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Queda-de-braço entre o dinheiro e o campo

A Revolta dos Colonos foi o estopim de um conflito agrário provocado pelo monopólio fundiário. Em 1938, o presidente da República, Getúlio Vargas, criou a Marcha para o Oeste, uma política para colonização das fronteiras agrícolas do país. Em 1943, por meio de um decreto federal, foi estabelecida a Colônia Agrícola Nacional General Osório (Cango) para ocupar uma faixa de 60 quilômetros de fronteira na região de Barracão e Santo Antônio.

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Expectativa é receber 15 mil pessoas

Há uma semana para a realização da 22.ª Romaria da Terra, a população da região Sudoeste está em clima de expectativa. Pelo menos 700 pessoas em todo o estado estão trabalhando para organizar o evento em Francisco Beltrão. Estão sendo esperadas 15 mil pessoas e 300 ônibus de todas as partes do Paraná.

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Francisco Beltrão – A história de vida do aposentado José Santolin, 81 anos, confunde-se com a da região Sudoeste. Aos 32 anos, o gaúcho de Bento Gonçalves, atraído ao Paraná com a família pela esperança de um futuro promissor, trocou a enxada pelas espingarda. Assim, integrou um exército formado por cerca de 6 mil agricultores responsáveis pelo mais expressivo movimento social rural registrado no Brasil na década de 50: a Revolta dos Colonos.

O levante mobilizou agricultores das principais localidades do Sudoeste. Caravanas de homens armados com espingardas, paus e pedras saíram de Santo Antônio, Verê, Capanema, Pranchita, Dois Vizinhos e outros lugares, rumo a Francisco Beltrão. Os manifestantes chegavam a pé, a cavalo ou em caminhões para ocupar a cidade e expulsar as companhias colonizadoras que dificultavam o acesso aos títulos de propriedade de sítios e fazendas.

Santolin e inúmeros agricultores anônimos, que deram a vida para manter a própria terra, comemoram este ano o cinqüentenário do movimento, ocorrido em 10 de outrubro de 1957. Os 50 anos da Revolta dos Colonos será um dos destaques da 22.ª Romaria da Terra, que ocorre em Francisco Beltrão no próximo domingo, dia 19 de agosto.

A revolta remonta à colonização paranaense. A maioria dos colonos – ou posseiros, como também eram conhecidos – migrou do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em busca de um pedaço de chão em terras paranaenses para plantar e colher. Santolin foi um deles. Mas a partir dos anos 40, ele e os demais agricultores teriam sido enganados e perseguidos por jagunços das companhias colonizadoras e se viram obrigados a pagar pelo título das propriedades que já ocupavam. Passados anos de humilhação, tristeza e até registro de mortes violentas de inocentes, e sem ter apoio de autoridades policiais ou judiciárias da época, só restou aos colonos a união para reivindicar os próprios direitos. Daí surgiu o levante que resultou na ocupação de Francisco Beltrão no dia 10 de outubro de 1957 e na expulsão das companhias colonizadoras. Por fim, a conquista definitiva da documentação das propriedades.

Santolin, hoje aposentado, divide o tempo entre a família e os bailes da terceira idade. Mas daquela época ele nunca se esquece. Bem disposto, conta em detalhes os episódios da época e o desespero que os agricultores passavam. "Nós íamos reclamar para quem? O prefeito, o delegado, juiz e governador eram todos a favor das companhias colonizadoras", diz.

Hoje, o ex-combatente faz uma análise madura do movimento. Para ele, a causa da revolta foi a violência física praticada pelos jagunços contratados pelas companhias. "Eles entravam nas propriedades, queimavam galpões, casas, matavam as criações, violentavam as mulheres", lembra.

As cenas do dia da revolta ainda estão vivas na memória de Santolin. Ele lembra quando chegou à praça de Francisco Beltrão com uma espingarda 16, um revólver e uma faca com bainha de prata, em cima de um caminhão. Foi recrutado para comandar 30 homens. "Eu fiquei para tomar a prefeitura e a delegacia. Tinha policiais para tomar conta, mas eles se entregaram. Aí o prefeito fugiu, o promotor se escondeu, o juiz e o delegado sumiram," conta.

Passada a batalha, Santolin conseguiu o direito de posse de um sítio na comunidade de São Miguel, em Francisco Beltrão. Viveu os últimos 50 anos em plena tranqüilidade. "Depois da revolta, tudo ficou um paraíso", diz.

Para o coordenador diocesano da Pastoral da Terra e um dos organizadores da Romaria, padre Geremias Steinmetz, a Revolta dos Colonos colaborou para traçar as características dos moradores da Região Sudoeste, entre elas a de organização. "O Sudoeste continua sendo uma região de pequenas propriedades e da agricultura familiar, já defendidas na época", diz.

Na opinião do professor de História da Unipar de Francisco Beltrão, Ismael Antonio Vanini, a Revolta dos Colonos foi o principal movimento paranaense de luta pela terra e o único de proporção nacional que foi vitorioso na época. "Não havia cunho religioso, um messias, mas sim um ideal pela posse da terra", diz.

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