
O sistema americano de saúde pública não é e nem deve ser, num futuro próximo, universal, isto é, acessível a toda a população. A reforma americana proposta pelo presidente Barack Obama contempla apenas a inclusão de cerca de 50 milhões de norte-americanos no sistema de saúde pública, expandido o benefício para todas as famílias que ganhem até US$ 33 mil por ano. Mesmo assim, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já disse que vai sugerir a Obama que ele implante um Sistema Único de Saúde (SUS) por lá, a exemplo do modelo brasileiro. Mas isso seria possível? Especialistas ouvidos pela reportagem se dividem sobre o assunto.
O consultor em saúde Eugênio Vilaça Mendes é categórico. "Isso é bobagem", diz. Segundo ele, nos EUA não há lugar para um sistema público de saúde. "Para isso, é preciso uma sociedade que prevê equidade. Esse não é um valor da sociedade americana", opina. Para Mendes, os americanos almejam um sistema universal como o dos vizinhos canadenses, mas, por outro lado, não estão dispostos a pagar mais impostos para financiá-lo.
Para o professor de Saúde Coletiva da Universidade Positivo Moacir Ramos Pires, a hipótese é remota. "Os EUA precisam de uma reforma para melhorar a cobertura, mas, como o sistema lá é eminentemente privado, eles teriam dificuldade em adaptar o SUS para eles." Pires lembra que os americanos temem que empresas de seguro de saúde venham à falência. "Nós passamos por isso na década de 80. Para quem tinha carteira assinada, o Inamps tinha bons serviços. Só haveria mercado para os planos de saúde se o sistema público fosse deficitário", analisa.
Já para o secretário de Estado da Saúde do Paraná, Gilberto Martin, um SUS é justamente do que os americanos precisam. "Muitas coisas do SUS poderiam ser úteis para eles", diz. Para a superintendente da secretaria Municipal de Saúde, Eliane Chomatas, o SUS poderia servir de modelo para os americanos, mas haveria dificuldades. "Há situações que poderiam ser incorporadas por eles e adaptadas. Mas teria de ter um grande esforço, porque os EUA não têm uma atenção primária forte".



