
Um em cada quatro americanos é casado ou vive com parceiro de religião diferente. No Brasil, não há estatísticas oficiais sobre o assunto, mas a situação não é incomum. Embora os brasileiros sejam majoritariamente católicos 73,57% da população, segundo o último censo do IBGE , não faltam evangélicos, espíritas, muçulmanos, budistas, ateus e os que se declaram esotéricos convivendo debaixo do mesmo teto. Mas, na prática, como é a relação nestes casos?
Para funcionar, dizem os casais entrevistados, a lição número um é o respeito às convicções do outro. "Tem de ter bom senso para compreender as diferenças em relação à pessoa que você ama. Se houver radicalismo de ambas as partes já não dá certo desde o namoro", diz o empresário judeu Gerson Guelmann, 61 anos, que está casado há sete com a também empresária Rosane Cardoso da Silva, 40 anos, seguidora da doutrina espírita.
Até acertar os ponteiros da relação não é fácil. O casal de corretores imobiliários Antônio Carlos de Souza, 56 anos, e Sílvia Souza, 30 anos, sabe exatamente como é isso. Ela é Testemunha de Jeová e ele não tem uma religião bem definida, o que não o livrou de bater de frente com determinados preceitos da religião da esposa. Casados há 13 anos, eles consideram, hoje, a questão superada. Mas não foi sempre assim. "Houve momentos de desentendimento, cada um emburrado para um lado", conta Antônio.
Segundo Antônio, o principal problema foi em relação ao restante da família. "Eu interpretava a religião dela como um apartheid social. Eles não comemoram aniversário, Natal e todas essas festas tradicionais que passamos com a família. Com o tempo, deixei de participar também porque não queria ir a festas sem ela. A família não entendia isso", conta.
Para a coordenadora de publicidade Karla Giordana Lacerda, 29 anos, a preocupação estava em relação à sogra e à cerimônia de casamento com o empresário Fábio Derendinger, 35 anos. "Eu sou católica e ele judeu. Eu não conhecia muito sobre a religião dele. Como diziam que mãe judia é ciumenta eu tinha receio", lembra. Quando conheceu os pais do marido, viu que tinha se preocupado à toa. "Vi que era besteira", diz.
O receio em relação à cerimônia de casamento e sobre a necessidade de uma possível conversão também se mostrou infundado. Para não desapontar nem uma família, nem outra, os dois casaram só no civil. Casados há três anos, os dois já fazem planos, inclusive, sobre a criação dos filhos: "Quando tivermos filhos vamos deixar que eles decidam", afirma.
Já a servidora pública Tatiana de Freitas Caldeira, 28 anos, e o engenheiro mecânico Felipe Blumel Caldeira, 28 anos, ainda não chegaram a um acordo sobre como será a educação dos filhos. "Já conversamos sobre o assunto, mas não chegamos a uma decisão", diz Tatiana. Mas, por hora, os dois já conseguiram resolver um outro problema: equalizar os desejos em uma cerimônia de casamento entre parceiros com religiões diferentes.
Ela é católica. Ele é luterano. Seguindo os cânones da igreja católica, eles marcaram o casamento em uma paróquia e entraram com o processo para habilitação de casamento misto (casamento entre católicos e outros cristãos). De acordo com o Direto Canônico, o pedido é perfeitamente possível desde que haja a chamada "dispensa" do bispo, uma espécia de autorização.
Autorizados, eles disseram "sim", há pouco mais de um mês, no dia 17 de janeiro, em uma cerimônia que reuniu um padre católico e um pastor da Igreja Luterana. "Estamos oficialmente casados pela Igreja Católica, mas o padre abriu bastante espaço para que o pastor falasse durante a cerimônia. Foi muito legal", conta Tatiana.





