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Segurança

A tragédia da juventude brasileira

Estudo mostra que, se nada for feito, Brasil verá 33 mil adolescentes serem mortos em sete anos. Foz do Iguaçu tem os piores números do país

Crime em Foz do Iguaçu: assassinatos na periferia da cidade são uma constante | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Crime em Foz do Iguaçu: assassinatos na periferia da cidade são uma constante (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
Veja os números do Índice de Homicídios na Adolescência |

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Veja os números do Índice de Homicídios na Adolescência

Foz do Iguaçu e Curitiba - Os números são estarrecedores: em sete anos, a estimativa é de que 33 mil adolescentes brasileiros sejam assassinados. É como se a cada 17 dias caísse no país um avião como o da Air France – que matou 228 passageiros em maio passado – só que levando apenas meninos e meninas entre 12 e 18 anos de idade. A violência é suficiente para acabar com a vida de um a cada 500 adolescentes no país.

Os dados fazem parte de um estudo inédito divulgado ontem pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), pelo governo federal, pela Unicef e pela organização não-governamental Observatório de Favelas. O índice foi baseado nas informações das 267 cidades brasileiras que têm mais de 100 mil habitantes. Os dados que basearam a pesquisa são de 2006 e colocam uma cidade paranaense como o local com maior número de crimes contra jovens no país: Foz do Iguaçu aparece com 9,7 mortes para cada grupo de mil adolescentes. Isso quer dizer que 1% dos jovens de 12 a 18 anos morre assassinado na cidade.

Para a socióloga especialista em Violência e Juventude Miriam Abramovay, da Rede de Infor­mação Tecnológica Latino-Ame­ricana (Ritla), o cenário é de guerra. "A sociedade presta pouca atenção aos jovens. Eles morrem mais do que matam. Temos de pensar muito bem como vamos economizar essas vidas", diz.

O estudo mostra que o homicídio responde por 46% das causas de mortes entre adolescentes. E que esses assassinatos, em sua maior parte, são cometidos por armas de fogo.

Reportagem da Gazeta do Povo, publicada em 11 de julho, mostrou que o número de homicídios entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos dobrou no Paraná entre 2000 e 2006, segundo relatório do Unicef. A relação com o tráfico de drogas estava entre os principais motivos apontados.

Na opinião da gerente de projetos do Unicef, Helena Oliveira, uma das coordenadoras da pesquisa, vários aspectos podem explicar as causas da mortalidade entre os adolescentes. "De uma maneira geral, quanto maior for a desigualdade num território, mais violento ele será. Não podemos dizer que é só o tráfico", diz. Já Carmen Oliveira, subsecretária de promoção dos Direitos da Criança e do Ado­lescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre­si­dência da República, cita a evasão escolar como uma das causas. "Muitos chegam a ter a vida perdida por serem usuários de drogas ou por exploração sexual", diz.

As especialistas defendem um controle maior da circulação de armas para reduzir os índices de mortalidade entre adolescentes. "Ainda há muita facilidade para se comprar armas, mesmo depois do desarmamento da população. A arma também significa uma forma de poder. Quando existe essa necessidade por parte dos jovens é porque faltaram oportunidades para que eles demonstrassem outras coisas positivas", diz Miriam Abramovay.

Negros

O risco de ser assassinado no Brasil é 2,6 vezes maior entre adolescentes negros do que entre brancos. A pesquisa também indica que, para adolescentes do sexo masculino, o risco de ser assassinado é 11,9 vezes maior se comparado ao de mulheres na faixa de 12 a 18 anos. O estudo traz apenas comparativos por cor e gênero e não apresenta os índices de mortes entre jovens negros, brancos, do sexo masculino e feminino. A coordenadora do Programa de Redução da Vio­lência Letal do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, traçou um perfil dos adolescentes que mais morrem por homicídio no Brasil: são meninos, negros e moradores de favelas ou de periferias dos centros urbanos.

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