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Dom Peruzzo em reunião do Grupo de Adesão do HC e Pastoral da Aids: “Me convidem sempre. Adorei”, disse o arcebispo | Antônio More/Gazeta do Povo
Dom Peruzzo em reunião do Grupo de Adesão do HC e Pastoral da Aids: “Me convidem sempre. Adorei”, disse o arcebispo| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A comemoração do 1.º de dezembro – Dia Mundial de Luta Contra a Aids – foi de euforia no Grupo de Adesão do Hospital de Clínicas da UFPR. Pela primeira vez, em mais de 15 anos de serviços prestados, o núcleo – que ajuda soropositivos a se iniciarem e se manterem no uso dos coquetéis – recebeu a visita de um representante da hierarquia da Igreja Católica. “Quase” clandestina e anônima dos corredores do HC, a iniciativa teve seu dia de reconhecimento tardio.

O arcebispo de Curitiba, dom José Antônio Peruzzo chegou pontualmente, às 14 horas, para a reunião quinzenal do Grupo de Adesão, no auditório 2 do HC. A média de 30 participantes – liderados pela enfermeira aposentada Maria Alba de Oliveira Silva e pelo assistente social Silas Moreira – estava presente, seguindo a regra, e se surpreendeu com a primeira fala do religioso. “Caramba, vocês me pegaram de jeito. Achava que ia encontrar pessoas tristes e o que vejo são sorrisos. Vivi o bastante para identificar um sorriso protocolar. O de vocês é verdadeiro”, declarou, dando início a uma conversa que arrancou lágrimas e risos da assembleia.

“Adorei seu cabelo. É uma prova de que você está se cuidando e se amando. Deixem-se querer bem”, disse um simpático Peruzzo a uma das participantes soropositivas, cujo cabelo está tingido de ruivo. Abraçou-a, abençoou-a, a exemplo do que fez com outros participantes. Todos os discursos sobre “afeto” feitos pelo epíscopo se traduziram em gestos concretos.

Cumprimentou a todos que pôde. Contou, a uma assembleia atenta, que na mocidade, em missão no Norte do país, foi contaminado pelo bacilo da hanseníase. “Fiquei com raiva. Tinha ido ajudar e saí doente. Entendi que tinha preconceito, embora achasse que não, e que era mais fraco do que supunha. Me curei, assumi minha fragilidade. Sei que é diferente. Mas esse episódio me aproxima da dor de vocês.” A palavra “doença” não foi usada nenhuma vez, em respeito a um dos estigmas sofridos pelos contaminados.

Depois, Peruzzo posou para fotos e pediu para voltar ao grupo em outra ocasião. Justificou-se: convive demais com pessoas com mil razões para reclamar e ali se sentiu em companhia de gente disposta a repartir. “Me sinto renovado. Vocês dão sentido à vida das pessoas que trabalham no Grupo de Adesão. Elas se alimentam da força que vem de vocês”, disse, invertendo as posições – quem mais precisa ajuda os que se dispõem a prestar socorro.

Não foi a única surpresa da tarde. A Pastoral da Aids da Arquidiocese de Curitiba – fundada há dez anos, pelo frei capuchinho Pedro Brondani e hoje coordenada por Guilhermina Eugênio – nasceu dentro do Grupo de Adesão do HC. A ligação entre as duas iniciativas é constante. Em meio à informalidade do encontro com dom Peruzzo, frei Pedrinho – como é conhecido – anunciou que ano que vem parte para um trabalho missionário na ordem capuchinha e repassou a coordenação do grupo ao jovem sacerdote Danilo Vítor Pena, 30 anos, da Diocese de Jacarezinho, que está em período de prestação de serviços na Arquidiocese de Curitiba.

Tanto a Pastoral da Aids quanto o Grupo de Adesão fazem das tripas coração para se manter em atividade. À revelia do aumento do número de informações sobre a contaminação e a doença, o preconceito ainda impera. A presença de dom Peruzzo, tão à vontade na reunião, rompeu por algumas horas o silêncio em torno dessas duas atividades. “Eles nos legitimou”, disse Alba. Para os líderes, foi como se esses dois trabalhos tivessem sido refundados em 1.º de dezembro de 2015.

Animação

“Alguém está vindo hoje pela primeira vez?”, perguntou Alba, depois das falas do arcebispo. Havia sim – um mestrando de Educação Física que se voluntariou a ajudar os contaminados na prática de exercícios físicos. A experiência será analisada em sua pesquisa acadêmica. Seguiram-se as palavras de ânimo de sempre, as referências a outros grupos presentes à reunião e as animadas sessões de abraços. Frei Pedro Brondani criou para o grupo a terapia dos “12 abraços” diários.

O número é aleatório, mas diverte e ajuda. Pouco tocados, os soropositivos rompem ali a corrente de isolamento em torno deles – dessa vez com a adesão do arcebispo, que não poupou abraços a ninguém. Causou. Aquela máxima de pequenos gestos têm mais poder que revoluções se mostrou certeira, mais uma vez.

  • Dom Peruzzo, com Alba, frei Pedro Brondani e padre Danilo., novo coordenador da Pastoral da Aids.
  • Cartão distribuído durante reunião do Grupo de Adesão do HC, no último dia 1.º de dezembro.
  • Dom Peruzzo: “Caramba, vocês me pegaram de surpresa. Como vocês são alegres. É de verdade. A essa altura da vida eu não me engano mais. Sei quando os sorrisos são ensaiados.
  • Dom Peruzzo, padre Danilo, a enfermeira Verena e o assistente social Silas Moreira.
  • Em pé, frei Pedro Brondani, que fundou a Pastoral da Aids há dez anos, fala do novo trabalho que abraça ano que vem, quando parte para uma frente missionária.
  • Padre Danilo Vítor Pena, novo coordenador da Pastoral da Aids.
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