Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Reportagem especial

Agricultor lidera ação das famílias atingidas por barragens

O gaúcho José Hélio Mecca, que há mais de dez anos vive em Chopinzinho (PR), já foi a 15 países discutir o impacto social das usinas

Usina de Salto Santiago, construída na década de 70. Famílias da região das áreas alagadas pelos reservatórios das hidrelétricas precisam deixar suas terras | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Usina de Salto Santiago, construída na década de 70. Famílias da região das áreas alagadas pelos reservatórios das hidrelétricas precisam deixar suas terras (Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo)
Margem do reservatório da Usina de Salto Caxias: água parada e controle da vazão |

1 de 8

Margem do reservatório da Usina de Salto Caxias: água parada e controle da vazão

Nos reservatórios é possível observar os galhos secos das copas das árvores que foram submersas |

2 de 8

Nos reservatórios é possível observar os galhos secos das copas das árvores que foram submersas

José Hélio Mecca é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens |

3 de 8

José Hélio Mecca é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens

Ele mora há 13 anos em um assentamento em Chopinzinho |

4 de 8

Ele mora há 13 anos em um assentamento em Chopinzinho

Casinha antiga na localidade de Barra do Sarandi |

5 de 8

Casinha antiga na localidade de Barra do Sarandi

Trecho do Rio Iguaçu visto do mirante da Vaca Branca, na localidade de Marechal, que fica a aproximadamente 1 km do local onde será construída a Usina do Baixo Iguaçu |

6 de 8

Trecho do Rio Iguaçu visto do mirante da Vaca Branca, na localidade de Marechal, que fica a aproximadamente 1 km do local onde será construída a Usina do Baixo Iguaçu

Biólogo Tom Grando tenta descobrir onde fica o Salto Faraday |

7 de 8

Biólogo Tom Grando tenta descobrir onde fica o Salto Faraday

O reservatório de Salto Caxias separa as cidades de Três Barras do Paraná e Nova Prata do Iguaçu |

8 de 8

O reservatório de Salto Caxias separa as cidades de Três Barras do Paraná e Nova Prata do Iguaçu

Ele nunca teve muita sorte com as escolas que freqüentou. Foram apenas três anos estudando porque o primeiro imóvel que abrigava os alunos na comunidade em que vivia caiu com a força do vento. O segundo pegou fogo e o terceiro a água cobriu. Mas nada disso impediu que o gaúcho José Hélio Mecca, 42 anos, se tornasse um líder. Hoje ele é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), criado em 1989. Mecca já viajou por todo o Brasil e foi a 15 países discutir a situação das famílias que precisam deixar suas terras para a formação dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

A história do coordenador do MAB começou no fim da década de 70 e início da década de 80. Nascido em Mariano Moro (RS), filho de pequenos agricultores, Mecca soube na época que o governo federal construiria 25 grandes hidrelétricas na Bacia do Uruguai, o que atingiria 80 municípios e milhares de famílias. Em 1984, veio o anúncio da construção das usinas de Machadinho e Itá. Essa última atingiria a família dele.

No ano seguinte, Mecca começou a militar nos movimentos sociais. As famílias de Itá e o governo federal fecharam um acordo em 1987. "Isso foi inédito no Brasil. Pela primeira vez se conseguiu fechar um acordo com o governo antes da criação da usina. Foi resultado da pressão do movimento", lembra ele.

Na negociação para resolver a situação das 3,2 mil famílias atingidas pela usina de Itá, as opções eram: troca de terra por terra, indenização em dinheiro ou reassentamento coletivo. A família de Hélio estava entre as 750 que ficaram com a terceira alternativa. Entre os anos de 1995 e 1996, famílias de três municípios gaúchos escolheram Chopinzinho (PR) para viver. Um lote ficou para Hélio, a esposa e o filho. Atualmente, as famílias da Barragem do Itá vivem em cinco reassentamentos no Paraná. Mecca continua morando no mesmo local, mas agora tem três filhos.

Uma televisão

Apesar da militância no MAB, o coordenador do movimento garante que não é contra a geração de energia, mas para ele o modelo usado no Brasil "está falido do ponto de vista da sustentabilidade". Mecca diz que é necessário que a sociedade defina que modelo de desenvolvimento quer, o que é preciso para viver. Ele, em casa, tem apenas um televisor, por exemplo, e afirma que toma todos os cuidados para economizar energia. "Não desperdiço porque sei que ali corre sangue da natureza, da terra e da gente que lutou contra o processo."

O Brasil, completa, não precisa mais gerar energia. "Não há necessidade de construir usinas nos próximos 20 anos. O Brasil tem água suficiente nas barragens para ter segurança energética." De acordo com Mecca, o setor está sucateado e se fossem feitos alguns investimentos os geradores ampliariam em cerca de 15% a 18% a sua capacidade.

Com os números na ponta da língua, o coordenador do MAB cita que os pouco mais de 1,7 mil empreendimentos construídos no Brasil já atingiram 1 milhão de pessoas, 70% delas perderam tudo o que tinham no processo de desapropriação das áreas. "O plano do governo federal é de instalar mais 1.443 usinas no país".

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.