Luana (nome fictício), enfermeira, 21 anos.
"O aborto não é uma decisão fácil. É o desespero que leva a essa decisão. Fazia dois meses que eu tinha acabado um noivado, quando me envolvi com outro homem. Ficamos juntos um mês e terminamos. Um mês depois descobri que estava grávida. Fiquei louca, transtornada. O que eu ia fazer? Como eu ia contar para minha família que eu estava grávida de alguém que nem eu mesma conhecia direito?
Resolvi tomar o Cytotec. Comprei quatro comprimidos. Tomei dois e outros dois coloquei na boca do útero. Tive muita cólica. Naquela mesma noite tive também hemorragia. Achei que tinha perdido, mas, quando estava completando uma semana que eu tinha tomado o remédio, eu senti cólica novamente. Passei a noite andando de um lado para outro e tomando remédio: usei um vidro de paracetamol e um de atroveran. Já era umas 6h30 da manhã, quando eu não aguentava mais.
Tive vontade de fazer xixi, fui ao banheiro e a criança desceu na privada. O bebê entalou e eu tive que pedir ajuda para puxar. Foi então que descobri que eu não estava grávida de um mês como eu imaginava, mas, sim, de cinco meses eu não descobri que estava grávida antes porque menstruava normalmente todo mês. O bebê já tinha até sexo: era um menino. Ele já estava todo formado e era grande. Tinha mais ou menos 15 cm e acredito que tinha um pouco menos de 1 kg.
Senti-me muito mal no momento, por ter feito aquilo a uma criança tão inocente. O neném era do meu noivo, na verdade. Ele nunca soube disso. Só quem sabe a verdade é minha irmã, que me acompanhou quando eu passei mal. Como perdi muito sangue tive de ir para o hospital pra fazer uma curetagem. Eu tive muita sorte também, pois eu tomei o remédio e a criança desceu uma semana depois. Ela poderia ter apodrecido dentro de mim.
Isso aconteceu no dia 10 de março. Nunca vou esquecer. Hoje tento não pensar nisso e não gosto de falar sobre o assunto, pois vem uma sensação muito ruim, de culpa. Ao mesmo tempo, eu acho que fiz a melhor coisa, pois hoje sou solteira e moro sozinha. Na época, eu tinha 18 anos e hoje tenho 21. Hoje já não sei se teria tomado a mesma atitude, pois muita coisa mudou. Não condeno quem faz, pois, como já disse, é uma decisão difícil e a maioria faz pelo desespero, por ser muito nova ou por estar sozinha. Mas também não posso deixar de pensar que hoje o meu filho poderia estar completando 3 anos."



