Nos últimos 30 anos, as colheitadeiras paranaenses têm passado a lâmina nos campos, mas também nos faxinais, uma forma de organização tão típica quanto a gralha azul, as araucárias e as Sete Quedas de Guaíra para bons entendedores. Em miúdos, a morte e vida severina dos faxinalenses se deve à própria estrutura agrária do estado: o Paraná que se tornou um entusiasta da mecanização e mercantilização da lavoura.
Sobrou pouco espaço para os inacreditáveis faxinais, comunidades que mais parecem ter saído de um compêndio de socialismo moderno do que de um levantamento sobre comunidades tradicionais ao lado das quilombolas, benzedeiras e tribos indígenas.
Cada grupo sabe até onde vai a sua terra, tem escritura, mas solta um bocejo eterno quando o assunto é propriedade privada. No lugar da cerca fechada, vigora o "criadouro" uma grande área comum, usada para animais. O restante serve para a horta de cada família. O modelo permite que várias pessoas usem a mesma terra à revelia de quanta terra têm.
Foi graças a esse modelo que os faxinais garantiram extensas áreas verdes preservadas, como mostram as fotos de satélite sobre o Centro e o Centro-Sul do Paraná região em que a maioria dos grupos faxinalenses se firmaram. "É uma experiência que precisa ser ampliada. Não podemos esquecer da importância das comunidades tradicionais na preservação do meio ambiente", diz o deputado estadual Tadeu Veneri, do PT.
Já seria o bastante para que as roças fossem defendidas por tropas de elite. Mas os faxinalenses estão longe de um final feliz. Como naqueles panfletos da década de 70, dizendo que o problema do Brasil não era a seca, mas a cerca, novamente o problema é feito de arame farpado.
Recentemente, em encontro na Assembléia Legislativa que reuniu 60 lideranças do movimento, oriundos de 12 faxinais deu para ver que os faxinalenses querem soltar o fiapo de voz. Com bandeiras e tímidas palavras de ordem, falaram do inimigo íntimo, que compra o terreno vizinho e se nega a partilhar a cultura do criadouro comum. Pediram políticas adequadas para o tipo de associação que representam. Lembraram que são diferentes de tudo com a grandeza de serem muito parecidos com o mundo com o qual parte do mundo ainda sonha.
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