• Carregando...
Patrícia Pimenta com a filha e mãe: após tratamento, adolescente recuperou o amor à vida e aos familiares | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Patrícia Pimenta com a filha e mãe: após tratamento, adolescente recuperou o amor à vida e aos familiares| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Agressividade, comportamento depressivo, problemas na escola e conflito com familiares são tidos como fatores comuns em algum momento da adolescência. Mas também podem ser sintomas de transtornos psicológicos. Segundo estimativas do Ministério da Saúde, existem no Brasil cerca de 5 milhões de pessoas com graves problemas de psiquiatria. Mas grande parte dos casos ainda não é diagnosticada.

Entre os adolescentes, os sintomas costumam ser confundidos com problemas normais da idade e a falta de acompanhamento pode levar a graves consequências, até ao suicídio. A presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria, Beatriz Bermudez, diz que a falta de tratamento adequado, além de levar ao comportamento violento, compromete a qualidade de vida, aumenta as chances de o jovem se envolver com drogas ou bebidas alcoólicas, de ter rendimento baixo nos estudos, marginalização, discriminação e atitudes antissociais.

Beatriz explica que, quanto antes um transtorno é diagnosticado e tratado, melhor. O primeiro passo, segundo ela, é levar a criança ou adolescente ao pediatra. "O pediatra atende a criança e o jovem até os 20 anos e é uma pessoa em quem os pais confiam, pois muitas vezes ele já está acompanhando o filho desde pequeno", afirma.

Assim como as famílias têm dificuldade em perceber sintomas de transtornos mentais nos jovens, as escolas não estão preparadas para recebê-los. O médico neuropediatra Clay Brites afirma que transtornos mentais são um dos fatores que levam o jovem à evasão escolar e aponta como problema a falta de um protocolo adequado para entender e agir positivamente com as crianças. Para o psiquiatra Marcelo Luigi Martins, já existem escolas que estão mais preparadas para atender alunos com problemas mentais. "Essa questão está melhorando, mas ainda falta mais conhecimento por parte das instituições de ensino e uma aproximação entre elas e os especialistas."

Consequências

A estudante Patrícia Aparecida Pimenta, 18 anos, é o retrato da luta contra o transtorno mental na adolescência. Depois do nascimento da filha Lanay, há três anos, Patrícia teve problemas para enfrentar a depressão. "Eu e meu namorado nos separamos, larguei a escola, não tinha amigos e nem condições de cuidar da minha filha", conta. Depois de ter tentado o suicídio quatro vezes, Patrícia foi levada pela mãe a especialistas. Descobriram que ela sofria de transtorno bipolar, que leva a oscilações entre comportamentos depressivos e de agitação. Recebendo acompanhamento psicológico e medicamentos adequados, Patrícia conta que voltou a estudar, começou a trabalhar e aprendeu a conviver com as pessoas. "Antes minha filha era como um objeto, algo que atrapalhava minha vida. Agora eu posso dizer que realmente a amo e não sei como conseguia pensar em fazer mal a ela", conta. Um ano depois, o transtorno está controlado e Patrícia não tem mais uma rotina de acompanhamento psicológico pré-determinada.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos mentais foram identificados em 90% dos jovens suicidas e a depressão estava presente em 60%. São 3 mil suicídios cometidos por dia no mundo e o maior número de casos ocorre entre jovens com idade de 20 a 29 anos, sendo essa a terceira causa de morte nesta faixa etária, segundo a OMS. Em Curitiba, as tentativas de suicídio por intoxicação (ingestão de remédios ou veneno) aumentaram 30% entre 2006 e 2007, de acordo com o Centro de Epidemiologia da Secretaria da Saúde. Os dados do ano passado ainda não foram compilados. Em 2007 foram 220 casos, sendo que 25% dos que tentaram o suicídio por intoxicação tinham entre 10 e 19 anos. Se comparado ao número de 2005, o aumento foi de 55%. A diretora do Centro de Epidemiologia de Curitiba, Karin Regina Luhm, diz que o crescimento nos números pode ser um reflexo do aumento real, como pode também significar uma notificação de casos mais eficiente por parte dos serviços de saúde.

Outros transtornos podem deixar a pessoa mais suscetível a cometer suicídio, como a depressão e esquizofrenia. Para a pós-doutora em Psicologia da Família e professora da UFPR, a psicóloga Lidia Weber, apesar de os problemas mentais funcionarem como trampolim para o suicídio, o ato em si é determinado por uma conjunção de fatores, que devem ser observados de perto. Ela lembra que uma tentativa de suicídio nunca pode ser ignorada pelos médicos e familiares. "Um rapaz que já tenha tentado antes, tem 30 vezes mais chances de cometer suicídio. No caso das meninas, ela tem três vezes mais chances de tentar novamente", afirma.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]