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O assassinato de um adolescente de 16 anos na noite de quarta-feira (1º) em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, expôs os problemas de segurança pública da cidade. Soldados chegaram ao local do crime mais de uma hora e meio depois dos disparos. O corpo estava a quatro quadras do módulo da Polícia Militar. A cidade, que tem 96 mil habitantes, tem apenas uma equipe da PM.

Segundo relatos de testemunhas, o adolescente Marcelo Alves brigou com um primo de 13 anos em razão do pneu furado de uma bicicleta. O tio de Marcelo teria dado três tiros que atingiram o tórax do garoto, de acordo com informações de familiares. O acusado não foi encontrado.

O crime se deu às 21h30. Moradores da região dizem que a polícia chegou só 0h30. A PM admite que chegou ao local às 23h. A população pedia que os policiais que estavam no módulo saíssem a pé para atender o local do homicídio. "Não podemos fazer isso. Devemos cuidar aqui do posto, que tem armas e equipamento da PM", justificou um soldado do 17º Batalhão da Polícia Militar que não trabalhava no horário do assassinato, mas diz conhecer a situação de Almirante Tamandaré.

E onde estava a única equipe da Polícia Militar responsável por vigiar a cidade?

Roubo de carro

Dois rapazes foram presos na noite de quarta-feira acusados de roubar dois carros. Diego Ferreira de Matos, 21 anos, e Fábio Luiz Martins, 27, foram presos em flagrante com dois carros roubados. Dois adolescentes, que teriam participação nos crimes, foram apreendidos. Os quatro foram detidos às 20h45, 45 minutos antes do assassinato de Alves.

"Flagrante é demorado. Ainda mais se for a noite que quase não tem policial na delegacia", disse um policial militar. Segundo ele, a ocorrência dos ladrões de carros só teria se encerrado à 0h25, quatro horas depois da prisão.

A reportagem tentou obter informações sobre o assassinato de Alves na tarde desta quinta com dois policiais e um escrivão da delegacia. Segundo eles, o caso ainda não havia sido comunicado pela Polícia Militar. A assessoria de imprensa da Polícia Militar não retornou os recados da Gazeta do Povo.

Demanda não para

Nesta quinta-feira (2), as demandas da população seguiam em alta na cidade de Almirante Tamandaré. Um segurança de uma revendedora de água mineral foi assassinado ao mesmo tempo em que uma mulher pedia desesperadamente por uma ambulância para uma idosa.

Cleiton José dos Santos, 27 anos, foi morto com um tiro no peito no final da manhã em frente a empresa em que trabalhava como segurança, na Rodovia dos Minérios, região do bairro Tranqueira. Ao lado do corpo de Santos, foi localizada um revólver calibre 38 com quatro munições gastas e uma moto Twister vermelha. Os objetos eram de Santos, que teria reagido ao criminoso. As motivações do crime são ainda desconhecidas.

Ao mesmo tempo em que isolavam o local para a análise da perícia, os policiais militares estavam em contato com a comerciante Rita Quelhas, que pedia por uma ambulância para atender a mãe dela, uma idosa que estava sofrendo com complicações cardíacas. "Essa bronca [gíria policial para ocorrência] é da prefeitura, mas a gente se preocupa igual", contou um policial militar.

Saúde

A aposentada Olinda da Silva, 81 anos, que sofre de aneurisma cerebral, teve complicações com a sonda que a alimenta por via nasal nesta manhã. O pulso e o batimento cardíaco estavam abaixo do recomendável. A filha de Olinda, Rita, pediu uma ambulância para a prefeitura às 9h50. A ambulância chegou às 18h30, momento em que Olinda já havia retornado do hospital.

Nesse meio tempo, Rita pediu ajuda para todos. "Anteontem (terça, 31), a prefeitura improvisou uma caminhonete para nos levar até o [Hospital] Cajuru, dizendo que a ambulância estava no conserto. Hoje (quinta) precisamos de novo e ficamos na mão", conta a comerciante.

Ao meio-dia, ela começou a apelar para uma série de órgãos do Estado - até mesmo para a Polícia Militar, que argumentou não poder atender em razão dos veículos serem inadequados e da alta demanda pela equipe de policiais. Somente às 16h30, uma ambulância de um vereador fez o atendimento atendeu. Ao tomar conhecimento do caso, a Secretaria de Estado da Saúde afirmou que o caso deveria ter sido atendido pela prefeitura municipal. Os telefones da prefeitura de Almirante Tamandaré não atendiam às 17h15.

Perfil

Sem carros para a polícia ou para emergências médicas, Almirante Tamandaré tem 96.739 moradores, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2008. Somente em janeiro, a cidade teve 11 homicídios - mais de um por 10 mil habitantes, barreira considerada crítica por especialistas em segurança pública.

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