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Colégio Estadual do Jardim Interlagos, em Cascavel: invasão e apedrejamento ameaçam alunos e professores. | César Machado/Gazeta do Povo
Colégio Estadual do Jardim Interlagos, em Cascavel: invasão e apedrejamento ameaçam alunos e professores.| Foto: César Machado/Gazeta do Povo

Escola de passagem seria saída

O juiz da Vara da Infância e Juventude de Cascavel, Sérgio Luiz Kreuz, convive com um dilema. Ele reconhece que as escolas não estão preparadas para receber os adolescentes em conflito com a lei, mas tem de cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "O adolescente não pode ser excluído. Se a escola não consegue receber esse aluno, ela também está fracassando."

O juiz cobra ações do governo do estado, entre elas a contratação de psicólogos. Ele também sugere a criação da escola de passagem, para onde os jovens possam ser encaminhados antes de freqüentar a sala de aula regular. "Seria um período de adaptação."

O Núcleo Regional de Educação de Cascavel criou, em maio, o Programa de Acompanhamento Pedagógico Continuado. Atualmente, 72 adolescentes encaminhados pela Justiça participam dos encontros, que ocorrem duas vezes por semana. "Isso é apenas uma amostra, não sabemos o total de alunos com este perfil matriculados nas escolas", diz a pedagoga Lauri Filipin, coordenadora do programa.

Estatísticas da Vara da Infância e Juventude mostram que é preciso pressa para resolver o problema. Segundo o juiz Sérgio Kreuz, em uma década o número de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas na cidade aumentou de 100 para 700 por ano. (LS)

Professores do Colégio Estadual do Jardim Interlagos, em Cascavel, na Região Oeste do estado, vão recorrer ao Ministério Público para garantir segurança para trabalhar. No documento, assinado também pelos funcionários, totalizando 92 pessoas, eles relatam que "estão constantemente sofrendo ameaças de morte de terceiros que adentram o colégio e dos próprios alunos que lá estudam".

"Precisamos dar um basta, estamos abandonados", reclama a professora de Ciências Taiza Ferronato, há quatro anos lecionando na escola. Segundo ela, os professores estão trabalhando sob tensão, já que adolescentes invadem o colégio e, em alguns casos, apedrejam as salas de aula. "De repente, do nada, a gente pode levar uma pedrada", conta.

Há dez dias, um grupo pulou o muro da escola e começou a jogar pedras nas janelas das salas de aula. A Patrulha Escolar foi acionada e dois jovens foram apreendidos. As aulas foram suspensas 40 minutos antes do término e todos os professores estiveram na Delegacia de Polícia para registrar um boletim de ocorrência.

A situação do Colégio do Jardim Interlagos, que atende 1,2 mil alunos, revela um problema que praticamente todas as escolas públicas estaduais de Cascavel enfrentam: o convívio com adolescentes em conflito com a lei, encaminhados pela Vara da Infância e Juventude. São jovens que cometem atos infracionais – entre eles, crimes graves – e que, além de cumprir medidas socioeducativas, são matriculados nas escolas regulares por determinação do Juizado de Menores.

A diretora-auxiliar da escola do Interlagos, Vanilda Dias, conta que no episódio do dia 27 de agosto, o adolescente que liderava a invasão é aluno matriculado na escola, encaminhado pela Justiça. "Não estamos preparados para receber esses alunos. Somos obrigados a recebê-los", revela, acrescentando que esses adolescentes e suas famílias deveriam ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar, com psicólogos e até psiquiatras. "Não temos estrutura para isso."

O documento, que será entregue amanhã ao Ministério Público, aponta ainda que "a integridade física e moral dos professores e funcionários está abalada pela inércia do poder público". Por fim, pede ao MP que intervenha "antes que aconteça o pior, ou seja, a possível morte de algum profissional da educação".

Bomba na sala

A diretora de outra escola na zona Norte de Cascavel passou por uma situação dramática recentemente. Um adolescente de 15 anos, encaminhado pela Justiça, soltou uma bomba caseira dentro da sala de aula lotada com crianças da 6ª série. Ao ouvir a explosão, a professora correu para ver o que estava acontecendo. Em meio ao choro e aos gritos dos alunos, recebeu um empurrão e foi jogada contra a parede, batendo a cabeça e as costas. A diretora – que prefere não ser identificada – levou o caso até as últimas conseqüências. Fez boletim de ocorrência, exame de corpo delito e testemunhou contra o jovem, que hoje cumpre pena de internamento. "Fui ameaçada, perseguida, precisava mudar de carro para vir à escola. Mas enfrentei o problema."

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