
Além de tornar realidade sonhos de consumo antes inimagináveis, o crescimento econômico também transformou casas da nova classe C de Curitiba em coqueluche de assaltantes. Dados cruzados da Polícia Civil e da prefeitura indicam que nos dez bairros que mais sofreram com roubos a residência, os chefes de família aumentaram seus rendimentos nos últimos anos, apesar de ainda terem renda abaixo da média curitibana.
Entre 1º de janeiro e 19 de abril deste ano, essas regiões concentraram 42% do total de casos dessa natureza registrados na capital paranaense. No período analisado, segundo números da Delegacia de Furtos e Roubos, foram reclamados 565 roubos a casas. Destes, 236 ocorreram no Uberaba, Cajuru, Boqueirão, Sítio Cercado, CIC, Novo Mundo, Xaxim, Pinheirinho, Fanny e Bairro Alto.
De acordo com o Guia do Investidor, a renda média do chefe da família nesses bairros cresceu 10% entre 2007 e 2010 passando de R$ 1.542 para R$ 1.715. Apesar desse aumento, o valor ainda é 41% menor do que a renda média do líder familiar curitibano, que chegou a R$ 2.889 em 2010, última projeção do relatório divulgado anualmente pela prefeitura de Curitiba.
Especialistas apontam que esse crescimento econômico, mesmo que pequeno, pode estar diretamente ligado ao aumento dos crimes contra o patrimônio na periferia curitibana. "É possível que bairros mais vulneráveis, mas cujos moradores ganharam renda, tenham aumento nos roubos", diz o sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Opinião semelhante tem o também sociólogo Lindomar Bonetti. "A marginalidade não se origina necessariamente em bairros pobres. Mas agora o conflito é detonado lá [na periferia] porque o giro de capital chama os crimes", diz o especialista, que leciona na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Quem trabalha com segurança diz que essa vulnerabilidade pode ser explicada pela ainda ausente prática da terceirização da segurança nos bairros menos nobres da capital. "A concentração dos crimes mudou de tempos para cá porque os meliantes notaram que famílias com renda maior investiram em segurança", diz Albary Almeida, gerente de operação de uma empresa de segurança privada em Curitiba.
Quem tem o trabalho de investigar esses crimes também corrobora com a tese do setor de segurança privada. "Os bairros ricos começam a ter vigilância privada e por isso eles [criminosos] migram. Mas a maioria dos crimes está na região sul e o principal problema ali são as quadrilhas", analisa Guilherme Rangel, delegado da Delegacia de Furtos e Roubos.
O Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado do Paraná (Sindesp-PR) não quis se manifestar na reportagem. Empresas do setor informam, porém, que o custo médio inicial para instalação de um kit segurança, com cerca elétrica e alarme, chega a R$ 1,5 mil 87% da renda média do curitibano nos bairros mais visados pelos assaltantes de casas em 2012.
Dê sua opinião
Você fez alguma melhoria na segurança de sua casa nos últimos meses para impedir a ação de ladrões? Qual?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.



