
Pouco mais de 10% do total de pacientes com HIV no Paraná são da terceira idade: 2.222 das 21.378 notificações desde 1984, quando foi registrado o primeiro caso no estado. Outros 11 mil idosos a estimativa é que para cada caso notificado existam outros três a cinco infectados desconhecem sua condição sorológica e, com isso, mantêm o ciclo de contaminação ou podem sofrer problemas de saúde causados pela baixa imunidade, sem que recebam o tratamento adequado. Entre os dois perfis, há profissionais de saúde que travam batalhas diárias para fazer do diagnóstico e do tratamento de aids algo menos assustador para quem precisa encarar a doença depois dos 60 anos. Para o idoso, o nome "aids" é um pesadelo. Antes mesmo de saber a diferença entre contaminação pelo vírus e o desenvolvimento da doença, tudo se transforma em uma sentença de morte. "Além de não ter cura, a doença é ligada ao sexo, à prostituição, ao consumo de drogas e ao homossexualismo. É um pacote pesado para desembrulhar aos 60 e tantos anos", observa a médica infectologista Rosana Camargo, que trabalha com pacientes com HIV há 26 anos.
O diagnóstico tardio da aids tem implicações mais graves na terceira idade. Infecções oportunistas, como a pneumonia, podem confundir o médico, levando a tratamentos que ignoram a contaminação por HIV. As comorbidades relacionadas à idade cardiopatias e diabete, por exemplo também mascaram sintomas que podem indicar a presença do vírus. Muitos acabam com sequelas graves e irreversíveis ou morrem de doenças degenerativas sem saber que estavam contaminados e, por consequência, infectaram seus companheiros. Um reflexo disso é o aumento do número de mulheres mais velhas contaminadas nos últimos anos. Muitas descobrem-se infectadas anos depois da morte do marido, que nunca teve o diagnóstico confirmado. Nesse momento, o drama vem em dobro: aceitar uma doença incurável, cercada de preconceito, associada à sexualidade, e transmitida por um companheiro tido, até então, como fiel e protetor. "É como um cristal que se quebra. A viúva fica frágil e vulnerável psicologicamente. Na maior parte dos casos, esconde a verdade sobre sua saúde da própria família, por causa da vergonha que sente. É um complicador extra na adesão ao tratamento", diz Rosana.
A sexualidade também é outro fator que pesa nos diagnósticos de HIV entre maduros. Sob o tabu da vida sexual inativa, os idosos são ignorados até mesmo nas campanhas de prevenção de aids. Mas dois fatores associados têm sido combinações perigosas para o controle de doenças sexualmente transmissíveis (DST) na terceira idade: a resistência ao uso de preservativo e o abuso de estimulantes sexuais e medicamentos para disfunção erétil. "O idoso tem a sua sexualidade escamoteada. Mas a vida sexual ativa na terceira idade existe e tem sido praticada sem proteção. Muitos não usam preservativos porque têm dificuldade de manusear o produto", observa o geriatra Clóvis Cechinel, do Laboratório Frischmann- Aisengart/Dasa, de Curitiba. Novamente, as mulheres estão no grupo mais vulnerável. Sem a orientação adequada sobre sexo seguro e submetidas ao preconceito do uso do preservativo, muitas acabam infectadas justamente no momento em que resgatavam sua sexualidade após a viuvez ou separações conjugais. "O preservativo tem o estigma da traição. Tanto o homem quanto a mulher abrem mão da proteção por considerar a camisinha um sinônimo de infidelidade e promiscuidade. Isso tem de acabar. Sexo precisa ser seguro e pronto", diz a infectologista.
De olho na faixa de população que não sabe se está infectada pelo vírus HIV, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) vai fazer uma campanha maciça entre 18 de outubro e 1.º de dezembro. A meta é atender 50 mil pessoas em todo o Paraná e evitar o diagnóstico tardio. "Muitas vezes os sintomas são negligenciados e o paciente só se descobre com o HIV quando já evoluiu para a doença ou vai a óbito. O tratamento adequado permite sobrevida saudável e interrompe o ciclo de contaminação", explica Francisco Santos, coordenador da área de DST/aids da Sesa.



