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Mais que panos

As rainhas que lançaram moda

Os vestidos usados pelas rainhas foram imitados mundo afora; muitos deles serviam como artimanha para demonstrar o poder da monarquia

Maria Antonieta em sua fase de luxo, com vestidos que representavam o poder |
Maria Antonieta em sua fase de luxo, com vestidos que representavam o poder (Foto: )
Vestido de papel que lembra a peça da rainha Josefina |

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Vestido de papel que lembra a peça da rainha Josefina

Exposição tem a

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Exposição tem a

Vestido inglês da 2ª metade do século 18, com estamparia inspirada na Árvore da Vida |

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Vestido inglês da 2ª metade do século 18, com estamparia inspirada na Árvore da Vida

A rainha da França lançou penteados com arranjos de um metro de altura |

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A rainha da França lançou penteados com arranjos de um metro de altura

Até na hora de ir para a guilhotina, a rainha da França, Maria Antonieta, escolheu cuidadosamente a roupa que iria usar, pensando no efeito que aquele traje causaria no povo. Com uma túnica branca e uma touca na cabeça, ela passou entre a população, que emudeceu: a mulher mantinha a dignidade, mesmo diante daqueles que a condenaram. O episódio serve apenas para lembrar que as principais rainhas que existiram no mundo, entre elas Maria Antonieta, Elizabeth I (Inglaterra), Josefina (Suécia) e Catarina de Médici (França), souberam usar a moda também para marcar posição. "Maria Antonieta não podia se manifestar sobre política publicamente, mas o fazia por meio dos vestidos que usava", explica a editora Rita Jobim, do livro Rainha da Moda: como Maria Antonieta se Vestiu para a Revolução, da Editora Zahar.

É verdade que Maria Antonieta acertou e errou em diversas medidas. Sempre que inventava uma nova moda, ela era duramente criticada. Ainda jovem, depois de passar por uma aula de etiqueta para se tornar princesa, ela já começou a fugir das regras da corte. Não queria ficar cercada de amas o tempo todo – ela prezava pela privacidade, o que gerou os primeiros comentários maldosos entre as mulheres que freqüentavam o palácio. A jovem não teria perfil para se tornar uma rainha. Maria Antonieta também encontrou problemas ao refutar o uso do espartilho. O dela, em especial, era ainda mais difícil de vestir, porque era duro – feito de barbatana de baleia – o que chegava a machucar os ossos da costela. "As senhoras mais velhas começaram a planejar a destruição da princesa, por isso diziam a ela que o espartilho era coisa ultrapassada. Foi um escândalo. A mãe de Maria Antonieta interveio e pediu para a filha respeitar as regras, fazendo uso do espartilho", conta Rita.

Casada com o delfim (príncipe herdeiro), Maria Antonieta teve de esperar um tempo para ver o casamento ser consumado efetivamente. O marido só queria saber de cavalgar. Por isso ela deixou o palácio para praticar a montaria, assim poderia conviver mais com o príncipe. Começou a cavalgar como os homens – com uma perna de cada lado em cima do cavalo – o que causou mais uma onda de boatos contra ela. "As pessoas acreditavam que o ato poderia prejudicar a fertilidade, o que colocaria em risco o seu principal papel, o de ser mãe. Ela, entretanto, não deu atenção às fofocas. Mais tarde, as mulheres começaram a imitar as roupas que ela usava para cavalgar: vestidos com menos volume e um colete de montaria masculino", comenta Rita.

Logo após se tornar rainha, com a morte de Luís XIV e a nomeação de Luís XVI, Maria Antonieta muda radicalmente o modo de se vestir: é a sua principal fase de luxo, com vestidos exuberantes, com muito bordado e ouro. Ela revolucionou a moda dos penteados, lançando as grandes armações (de quase um metro de altura) que eram usadas na cabeça. As armações eram feitas com arames, gaze e farinha (para formar o gesso). Chegavam ao ponto de serem ridículas, porque os arranjos da cabeça tinham formatos que variavam conforme a ocasião. Se nascia uma criança, por exemplo, as rainhas usavam penteados que lembravam um berço. "Nas óperas, essa nova moda virou um problema, porque ninguém mais conseguia enxergar. Por isso foram criados camarotes especiais para essas mulheres", afirma Rita.

A professora de História da Moda, Daniela Nogueira, do curso de Estilismo em Confecção Industrial do Senai, lembra ainda que os arranjos de cabeça eram fechados, o que dificultava a limpeza. Por isso muitas vezes, ficavam infestados de pulgas e ratos. "Elas tomavam banho cerca de duas vezes por mês, principalmente no período da Inquisição, em que a igreja não aconselhava as pessoas a tomar banho porque os poros do corpo se abriam e, assim, poderiam pegar as coisas ruins do mundo." Para disfarçar o cabelo sujo, as rainhas passavam pó branco. Para fugir das picadas das pulgas que estavam nos vestidos, elas penduravam saquinhos de sangue embaixo das anáguas.

Gola branca, gola suja

A rainha Catarina de Médici lançou uma gola que foi imitada pelo mundo afora, segundo Daniela. A gola é do tipo alta, branca e ficava na parte de trás do pescoço: quem a usava era para demonstrar poder. Outra curiosidade é que a gola branca também distinguia quem era nobre de quem era do povo. Como a higiene era precária naquela época, os que estivessem com a gola suja visualmente eram reconhecidos como da plebe. Até mesmo porque os reis e rainhas costumavam trocar a gola branca diariamente.

Para lançar moda e mostrar, com orgulho, às outras rainhas os vestidos que usava, Maria Antonieta liberou a divulgação de suas roupas por meio de uma pequena boneca, que primeiramente servia de molde para a confecção das peças. Essas bonecas foram transportadas em carroças para que as mulheres das outras cortes pudessem imitá-la.

A rainha da França, entretanto, foi duramente criticada quando se mudou para o palácio Petit Trianon e começou a se vestir como uma camponesa, com vestidos menos volumosos e chapéu. Isso aconteceu perto da Revolução Francesa, o que contribuiu para que a imagem da corte ficasse abalada. O povo perdeu o último respeito porque viu a monarquia "se rebaixar", com uma rainha que se veste igual a qualquer um.

Durante a reunião dos Estados Gerais (monarquia, clero e nobreza), porém, Maria Antonieta muda novamente o perfil de suas roupas. Para tentar melhorar a sua imagem diante de todos, ela coloca um vestido prata extremamente luxuoso, que simbolizava o seu poder. O rei se veste com uma roupa dourada e, juntos, o casal forma o sol e a lua, como se fosse uma mensagem ao povo de que a glória pertence à monarquia. O feito não traz grandes resultados. Mais uma vez, Maria Antonieta fracassa com sua moda: a população, naquele momento, não queria ver uma rainha esbanjando dinheiro, até porque tinha muita gente passando fome.

No dia em que Luís XVI foi morto, já presa, a rainha solicitou ao guarda para ter o direito de colocar um vestido preto em respeito ao marido. Até o fim da vida, Maria Antonieta tentou usar a moda a seu favor. A escolha da roupa escura era a mensagem de que a monarquia não poderia ser esquecida: o rei estava morto e a sociedade em luto.

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Serviço

Rainha da Moda: Como Maria Antonieta se Vestiu para a Revolução

Autora: Caroline Weber. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges

Número de páginas: 472

Preço sugerido: R$ 69

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