
Enquanto o presidente norte-americano Barack Obama anuncia tempos bicudos para a sua era, e os economistas do lado de cá do Equador avisam para que as contas sejam acompanhadas à risca, a moda recomenda prudência. Justo ela, que sempre foi de provocar uma reviravolta nas tendências a cada estação. Só que isso já tem acontecido há algum tempo. Seria a moda se antecipando à crise econômica mundial? Foi isso que se viu no Fashion Rio, o primeiro evento do calendário nacional da moda, que ocorreu semana passada na capital carioca: prudência, ideias de coleções passadas reeditadas e uma sensação de déjà vu.
A jornalista de moda Glória Kalil clamou pelas surpresas que não vieram. As listas sobre o que vai se usar no próximo inverno estão cheias de roupas do inverno passado e algumas adaptações deste verão. O que acaba servindo para quem costuma reaproveitar o que tem em casa e, com alguns pequenos toques, renovar a produção. Que tal, por exemplo, juntar a batinha folk que se está usando agora no calor a um casacão de tricô bem artesanal? A passarela carioca teve isso. Alguns estilistas, como o paulistano Walter Rodrigues e a mineira Graça Ottoni, olharam para suas próprias histórias, conversaram com as formas e até com os materiais que já foram utilizados. Graça retirou do seu baú lingeries antigas e usou-as aos pedaços na nova coleção. E assim conceitos de reciclagem e economia vão sendo incorporados à moda.
A estrutura do evento também pareceu aos olhos dos visitantes mais enxuta. Com o mesmo número de tendas de desfiles e uma cenografia externa mais destacada (desta vez, a Marina da Glória foi coberta por grandes painéis estampados com os arcos da Lapa), não houve lounges muito elaborados nem badalação pelos corredores. As grifes também apertaram o cinto e economizaram na ambientação dos desfiles, a maioria deles com cenários muito simples, poucos brindes para o público e atrações especiais comuns em outras edições uma das exceções ficou por conta do estilista Victor Dzenk, que comemorou na passarela seus dez anos de carreira, com tango ao vivo, alfajores para os visitantes e cerveja argentina. Houve também uma redução na agenda de desfiles externos do Fashion Rio, que antes costumavam mostrar a cidade maravilhosa aos fashionistas. Desta vez foram só dois: um da Redley na Floresta da Tijuca e outro da Printing num galpão no centro da cidade. A contenção de gastos seria tanta que houve um boato de que os cachês das modelos foram congelados nesta temporada. No entanto, a notícia não foi confirmada.
A diretora do evento, Eloysa Simão, nega os sinais da crise. Mesmo a saída da Oi do evento empresa de telefonia que, até a edição passada, era uma das principais patrocinadoras foi considerada apenas como o término de mais um contrato. Segundo Eloysa, o objetivo do evento não é lucro direto, mas fortalecer a marca Fashion Rio e imprimir os valores da moda brasileira no cenário mundial. "Isso continuamos fazendo. O importante é ressaltar que a crise não afeta quem trabalha. Esta foi inventada e está sendo sentida pelos especuladores", diz ela. "O mercado de moda não estava superaquecido. O evento será um termômetro para avaliar como estamos, mas a expectativa é de que atingiremos pelo menos os mesmos índices do ano passado."
Com o tema Carmen Miranda, começa hoje a edição de outono/inverno da São Paulo Fashion Week, no prédio da Bienal, na capital paulista.



