
É pouco provável que pais e avós da atualidade não se lembrem de ter brincado de batata frita 1-2-3, pimenta-pimentinha-pimentão, casamento atrás da porta, queimada, esconde-esconde ou de ter cantado "Ciranda Cirandinha" ou "Roda, cotia". Mas e as crianças de hoje, tempo das bonecas que parecem ganhar vida, dos carrinhos sofisticados, robôs e dinossauros que se movimentam? Isso sem falar na televisão e no computador. Com tudo isso, será que criança ainda brinca como antigamente?
Na véspera do Dia Mundial do Brincar, especialistas alertam para o risco de brincadeiras tradicionais serem esquecidas. "Existem brincadeiras populares que são passadas de pais para filhos e que são mantidas nos recreios das escolas. A gente tem observado isso, mas em pouca quantidade e com pouca ênfase", conta a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Simone Rechia, doutora em estudos do lazer.
De acordo com a professora, as brincadeiras de roda têm saído de cena para dar espaço a coreografias que estão vinculadas com a mídia e outras tecnologias. Simone ressalta que em sua pesquisa tem observado que muitas escolas não têm usado o brincar e o espaço lúdico como estratégias pedagógicas. "A escola ainda não está atenta à importância do brincar. Tentam educar por caminhos um pouco mais racionais. Com a brincadeira, a criança interioriza conteúdos de forma mais abrangente", afirma.
A pesquisadora lembra que também são encontradas boas iniciativas em algumas escolas. No colégio Anjo da Guarda, por exemplo, o Clube da Brincadeira funciona todos os dias com o objetivo de resgatar a cultura das brincadeiras e proporcionar um espaço de interação entre os alunos. "Hoje as crianças acabam tendo agendas de executivos e brincam muito pouco", avalia a educadora Maria Cristina Pires. "Se não brincam, estão deixando de se preparar emocionalmente para a vida adulta", complementa.
A educadora explica que em jogos de tabuleiro a criança aprende a lidar com sentimentos diferentes, como perda, fracasso, vitória, alegria e até morte. "Eu acho que brincar é fundamental. Precisa ter essa relação humana", comenta Maria Cristina. Ela diz não ser contra as novas tecnologias, desde que seja traçado um equilíbrio entre as diferentes formas de brincar. "Não se pode deixar de encaixar o filho na realidade em que ele vive", justifica. "Existe uma tendência do individualismo do brincar", alerta Simone.
A professora da UFPR ainda lembra que a indústria cultural imposta pela mídia tende a moldar novas identidades. "Existe uma mudança de hábitos que leva a um outro estilo de vida em que a brincadeira popular não está inserida. A escola e a família devem estar atentas para fazer esse resgate cultural", diz.
Serviço: O Shopping Mueller comemora com as crianças o Dia Mundial do Brincar hoje e amanhã, a partir das 14 horas, na loja PB Kids, no piso Cinemas.



