Um empresário grego naturalizado paraguaio, cinco grandes empresas de reflorestamento e três proprietários de terra enfrentam, há cerca de seis anos, uma batalha judicial para saber quem é o dono de uma área de 17.424 hectares (174,24 quilômetros quadrados) que avança sobre o território de três cidades no Norte do Paraná Sengés, Jaguariaíva e Doutor Ulysses. No meio da disputa estão os herdeiros de Carolina Maria de Souza, os pretos, como são chamados, em nome dos quais está o inventário da área. Trata-se de uma história repleta de desmentidos, documentos contestados e equívocos processuais.
Sobre o território que equivale a 16 mil campos de futebol, ou a uma área pouco menor que a do município de Colombo, na região metropolitana de Curitiba está uma cobertura de mata nativa, pequenas roças e plantações e pelo menos 1,4 mil alqueires de plantações de pínus para reflorestamento. Não há cálculos exatos sobre o valor total da área, com todas as benfeitorias feitas ao longo dos anos, mas somente o corte anual dos pínus pode garantir um lucro estimado de US$ 10 milhões, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente (Abimci). Segundo a entidade, cada hectare plantado com pinus adultos (de até 12 anos) pode garantir um lucro de US$ 1,5 mil.
No momento, o caso está parado no Tribunal de Justiça (TJ), depois da vitória das madeireiras em primeira instância na Vara Cível de Jaguariaíva. O desembargador Clayton Camargo, relator do processo, não apreciou o mérito da questão, mas determinou, em 22 de março, por meio de um agravo de instrumento, que o corte das árvores seja embargado. A medida representa uma vitória para Eythimios Ioannidis, o empresário grego que em 2000 adquiriu os direitos sucessórios sobre o espólio de Carolina Maria de Souza. Também implica um prejuízo enorme para as empresas, que detêm a posse do terreno.
"Essas empresas contam com contratos internacionais para serem cumpridos. Têm prazos de entrega definidos que podem gerar prejuízos incalculáveis", explica Frederico Lourenço, advogado da Norske Skok Florestal, uma multinacional do reflorestamento presente na região. "A decisão é acertada na medida em que evita confrontos agrários e preserva a cobertura vegetal da região, para que, posteriormente, quando o desembargador definir a quem pertence o terreno, não haja prejuízo para nenhuma das partes", contesta o advogado Cláudio Nunes do Nascimento, que representa Ioannidis.
A reportagem da Gazeta do Povo esteve na área e verificou que o corte continua sendo praticado e a madeira deixa o local em dezenas de caminhões carregados. Oficialmente, a decisão do TJ não chegou à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), mas já estaria havendo conflitos entre seguranças particulares das empresas e policiais militares no local.
Operações
Com a decisão do desembargador Camargo, a área pode se tornar palco de uma das maiores operações policiais do Paraná. Em seu despacho, o relato determina "a prisão, por desobediência, de todo e qualquer invasor que vier a ser encontrado dentro da referida área".
As empresas estimam empregar cerca de mil trabalhadores no local, que fica situado em encostas de morros, sem acesso por estradas asfaltadas. O terreno em disputa também passa por vários distritos, onde residem moradores de Sengés e Doutor Ulysses.
O destacamento de Polícia Militar de Jaguariaíva, sede da comarca, contava com três veículos para atuação. No entanto, cálculos de policiais militares reformados ouvidos pela Gazeta do Povo dão conta de que seriam necessários pelo menos 1,5 mil homens para fazer cumprir a determinação judicial. "Como deslocar todos esses policiais para lá e fiscalizar todo esse terreno?", questiona Ádson Gabino de Moraes Júnior, que representa a Ambiental Paraná Florestas, vinculada ao governo estadual.



