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Para reverter o processo

Para o pesquisador da Fiocruz Ulisses Confalonieri, é possível evitar os efeitos das mudanças climáticas na saúde. "Aumentar a eficácia dos programas de controle de doenças endêmicas, reduzir a poluição atmosférica, melhorar as condições de habitação e desenvolver sistemas alternativos de captação de água e variedades de cultivo mais resistentes às secas pode contribuir para reverter essa situação em que nos encontramos", sugere.

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Mais problemas do coração e alergias

O estresse termal causado pelo aquecimento global será responsável por outros agravos à nossa saúde e bem-estar. Como explica o geó­­grafo Francisco Mendonça, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em seu projeto de pesquisa intitulado "Aqueci­­mento Global e Saúde: Uma Pers­­pec­­tiva Geográfica", "ondas de ca­­lor e frio muito intensas poderão estar acompanhadas pela elevação dos índices de mortalidade por en­­fermidades cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias, isto para não dizer dos já conhecidos problemas de cataratas na visão e o câncer de pele".

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El Niño pode se agravar

O climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) José Antonio Marengo explica que, embora não se saiba exatamente como, fenômenos climáticos como o El Niño podem se agravar com o aquecimento progressivo da Terra. "Essa questão ainda é cercada de muitas incertezas, já que cada modelo meteorológico nos dá uma resposta diferente. Pode ser que, por causa do aumento da temperatura, o El Niño se torne mais frequente, afetando o clima a cada dois anos, ou então que ele dure até 20 anos. É ainda muito cedo para tirar qualquer conclusão."

Atualmente, o fenômeno que causa a elevação anormal da temperatura das águas do Oceano Pacífico e, consequentemente, mudanças no clima, ocorre em intervalos irregulares de dois a sete anos. No Brasil, ele costuma provocar secas na região Nordeste e chuvas intensas no Sul e no Sudeste.

Um estudo apresentado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-15), na Dinamarca, revela que a década atual foi até agora a mais quente de que se tem registro. Segundo o secretário-geral da entidade, Michel Jarrud, o planeta está sofrendo um rápido aquecimento desde a década de 1970 e o aumento de temperatura acentuou-se nos últimos anos. Se nada for feito para diminuir as emissões de gás carbônico na atmosfera, o aumento da temperatura do Planeta será inevitável e várias pesquisas têm revelado que o calor será uma das maiores ameaças à saúde humana no século 21.

Em Curitiba e outras cidades do estado, a população sentiu o aquecimento global na pele. Durante o mês de novembro, o Paraná registrou temperaturas até 4 graus acima da média, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Climatempo. Mas, como explica o climatologista José Antonio Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não se pode relacionar as altas temperaturas deste ano diretamente com as mudanças climáticas. É o El Niño o responsável pelas alterações no clima deste ano. "O problema maior no Sul e Sudeste do país é que as regiões viveram um longo período de seca, as chuvas demoraram a cair, causando o aumento da temperatura", explica.

Independentemente de ser provocado pelo aquecimento global ou pelo El Niño, o verão promete ser quente e um dos maiores problemas agravados pelo calor é a proliferação de doenças infecciosas. "A elevação da temperatura acelera os ciclos reprodutivos de parasitas e insetos vetores, como os mosquitos, facilitando, assim, a sua disseminação. Os principais surtos que podem se multiplicar com o aquecimento global são as doenças transmitidas pela água, como a leptospirose, e por vetores, como a dengue e a malária", explica o médico Ulisses Con­falonieri, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No Sul do país, a tendência é que os casos de dengue aumentem significativamente com a elevação das temperaturas. No Paraná, dos 20 municípios analisados pelo Levantamento Rápido de Índice de Infestação de Aedes aegypti no Paraná (Liraa), um apresentou risco eminente, 11 estão em alerta, e 5 têm índices satisfatórios, entre eles Curitiba.

Além dessas, outras doenças endêmicas poderão se agravar com as mudanças climáticas. Surtos de tripanossomíase, leishmaniose, filariose, amebíase, oncocercíase, esquistossomose, febre amarela, peste bubônica e disenteria também poderão ameaçar a vida da população, principalmente nas regiões mais pobres do Brasil e do mundo.

"Todas as regiões do país e do mundo são vulneráveis em graus diferentes e por motivos diversos, mas as áreas mais pobres serão, em geral, mais afetadas pela maior exposição da população e pela pouca capacidade de resposta aos impactos. O semiárido brasileiro é uma área particularmente vulnerável, pelos maus indicadores socioeconômicos e de saúde, pela população numerosa e pela perspectiva da piora da aridização", diz Confa­­lonieri.

Como explica a epidemiologista Suzana Dal Ri Moreira, do Hos­­pital de Clínicas (HC) da Universi­­dade Federal do Paraná (UFPR), além da dengue, a hepatite A viral aguda, a leptospirose e as intoxicações alimentares, causadas por bactérias, também são males que se agravam com o aumento das temperaturas no estado. "En­­quanto as intoxicações e a hepatite estão relacionadas à falta de condições de higiene e de conservação dos alimentos, a leptospirose está ligada às chuvas que costumam ser mais frequentes nesta época do ano", explica a médica.

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