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Doze mil brasileiras têm o implante francês que contém silicone industrial, produto não autorizado para uso em humanos | Anne Christine Poujoulat/AFP
Doze mil brasileiras têm o implante francês que contém silicone industrial, produto não autorizado para uso em humanos| Foto: Anne Christine Poujoulat/AFP

Orientação

Médicos devem avaliar necessidade de remoção

Dâmaris Thomazini

O anúncio feito por autoridades francesas de que próteses da marca Poly Implants Protheses (PIP) oferecem risco às pacientes por conter silicone industrial alarmou milhares de mulheres no mundo todo. Mas, afinal, é preciso fazer a substituição imediata do implante mamário? Por enquanto, as orientações sobre a remoção do material são conflitantes.

No início desta semana, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps, em inglês) afirmou que todas as próteses PIP – com ou sem ruptura – devem ser trocadas para evitar problemas futuros. Já a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), em um comunicado oficial feito ontem, sugeriu que as pacientes passem por uma avaliação médica e definam com o médico a melhor conduta a ser tomada. A SBPC afirma que "não há razões que justifiquem a remoção e substituição preventivas destas próteses, a não ser que uma ruptura efetiva seja identificada".

Para a cirurgiã plástica e professora adjunta do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ruth Graf, a posição da Sociedade Brasileira é mais coerente. "A decisão da Isap gera um alarde muito grande, as pacientes ficam assustadas. A SBPC está correta ao reforçar a necessidade de acompanhamento, pois a troca de uma prótese PIP íntegra pode ser programada com calma. O problema é a prótese rompida, que precisa ser trocada com mais rapidez", explicou Ruth, que é membro da SBPC e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica.

Risco de rompimento

Segundo as autoridades francesas, a prótese PIP se rompe com mais facilidade e contém um tipo de silicone não autorizado nem testado para uso em humanos. "O gel da PIP é menos coeso, pois mescla silicone industrial com silicone médico. Na época de seu lançamento, o produto foi aprovado pela agência reguladora europeia e pela Anvisa, mas o material foi adulterado ao longo do tempo", explicou o mastologista e oncologista Cícero Urban, professor de Bioética e Metodologia Científica na Universidade Positivo.

De acordo com dados da SBPC, cerca de 12 mil brasileiras possuem o implante francês. Até 2010, quando a comercialização do silicone dessa marca foi proibida no Brasil, 34.631 próteses foram importadas. Destas, 2.084 vieram para o Paraná, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e 1.507 foram comercializadas em Curitiba.

Pelo menos duas mulheres que usaram as próteses de silicone da marca Poly Implant Protheses (PIP) e tiveram problemas com o rompimento registraram queixas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2010, mas nunca receberam resposta. Em entrevista na última semana de 2011, Dirceu Barbano, presidente da Anvisa, afirmou que, embora existam registros de reações adversas em outros países, a agência não tinha recebido nenhuma comunicação de problemas relacionados ao implante no Brasil.A esteticista Jany Simon Ferraz, 54 anos, e a artista plástica Denise Villar Berretta, 56 anos, registraram reclamações na Anvisa em 2010, logo após a agência ter suspendido a comercialização das próteses PIP no país por causa da baixa qualidade. Desde então, nunca receberam nenhuma ligação e ainda aguardam resposta da área técnica.

Jany teve câncer de mama e fez mastectomia (retirou os dois seios). Fez os implantes da marca PIP em 2005 por indicação do seu médico. "O plano de saúde pagaria por uma nacional, mas meu médico falou que só garantiria a cirurgia se eu usasse a prótese francesa PIP, que era melhor e mais segura. Segui a orientação dele e paguei R$ 3 mil."

Quatro anos depois, ela começou a sentir dor e desconforto nas mamas. Fez um ultrassom que constatou o rompimento da prótese – o que foi confirmado depois com uma ressonância magnética. "O silicone tinha se espalhado por toda a região do tórax e axilas", conta.

Jany procurou o cirurgião que fez o implante de silicone e a EMI, empresa responsável pela importação das próteses PIP, mas nenhum deles quis se responsabilizar e arcar com os custos de outra cirurgia. Em 2010, com a suspensão da comercialização, a esteticista registrou a queixa na Anvisa.

Justiça

A esteticista entrou com uma ação judicial que determinou que a EMI pagasse os custos da cirurgia e de um novo implante. Ao todo, entre exames, deslocamento e a cirurgia, foram gastos cerca de R$ 14 mil.

Já Denise colocou as próteses em 2007 por razões estéticas. Também queria de outra marca, mas foi convencida pelo médico de que as próteses da PIP eram seguras e proporcionavam resultados estéticos melhores. Pagou R$ 4,3 mil pelo procedimento.

Dois anos depois, começou a sentir dor na axila esquerda e percebeu um caroço. Em 2010, fez exames que constataram o rompimento. "Fiquei apavorada, pois fui pesquisar sobre a PIP e descobri o escândalo na Europa. Registrei queixa na Anvisa, relatando a ruptura, e o que recebi de resposta foi um silêncio absoluto. Não é possível que a Anvisa ignore os casos."

Denise trocou as próteses por conta própria, mas ainda sente dores e os incômodos causados pelo silicone que ficou no corpo. Ela também entrou com uma ação judicial que ainda está em andamento.

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