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Infância em risco

Ação social não tira crianças das ruas

Comportamento das famílias e falta de estrutura em Foz do Iguaçu comprometem Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

Crianças são abordadas por assistente social em Foz: adesão ao programa é pequena na fronteira | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Crianças são abordadas por assistente social em Foz: adesão ao programa é pequena na fronteira (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)

Foz do Iguaçu - Nem mesmo projetos sociais conseguem tirar crianças e adolescentes das ruas em Foz do Iguaçu. Levantamento da Secretaria de Ação Social indica que pelo menos 20% das 340 crianças atendidas com bolsas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) ainda perambulam pela cidade para trabalhar.

São meninos e meninas de até 16 anos que deveriam estudar, frequentar jornadas esportivas e culturais no contraturno escolar para não ficar nas esquinas ou em semáforos vendendo doces ou CDs, nos fins de semana ou à noite. As famílias com filhos inscritos no Peti recebem R$ 60,00 por mês justamente para evitar que eles trabalhem.

Diversos fatores têm contribuído para manter crianças e adolescentes trabalhando nas ruas de Foz do Iguaçu. A chefe da Divisão de Proteção Especial da Secretaria de Assistência Social municipal, Fátima Dalmagro, diz que a negligência dos pais é um deles. Na avaliação dela, algumas famílias tem uma visão distorcida do trabalho infantil. "Em nossa região, o trabalho infantil tem um aspecto diferente do que em outros estados. As famílias do Sul não têm a mentalidade de que estão explorando os filhos, caso eles trabalhem com carvão, cana ou vendendo doce", diz.

Fátima explica que as crianças do Peti flagradas trabalhando, em geral, são de famílias que apresentam comportamento vicioso. A maioria coloca os filhos para vender alimentos, CDs ou cuidar de carros e não vê risco na atividade.

Outro problema é o funcionamento parcial das jornadas do Peti em Foz do Iguaçu. Atualmente, há nove instituições na cidade que atendem crianças inscritas no programa, incluindo entidades públicas e não-governamentais. No entanto, por falta de estagiários, nem todas as jornadas estão funcionando. Estima-se que apenas 80 crianças inscritas no Peti, de um universo de 500 (entre aquelas com famílias que recebem e não recebem bolsas) frequentam o projeto.

As crianças do Peti flagradas trabalhando ou desacompanhadas são encaminhadas imediatamente às famílias. A mãe ou responsável é convocado a comparecer ao Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) para conversar com assistentes sociais e psicólogas. Se o problema não é solucionado, o caso é levado ao Conselho Tutelar.

A Secretaria de Ação Social está realizando uma campanha em Foz do Iguaçu para resolver a situação. O objetivo é abordar as crianças, enviá-las de volta para casa e orientar os pais. O trabalho também quer conscientizar a população a não fornecer alimentos e dinheiro aos meninos e meninas.

Exemplo

O comerciante Abdul Arabi sentiu os reflexos do trabalho infantil na porta do seu estabelecimento. À noite, crianças costumavam circular com frequência entre as mesas de sua lanchonete, na Vila A, para pedir comida e dinheiro aos clientes. Do outro lado da avenida, o problema persistia. Um grupo de adolescentes rondava motoristas para cuidar dos carros.

A situação começou a incomodar os clientes porque os meninos ameaçavam riscar carros. Um deles ainda circula pelo local, armado com faca e canivete. O problema foi resolvido recentemente, depois que um adulto começou a cuidar dos veículos estacionados em frente à lanchonete. "Quando íamos falar alguma coisa eles xingavam’", diz.

Na avaliação do educador Mário Dalzotto, a criança sente-se bem na rua porque tem liberdade. "Muitas vezes, quando conhecemos algumas casas, notamos porque as crianças estão na rua. Há desestruturação familiar, pais alcoólatras, violência. Uma situação degradante. Por isso aos poucos as crianças vão perdendo a autoestima e sendo adotadas por traficantes", analisa.

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