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Cerejeiras seriam retiradas para dar espaço aos ônibus | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Cerejeiras seriam retiradas para dar espaço aos ônibus| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Cidadania

Mobilização contrasta com a situação de praças centrais

O apreço para preservar a Praça do Japão e mobilizações recentes em torno da Pracinha do Batel e da Praça da Espanha contrastam com a atual situação de praças centrais de Curitiba, que sofrem com esvaziamento, degradação e consumo de drogas.

Para o arquiteto Orlando Pinto Ribeiro, a diferença é provocada pela atual dinâmica da cidade. "As praças do Centro são lugares de passagem e não lazer. Então não criam uma sensação de pertencimento, como existe nos frequentadores das Praças da Espanha e do Japão". Para referendar o argumento, cita o fato de as praças Tiradentes, Carlos Gomes e Rui Barbosa abrigarem pontos de ônibus, funcionando como terminal a céu aberto. A arquitetura desses locais, que aplicam o modelo de praça-jardim com pouco piso duro, também afasta frequentadores.

O interesse pelas praças também acompanha a mudança no cenário imobiliário. Nos últimos 60 anos, a alta renda mudou-se do Centro para os bairros do entorno, como Batel e Água Verde e Jardim Social.

Moradores dessas regiões valorizadas tendem a possuir informação e influência política na administração pública. A organização em condomínios, em que uma pessoa é facilmente identificada como representante de dezenas, facilita o diálogo de vizinhança. "Temos um exemplo recente: em frente ao Passeio Público, assim que começaram as obras de um grande prédio residencial, os bares pé-sujo e cinemas pornô iniciaram uma retirada", cita Orlando.

O maior ônibus do mundo tem dificuldade para fazer contornos, tanto que está entalado há dez meses na curva em "S" que circunda a Praça do Japão, no bairro Água Verde, em Curitiba. A passagem do Ligeirão pelo local gerou uma reação dos moradores e frequentadores da região, ciosos da praça que viria a perder parte da área verde para o transporte coletivo. A mobilização resultou em 17 mil assinaturas num abaixo-assinado, audiências públicas com centenas de pessoas e a suspensão do projeto, que voltou para as pranchetas do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Mais que isso, mostrou que a cultura intramuros dos condomínios ainda tem pontos de resistência.

Tudo começou quando a direção da Escola Santa Terezinha do Menino Jesus, localizada na Avenida Sete de Setembro, a uma quadra da praça, recebeu uma solicitação da prefeitura para mudar a entrada da escola para a transversal Rua Padre Ildefonso, pois uma estação-tubo seria instalada na Sete. A notícia foi comentada no pátio e corredores da instituição, até ser levada por um aluno até a família, moradora de um prédio no entorno da praça. O assunto foi levantado na reunião de condomínio. O advogado Marcelo Caron Baptista, também morador da região, foi atrás de informações sobre o projeto e descobriu que o trajeto do Ligeirão previa um contorno pelo início da Avenida República Argentina, que seria alargada.

"Ninguém avisou a comunidade. Seria uma obra feita de forma arbitrária, durante o período de férias, nos primeiros dias do ano", ressalta Marcelo. Após uma reunião pouco frutífera entre moradores e a direção da Urbs, o grupo passou a organizar uma abaixo-assinado contra a obra. Eram tempos de mudança na administração municipal. Com o novo presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Júnior, anunciado mas não empossado, o grupo de moradores chegou até ele e obteve garantias de que a obra não seria inaugurada antes da realização de uma audiência.

A disputa ganhou os olhos da cidade, e alguns viram nela uma repulsa da classe média-alta moradora da região em relação à média-baixa passageira de ônibus, usando como pretexto alguns metros de paisagem.

Em fevereiro, a prefeitura deu garantias oficiais de que não faria alterações na praça. As obras de desalinhamento desde o Terminal do Cabral até a estação Bento Viana, logo antes da praça, estão previstas para serem concluídas no mês que vem. A partir dela, o desalinhamento faz parte de um novo lote ainda não licitado, pois depende do novo projeto para o contorno. Segundo a prefeitura, essa divisão de lotes já existia antes da manifestação dos moradores.

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