Quando Matheus Fortunato Dário, de 7 anos, falou em alto e bom som, no meio da aula, que teria que "abrir uma sindicância" para apurar como a borracha dele havia desaparecido do estojo, a professora Isabel Aguilar não sabia se achava graça ou o levava a sério.
Crianças que se interessam por política e tecnologia, têm uma agenda lotada de compromissos, assumem responsabilidades precoces, gostam de se arrumar e falar como adultos, são exemplos do que os especialistas têm chamado de "adultização" da infância. Pesquisa feita pela Ogilvy Brasil mostra que o fenômeno atinge 83% das crianças das classes A e B e 77% entre as classes D e E.
O vocabulário sofisticado de Matheus e a forma como ele articula as frases costumam surpreender quem o cerca. Palavras como "imprescindível" ou frases do tipo "eu gostava muito de fazer experiências, mas agora estou dando uma parada" é o que pode-se esperar desse garoto, com menos de 1,30 m de altura e uma vasta lista de livros consumidos número, aliás, que supera a marca de muitos adultos.
"Em uma palestra para os pais aqui na escola, sobre limites para os filhos, Matheus era a única criança presente. Ele fez perguntas de tal maneira que eu não sabia se estava respondendo a uma criança ou a um adulto", lembra a orientadora educacional do Colégio Decisivo Cristo Rei, Márcia Aurich Jones.
A mãe de Matheus, Fernanda Antunes Fortunato, acredita que o modo de ser de seu filho está relacionado ao meio em que ele é criado. "Ele é filho único, sempre esteve rodeado de adultos, fica muito com os avós. Além disso, sempre o incentivamos a ler", conta.
De acordo com os especialistas, Fernanda está certa. "Com o menor número de filhos, hoje as crianças são criadas no meio de adultos. Esse é um dos fatores que contribuem para a adultização precoce", afirma a psicóloga comportamental Lídia Weber.
Mas a mãe não classificaria Matheus como um "mini-adulto". "Eu vejo ele como um mocinho. Ele se comunica como adulto, mas brinca como uma criança, ele gosta muito de desenhar, jogar xadrez e videogame", diz.
Giovana Slompo, de 10 anos, também se acostumou a surpreender os pais e professores desde cedo. Aos 7 anos, escreveu uma peça de teatro, ensaiou com os coleguinhas e apresentou o "espetáculo". Agora, aos 10, vai a festas no estilo "boatinha" e volta às 4 horas da manhã para casa.
Sem contar que já foi visitar sozinha uma amiga em Porto Alegre. "Ela tem atitudes como se fosse adulta, é bastante independente", afirma a mãe de Giovana, Flávia Zilio.
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