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hidrelétrica

A “Itaipu” do início do século passado

Em Ponta Grossa, a Usina Pitangui funciona desde 1911, e agora conta com apenas um funcionário

Usina Hidrelétrica de Pitangui ainda produz energia: no começo do século passado, ela era capaz de acender 2 mil lâmpadas | Fotos: Josue Teixeira/Gazeta do Povo
Usina Hidrelétrica de Pitangui ainda produz energia: no começo do século passado, ela era capaz de acender 2 mil lâmpadas (Foto: Fotos: Josue Teixeira/Gazeta do Povo)
Alceu Mário Sagais, o único funcionário da usina, onde está há 33 anos: orgulho de trabalhar na

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Alceu Mário Sagais, o único funcionário da usina, onde está há 33 anos: orgulho de trabalhar na

Entrar no prédio da Usina Hidrelétrica Pitangui, em Ponta Grossa, é voltar um século. Três das quatro turbinas estão ali desde julho de 1911, quando foi inaugurada a barragem das águas do rio que batiza a hidrelétrica. Antes disso, a eletricidade consumida em Ponta Grossa vinha de uma usina termelétrica a vapor, inaugurada em 1905, que acabou apresentando problemas. Nesse cenário, a usina Pitangui revolucionou a forma de produzir energia na região. Uma central como essa, com potência de 0,87 megawatts (MW), não representa muita coisa hoje, mas, em 1911, trouxe grandes benefícios para a região.

Naquela época, a energia de Pitangui era capaz de acender duas mil lâmpadas elétricas entre 16 e 25 watts (W), sendo que a cidade tinha apenas 300 lâmpadas. Segundo o assessor da diretoria de geração e transmissão da Companhia Paranaense de Energia (Copel), Robson Schiefler, essa sobrecapacidade tinha o propósito de incentivar as pessoas a consumirem energia elétrica. Em nota, o jornal ponta-grossense O Progresso de 27 de junho de 1912 registra alguns avanços conquistados com a nova usina: "Em Ponta Grossa, pode haver relativo conforto nas habitações até dos pobres. Em algumas casas de família o ferro de engommar a carvão foi substituído pelo electrico, nickelado, limpo e aquecido em cinco minutos".

Alceu Mário Sagais é hoje o único funcionário da usina, onde trabalha há 33 anos. "Para a época em que foi construída, isto era uma Itaipu", brinca o homem que conhece como ninguém os detalhes da hidrelétrica mais antiga do estado ainda em operação. As coisas nem sempre foram assim. Ele conta que, hoje, o dia a dia é mais tranquilo, já que parte dos procedimentos pode ser feita pelo computador. Entretanto, ele ainda usa, e muito, a força dos braços.

Diferentemente das grandes usinas, Pitangui opera apenas no horário comercial, entre as 8h e as 17 h. Alceu chega cedo ao local e aciona manualmente a única turbina que está funcionando no momento. As outras três, mais antigas, ainda precisam de alguns reparos para poder voltar a operar. A cada 15 minutos, o computador atualiza o nível que aparece marcado na régua que mede a altura da água. Até pouco tempo, esse trabalho era feito na base do caderninho.

Pitangui se tornou propriedade da Copel em 1973 e, durante cerca de 10 anos, foi arrendada para outra empresa. Foi nessa época, em 1978, que Alceu passou a fazer parte da equipe de cinco funcionários da pequena central. Como tudo era manual, explica ele, era necessário ter uma equipe de homens cuidando da operação. "Atualmente, sou o único empregado da Copel aqui e dou conta do recado", afirma com orgulho.

Restauração

Justamente no ano do centenário, no mês de julho, a usina foi atingida por cheias: a água passou dos dois metros de altura no interior do prédio que abriga o maquinário. Alceu conta que não estava no dia, mas foi chamado às pressas para ajudar. "Não adiantou muita coisa eu vir pra cá. O nível da água estava tão alto que eu não consegui atravessar o rio. O pessoal da hidrelétrica de São Jorge, que fica poucos quilômetros rio acima, foi quem chegou a tempo de fazer alguma coisa."

Passadas as cheias, o prédio e o maquinário da usina passaram por um processo de revitalização. As máquinas, já deterioradas pelo tempo, ganharam manutenção e nova pintura. "As coisas mudaram, se modernizaram, mas aqui ainda é um lugar onde olhar para o céu ajuda a prever alguma cheia", arremata Alceu.

Cidades surgiam antes da energia

O jornalista de Maringá Rogério Recco, fez uma expedição em todo o Paraná para contar a história da energia elétrica no estado. A ideia surgiu para preencher uma lacuna sobre o assunto. Em um ano de viagens e visitas ele coletou o material que deu origem ao livro Clareira Flamejante: o Norte do Paraná antes e após o advento da energia elétrica, lançado em 2007. Para chegar à Região norte, porém, ele teve de passar pela história das usinas pioneiras do estado, entre o litoral e a região de Curitiba.

Na capital, a energia elétrica começou a ser gerada em 1892, por meio da Usina Termelétrica de Capanema, num tempo em que a cidade não tinha nem 40 mil habitantes. Segundo o levantamento de Recco, só 18 anos depois – em 1910 – foi instalada a primeira usina hidrelétrica do Paraná: Serra da Prata, em Pa­­ranaguá. Pitangui surge um ano mais tarde e coloca Ponta Grossa à frente de diversas cidades.

Segundo Recco, até a criação da Copel, em 1954, diversas empresas eram responsáveis pela geração e pela distribuição de energia no estado. "A primeira cidade a ser abastecida pela Copel foi Maringá. Sua ligação se deu no dia 1.º de agosto de 1956. Na mesma data, seriam ligadas também Apuca­­ra­­na, Pirapó, Mandaguaçu, Cambira e Campo Mourão. Maringá, no entanto, só teria energia elétrica abundante em 1962, quando o governador Ney Braga inaugurou a subestação situada no Jardim Alvorada", relata.

Recco afirma que o fato de a Copel começar operando no Norte do estado não foi por acaso. "A região estava se urbanizando rapidamente. As cidades surgiam an­­tes da energia elétrica." Na opinião dele, a companhia surgiu para organizar o sistema de geração e transmissão, além de ter um papel decisivo na fase de crescimento que o Paraná experimentou na época. Segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvol­­vimento Econômico e Social (Ipardes) levantados por ele, entre 1959 e 1970, o estado passou de 6,4 mil para mais de 10,8 mil unidades fabris.

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