
A Unidade de Saúde (US) da Vila Esperança fica no fim de uma rua nos limites do Atuba, bairro de Curitiba que faz divisa com o município de Colombo. Na tarde da última terça-feira, uma jovem chegou à US esbaforida, depois de correr ladeira abaixo atrás de atendimento médico para a avó. A moça só parou de correr ao encontrar a enfermeira Joaninha Lara, na porta do postinho. A chefe da US tentou acalmar a menina, enquanto escutou a queixa ali, na calçada mesmo: "Preciso de um médico urgente para acudir minha avó."
A idosa não sabia como conter a crise depressiva e o ataque de fúria do irmão, paciente de câncer hospedado na casa dela. Atentas à história da moça, Joaninha e a auxiliar de enfermagem Maximilia Rosa passaram as orientações sobre como cuidar do homem, também idoso, durante os surtos, enquanto resgatavam de memória todo o histórico da avó da jovem atendida pela US dentro do Programa Saúde da Família.
A cena ocorrida na unidade traduz bem a realidade do programa de atendimento de saúde básico, criado há 15 anos pelo governo federal para pulverizar os serviços médicos primários à população. Equipes multidisciplinares formadas por um médico, um enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários esquadrinham as áreas de atendimento pelas quais são responsáveis, mapeando a situação dos moradores de cada uma das casas visitadas. Eles avaliam as condições de saúde de crianças, adolescentes, mulheres, idosos, pacientes de risco, além das condições de moradia, alimentação, integração familiar, condições psicossociais e situações de violência. O resultado é um amplo retrato da saúde dos pacientes, bem como o monitoramento de tudo o que envolve a qualidade de vida e a integridade física e psicológica de cada um. Não é à toa que Joaninha e Maximilia sabiam como fazer para orientar a neta que procurava ajuda na porta do postinho. Iguais a elas, 28.452 mil equipes do PSF atuam em todo o país. A ação não é reduzida às visitas às casas dos pacientes. O PSF também promove atividades coletivas em grupos, faz orientações e distribuição de medicamentos, encaminhamentos de exames, internamentos e acompanhamentos pré e pós-cirúrgicos.
O programa tem um papel importante no atendimento básico de saúde no Paraná. O estado tem a mesma cobertura da média da região Sul: 49% da população é cadastrada no PSF. Entre janeiro e maio deste ano, das 1,2 milhão de consultas a idosos nos três estados, 494 mil foram de paranaenses. "O atendimento do PSF nessa faixa etária é mais humanizado. As visitas periódicas às casas permitem um acompanhamento mais próximo", explica a chefe do PSF da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Patrícia Bonilauri Sens. O paciente acamado, dependente e sem autonomia consegue ter acesso ao atendimento médico. "É a faixa etária que tem o maior acesso ao programa", avalia médica da família Samanta França, técnica da área do Ministério da Saúde.
Complexidade
A rotina de visitas e o monitoramento também ajudam na prevenção de agravamentos de doenças e a redução da complexidade dos males que atingem o idoso. Diabetes, hipertensão, obesidade e doenças coronarianas sob controle significam menos complicações à medida que a idade avança, e alívio na outra ponta de atendimento, que são as unidades hospitalares e especializadas.
A caderneta do idoso, implantada em todo o país no ano passado, é outra ferramenta de atendimento básico que o PSF usa para administrar o acesso do paciente às unidades de saúde. Com o prontuário em mãos e permanentemente atualizado pelas equipes de saúde, o paciente pode ser atendido em qualquer situação de emergência, seja na unidade que freqüenta ou em qualquer outro posto de atendimento.




