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Ato em defesa dos protestos em Foz: manifestantes querem que direitos sejam respeitados | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Ato em defesa dos protestos em Foz: manifestantes querem que direitos sejam respeitados| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Eleições

Transporte deve ganhar força na agenda política, dizem especialistas

O sistema público de transporte deve passar a ter um peso maior nas próximas eleições, ao lado da saúde, educação e segurança. Para cientistas políticos, a série de protestos já colocou o tema na agenda política. Os candidatos não poderão mais ignorá-lo. "O transporte era algo latente nas discussões. Agora, a partir das eleições do ano que vem, vão ter impacto decisivo no resultado final", diz o cientista político Adriano Codato, da UFPR.

Ele critica, no entanto, a ampliação do foco das manifestações. Para ele, ao empunhar outras bandeiras, o movimento pode não surtir os resultados esperados.

Recuo

Enquanto isso, governos municipais e estaduais parecem ainda não ter assimilado o golpe das mobilizações. Para os cientistas políticos, há um paradoxo: se o governo não ceder, as manifestações continuam. Se recuar, as pessoas podem se encorajar ainda mais.

"O governo fica numa situação difícil, porque rever o custo da passagem agora não surtiria efeito em médio prazo. É algo que exige cautela", aponta o cientista político Valeriano Mendes Ferreira Costa, da Unicamp.

Negociação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em sua página no Facebook que as manifestações sociais não podem ser encaradas como "coisa de polícia, mas sim de mesa de negociação". "Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas. Não existe problema que não tenha solução", disse.

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Já não se trata de reivindicar apenas a redução da tarifa do transporte coletivo. A série de manifestações país afora – e que foi replicada até no exterior – teve sua agenda temática ampliada desde a última semana. Palavras de ordem contra a corrupção, a política em geral, a realização da Copa do Mundo e a repressão policial ganharam a boca dos que foram às ruas. Tudo amalgamado pelas mídias sociais.

"O estopim foi a questão do preço da passagem. Mas, por detrás de tudo isso, está a vontade da população de participar diretamente da tomada de decisões. A sociedade não está se sentindo representada. Assim, existe o sentimento de que não basta participar a cada quatro anos, nas eleições", avalia o cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor da PUC-SP e doutor em Ciências Políticas.

Para os especialistas, um ingrediente foi determinante para a sensibilização da opinião pública: a truculência da Polícia Militar (PM) ao reprimir manifestantes, principalmente em São Paulo e no Rio. Quase em tempo real, fotos que retratavam o excesso policial pipocaram nas mídias sociais. Mostravam rostos sangrando, bombas explodindo e manifestantes ajoelhados.

"Isso gerou uma grande onda de solidariedade democrática e agregou pessoas por outros motivos. O movimento passou a ter inúmeras bandeiras e interesses. É curioso notar que o movimento se ampliou e passou a ter múltiplas lideranças", observa o cientista político Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC paulista.

Pela rede

A mobilização em nível nacional também evidencia o poder da internet como catalisador das manifestações. Pelo Facebook, 177 cidades no Brasil e 44 no exterior planejaram seus atos. Além dessa articulação, o compartilhamento de vídeos e fotos feitos pelos próprios ativistas rompeu o que os especialistas chamam de "bloqueio midiático".

"Essa difusão rápida de informações aumenta a capacidade de mobilização. É um dos responsáveis pelo movimento adquirir contornos de evento de massa", opina o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná.

Apesar de ainda não haver clareza quanto aos resultados do movimento, os cientistas políticos cravam que a onda de protestos já pode ser considerada histórica e que demonstram que a sociedade está se dando conta do poder de sua mobilização. "Isso pode demonstrar o esgotamento político e principalmente do discurso dos governos, das repostas que eles têm dado. Parece-me que a sociedade está mais pronta a cobrar", diz o cientista político Valeriano Mendes Ferreira Costa, professor da Unicamp.

"Uma coisa é certa: as manifestações têm mostrado a capacidade de reação da sociedade. Não sabemos onde isso vai dar, mas as pessoas perceberam a força que têm", finalizou Sérgio Amadeu.

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