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Fashion Rio

A moda aperta o cinto

Primeiro evento do calendário nacional da moda mostrou saídas criativas para se vestir e fazer desfile em tempos de crise

A estilista Graça Ottoni reciclou lingeries em algumas peças de sua coleção. | Bruno Domingos/Reuters
A estilista Graça Ottoni reciclou lingeries em algumas peças de sua coleção. (Foto: Bruno Domingos/Reuters)

Enquanto o presidente norte-americano Barack Obama anuncia tempos bicudos para a sua era, e os economistas do lado de cá do Equador avisam para que as contas sejam acompanhadas à risca, a moda recomenda prudência. Justo ela, que sempre foi de provocar uma reviravolta nas tendências a cada estação. Só que isso já tem acontecido há algum tempo. Seria a moda se antecipando à crise econômica mundial? Foi isso que se viu no Fashion Rio, o primeiro evento do calendário nacional da moda, que ocorreu semana passada na capital carioca: prudência, ideias de coleções passadas reeditadas e uma sensação de déjà vu.

A jornalista de moda Glória Kalil clamou pelas surpresas que não vieram. As listas sobre o que vai se usar no próximo inverno estão cheias de roupas do inverno passado e algumas adaptações deste verão. O que acaba servindo para quem costuma reaproveitar o que tem em casa e, com alguns pequenos toques, renovar a produção. Que tal, por exemplo, juntar a batinha folk que se está usando agora no calor a um casacão de tricô bem artesanal? A passarela carioca teve isso. Alguns estilistas, como o paulistano Walter Rodrigues e a mineira Graça Ottoni, olharam para suas próprias histórias, conversaram com as formas e até com os materiais que já foram utilizados. Graça retirou do seu baú lingeries antigas e usou-as aos pedaços na nova coleção. E assim conceitos de reciclagem e economia vão sendo incorporados à moda.

A estrutura do evento também pareceu aos olhos dos visitantes mais enxuta. Com o mesmo número de tendas de desfiles e uma cenografia externa mais destacada (desta vez, a Marina da Glória foi coberta por grandes painéis estampados com os arcos da Lapa), não houve lounges muito elaborados nem badalação pelos corredores. As grifes também apertaram o cinto e economizaram na ambientação dos desfiles, a maioria deles com cenários muito simples, poucos brindes para o público e atrações especiais comuns em outras edições – uma das exceções ficou por conta do estilista Victor Dzenk, que comemorou na passarela seus dez anos de carreira, com tango ao vivo, alfajores para os visitantes e cerveja argentina. Houve também uma redução na agenda de desfiles externos do Fashion Rio, que antes costumavam mostrar a cidade maravilhosa aos fashionistas. Desta vez foram só dois: um da Redley na Floresta da Tijuca e outro da Printing num galpão no centro da cidade. A contenção de gastos seria tanta que houve um boato de que os cachês das modelos foram congelados nesta temporada. No entanto, a notícia não foi confirmada.

A diretora do evento, Eloysa Simão, nega os sinais da crise. Mesmo a saída da Oi do evento – empresa de telefonia que, até a edição passada, era uma das principais patrocinadoras – foi considerada apenas como o término de mais um contrato. Segundo Eloysa, o objetivo do evento não é lucro direto, mas fortalecer a marca Fashion Rio e imprimir os valores da moda brasileira no cenário mundial. "Isso continuamos fazendo. O importante é ressaltar que a crise não afeta quem trabalha. Esta foi inventada e está sendo sentida pelos especuladores", diz ela. "O mercado de moda não estava superaquecido. O evento será um termômetro para avaliar como estamos, mas a expectativa é de que atingiremos pelo menos os mesmos índices do ano passado."

Com o tema Carmen Miranda, começa hoje a edição de outono/inverno da São Paulo Fashion Week, no prédio da Bienal, na capital paulista.

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