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Em Ângulo, na região de Maringá, um avião bimotor caiu em setembro do ano passado matando as três pessoas que estavam a bordo: Paraná teve pelo menos quatro acidentes aéreos graves em 2011 | Fabio Dias/Gazeta do Povo/Arquivo
Em Ângulo, na região de Maringá, um avião bimotor caiu em setembro do ano passado matando as três pessoas que estavam a bordo: Paraná teve pelo menos quatro acidentes aéreos graves em 2011| Foto: Fabio Dias/Gazeta do Povo/Arquivo

Deficiência

Falta de estrutura estatal dificulta fiscalização

A falta de fiscalização do poder público também aparece entre as causas apontadas por especialistas para o aumento no número de acidentes envolvendo o transporte aéreo. Com uma estrutura deficitária, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável por esse serviço, não estaria conseguindo detectar e combater as deficiências no setor.

Gustavo Cunha Mello, especialista em gerenciamento de riscos, lembra que nos últimos anos cresceu o volume de empresas de táxi aéreo, muitas das quais enfrentando dificuldades para se manter. "Essas empresas sobrevivem voando sem manutenção e sem aeronaves adequadas. Logicamente, isso vai resultar em mais acidentes." Uma das alternativas, na opinião do especialista, seria o governo federal abrir linhas de financiamento para essas empresas renovarem suas frotas.

O professor Guido César Carim Júnior diz enxergar um conjunto de ações para melhorar a fiscalização sobre o transporte aéreo, mas acredita que a estrutura da Anac não está à altura das suas atribuições. "Apesar desse esforço, a demanda da Anac é muito grande: vai desde a fiscalização de aeronaves até o funcionamento dos aeroportos. Falta mão de obra para isso", afirma. (AG)

Anac minimiza crescimento das ocorrências

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não considera os nú­­meros absolutos de acidentes envolvendo aeronaves para avaliar o nível de segurança do espaço aéreo brasileiro. Para o órgão, um aumento na quantidade de acidentes não significa necessariamente uma redução na segurança das operações, dado o crescimento da frota. Um dos indicadores utilizados pela agência é a relação entre o total de acidentes fatais e o consumo de combustível, que manteria o país dentro de uma média nos últimos anos.

Através de sua assessoria de comunicação, a Anac explicou que utiliza o indicador reativo, número que resulta da quantidade de acidentes com fatalidade para cada 100 mil metros cúbicos de combustível consumido. Atual­­mente, esse índice está em torno de 0,39, sendo que no ano passado foi de 0,33. A expectativa da agência é encerrar 2012 na casa de 0,33, mantendo assim a média dos últimos três anos.

Outro cálculo utilizado para medir o nível de segurança é a mé­­dia de acidentes fatais com grandes aeronaves nos últimos cinco anos. Neste caso, o Brasil apresenta índice de 0,54 acidente por milhão de decolagens. A meta estabelecida pela Organização da Aviação Civil In­­ternacional para os países das Américas do Sul e Central é de não mais que um acidente por milhão de decolagens. Esse índice, porém, não abrange a aviação geral, que inclui aeronaves privadas, de instrução, agrícolas e públicas. (AG)

O ano de 2011 terminou com um saldo bastante negativo para a aviação brasileira. Não apenas pelo aumento de 41% na quantidade de acidentes em relação ao ano anterior, mas principalmente por registrar o maior número absoluto de ocorrências em dez anos. Foram 156 acidentes aéreos, quase 150% a mais que em 2002, que teve 63 casos. Já a quantidade de aeronaves registradas e que trafegam pelo espaço aéreo brasileiro cresceu em uma proporção bem inferior, de 30% durante o mesmo período.

Os números fazem parte do relatório de 2011 do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Das 156 ocorrências registradas no ano passado, 130 envolveram aviões, enquanto as outras 26, helicópteros.

Desde 2003, segundo o Cenipa, esses acidentes deixaram um saldo de 915 mortos, mais da metade contabilizada nos anos de 2006 e 2007. Foram nesses anos que ocorreram as duas maiores tragédias da aviação brasileira, a queda de um avião da Gol no norte do Mato Grosso e o choque de uma aeronave da TAM contra um barracão no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Com exceção desses dois períodos, o ano de 2011 foi o que acumulou o maior volume de óbitos ao longo desses dez anos, 90 ao todo.

Para Gustavo Cunha Mello, especialista em gerenciamento de riscos com experiência na área de aviação, um dos fatores preponderantes para o crescimento dos acidentes é a evolução da frota. "O crescimento da economia fez com que aumentasse significativamente a frota de jatos executivos. E as pessoas que pilotam essas aeronaves não têm a mesma experiência que os pilotos de grandes companhias", aponta.

Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o total de aeronaves registradas no país passou de 10,6 mil em 2002 para 13,8 mil no ano passado. Pelos dados do Cenipa, o porcentual de aeronaves envolvidas em acidentes está em ascensão, mas ainda é inferior ao verificado em 2001. Nesse ano, 0,43% da frota estava envolvida em acidentes fatais, enquanto 0,58% sofreram perda total. No ano passado, os respectivos índices foram de 0,23% e 0,28%.

Coordenador do Departa­­mento de Treinamento de Voo da Faculdade de Ciências Aero­­náuticas da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Guido César Carim Júnior prefere ver os números com cautela. Para ele, o levantamento do Cenipa não permite uma análise mais aprofundada sobre os riscos aos quais está exposta a aviação brasileira. "Os números absolutos podem mascarar o que está acontecendo. O ideal seria que fossem levantadas as causas desses acidentes para, a partir dessas informações, determinar estratégias e políticas públicas para o setor."

Histórico

O Paraná registrou pelo menos quatro acidentes aéreos graves no ano passado, com oito mortes. Em Londrina, um bimotor com três ocupantes caiu pouco depois da decolagem. Outras três pessoas morreram após uma tentativa de aterrissagem forçada de um bimotor na cidade de Ângulo, na região de Maringá.

Em Curitiba, dois acidentes ocorreram na base aérea do Bacacheri. No primeiro, um avião de pequeno porte caiu sobre uma casa, matando o piloto. Em outro, uma aeronave que fazia acrobacias bateu no solo durante a apresentação.

Na contramão da estatística mundial

Enquanto no Brasil as estatísticas de acidentes aéreos atingiram altos índices, ao redor do mundo os números revelam uma situação inversa. Segundo levantamento divulgado no fim do ano passado pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), os indicadores globais de segurança no transporte aeroviário tiveram em 2011 seu melhor resultado nos últimos anos.

Até 30 de novembro do ano passado foram contabilizados 22 acidentes aéreos graves no mundo, os quais provocaram a morte de 486 pessoas, entre passageiros e tripulantes. Em 2010 haviam sido registrados 23 casos, totalizando 786 mortes. Já em 2006, 855 pessoas morreram em um total de 20 acidentes. Acusando uma melhoria de quase 50% em relação aos 11 primeiros meses do ano passado, a Iata considerou que 2011 foi, proporcionalmente em números, o ano mais seguro para o transporte aéreo mundial. Segundo o órgão, todas as regiões, incluindo a África, que historicamente é a mais perigosa para o transporte aéreo, tiveram uma queda proporcional no número de fatalidades.

A Iata contabiliza dados desde 1945, mas só os divulga desde 2001. O órgão mensura a performance de segurança dos seus países-membros pelo número de acidentes e aeronaves perdidas em relação à quantidade de decolagens realizadas no mundo. Atualmente, 240 companhias áreas integram a associação, operando em 118 países e responsáveis por cerca de 84% do tráfego aéreo global.

Para o professor Guido César Carim Júnior, é difícil traçar um comparativo de segurança aérea entre o Brasil e os demais países do mundo, visto que são utilizados critérios diferentes para avaliar as estatísticas. "Um único indicador nunca vai mostrar se o sistema aeroviário é seguro ou não. Investigar as causas e circunstâncias dos acidentes é o único caminho para se ter um cenário mais claro", pondera.

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