
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu ontem proibir a venda e produção dos emagrecedores anfepramona, femproporex e manzindol, derivados da anfetamina. Presentes no mercado brasileiro há mais de 30 anos e indicados para a redução do apetite, esses medicamentos não reúnem estudos que comprovem sua eficácia e segurança. Eles terão de ser retirados do mercado em até 60 dias, contados a partir da publicação da resolução da Anvisa. Outro emagrecedor à venda no Brasil, a sibutramina continua liberada, mas com restrições. A decisão sobre derivados da anfetamina, unânime entre a diretoria da agência, já era esperada. A discussão sobre a restrição ao uso desses medicamentos começou no Brasil em 2010, motivado por um estudo realizado pela Agência Europeia de Medicamentos (Emea). A pesquisa mostrou que 70% dos pacientes não perderam peso após serem medicados com a sibutramina. Porém, este medicamento acabou sendo o único dos emagrecedores que continua liberado no Brasil. O Conselho Federal de Medicina informou que vai ingressar na Justiça contra a proibição.
Nos consultórios
Para a endocrinologista Maria Edna de Melo, integrante da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e pesquisadora do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o posicionamento da Anvisa não leva em conta a experiência prática dos consultórios, e será prejudicial aos pacientes. "A decisão partiu da câmara técnica da agência, formada por farmacêuticos e toxicologistas, profissionais com uma visão limitada do medicamento. Eles não têm experiência no tratamento de obesidade, e a decisão ignorou fatos científicos sobre esses fármacos", critica.
Crônico
A bancária curitibana Elaine Assinelli, de 38 anos, alterna tratamentos contra sobrepeso há mais de duas décadas, e já usou o femproporex e a sibutramina. "Tomei femproporex por cinco anos. Obtive resultado, mas os efeitos colaterais incomodavam demais: tive alterações de humor e de batimento cardíaco, insônia e irritabilidade", lembra.
Em 2009, passou a fazer tratamento com a sibutramina. "O ritmo de emagrecimento é mais acelerado, mas os efeitos colaterais são os mesmos", recorda. Grávida, ela suspendeu os tratamentos contra sobrepeso. "Depois do parto, vou encerrar tratamentos com remédio e procurar outras alternativas, baseadas em regime e exercícios físicos."
O nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, diz que o banimento dos medicamentos foi precipitado. "Não há dados científicos que demonstrem a necessidade da exclusão. Esses remédios estão no mercado há décadas, sem ter havido registro de óbito ou problemas graves relacionados a sua administração. Tanto que o FDA [entidade norte-americana que regula o comércio de remédios] não os retirou do mercado", justifica.
O médico afirma que a decisão reflete uma discriminação ao tratamento da obesidade. "Essa disfunção não está sendo vista como uma questão médica, mas como algo relacionado à beleza, como se fosse algo menor", ressalta. No Brasil, 16 milhões de pessoas usam controladores de apetite, contabilizando apenas as prescrições médicas legalizadas.



