínica de repouso", afirma Sandra.

Apesar de contar com essa assistência especializada, é bom lembrar que o idoso perde sua privacidade e individualidade nos asilos, além de rejeitar, muitas vezes, ser retirado de casa pelos próprios parentes. O internamento não pode isolar o paciente. As famílias precisam visitar constantemente o idoso para garantir o devido suporte afetivo. Para Tupiná, esse suporte é tão ou mais importante do que as providências médicas. "Sentar ao lado do paciente, segurar na mão e falar palavras de conforto já é fazer muito", conta. "A nossa obrigação é manter a dignidade do paciente."

Cuidados básicos

Algumas providências são importantes na hora de cuidar de idosos. Primeiro, é crucial ter cuidado com a higiene. A pele é mais sensível e precisa estar sempre limpa. A higiene bucal deve ser observada, pois há o risco de infecções que podem agravar seu quadro clínico.

Outro ponto muitas vezes esquecido é a hidratação. "Os idosos raramente pedem água", conta o geriatra José Mário Tupiná. No entanto, a desidratação é um fator complicador na hora de se aplicar analgésicos, por exemplo. Por isso o consumo deve ser rigorosamente controlado.

"No caso de doentes que perderam a lucidez ou a fala, é preciso ter sensibilidade suficiente para detectar se está ou não sofrendo", alerta Tupiná. Alterações de comportamento, assim como suor, palidez, diminuição da temperatura do corpo e aumento de batimentos cardíacos podem indicar sofrimento. "O responsável deve estar em sintonia com o médico para que ele antecipe os sintomas", explica Tupiná.

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