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Médicos comemoraram a aprovação do projeto no plenário do Senado: valorização da classe | Moreira Mariz/ Agência Senado
Médicos comemoraram a aprovação do projeto no plenário do Senado: valorização da classe| Foto: Moreira Mariz/ Agência Senado

Repercussão

Conselho teme impacto negativo do projeto na rede pública de saúde

Se sancionado pela presidente Dilma Rousseff da forma como aprovado pelo Congresso, o projeto de lei apelidado de Ato Médico deverá ter impacto na rede pública de saúde. E ele pode ser negativo, teme o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

Atos praticados cotidianamente pela enfermagem na rede pública de saúde, segundo o conselho, passarão a ser proibidos. Por exemplo, o diagnóstico de doenças como hanseníase, malária, DSTs, tuberculose e a prescrição de medicamentos para tratá-las – sempre seguindo protocolos de atendimento do Ministério da Saúde.

"Pedir exames para gestante, por exemplo. A maior parte quem faz é o enfermeiro. Como vai ser isso? E o acompanhamento dos pacientes com hanseníase, tuberculose, aids?", protesta Amaury Gonzaga, do Cofen.

O próprio Conselho Federal de Medicina, que respalda o Ato Médico, entende que haverá mudanças da rede pública de saúde, com a necessidade da presença de médicos nas equipes, para que façam o primeiro diagnóstico e a prescrição dos medicamentos.

O plenário do Senado aprovou, no fim da noite da última terça-feira, o projeto do Ato Médico, que regulamenta o exercício da medicina e estabelece atividades que serão privativas dos médicos e as que poderão ser executadas por outros profissionais de saúde.

Pelo parecer da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), aprovado anteriormente na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, estabelece como atividades exclusivas das pessoas formadas em medicina a formulação de diagnósticos e prescrição terapêutica. Além disso, somente os médicos poderão executar procedimentos como intubação traqueral, sedação profunda e anestesia geral, indicação de internação e alta médica, atestação médica e de óbito – exceto em casos de localidade em que não haja médico –, além de indicação e realização de cirurgias.

O texto também estabelece os procedimentos que podem ser compartilhados com outras profissões da área da saúde. É o caso de diagnósticos funcional, cinésio-funcional, psicológico, nutricional e ambiental, e as avaliações comportamentais e das capacidades mental, sensorial e cognitiva.

Os não médicos também poderão prestar atendimento a pessoas sob risco de morte iminente, fazer exames citopatológicos e emitir seus laudos, coletar material biológico para análises laboratoriais e fazer procedimentos através de orifícios naturais, desde que não comprometa a estrutura celular e tecidual.

A relatora negou que o projeto supervalorize os médicos, tornando as demais profissões de saúde "subalternas". "O projeto não apresenta nenhuma evidência dessa argumentação, mesmo porque foi finalizado com a participação de especialistas encaminhados por todos os conselhos federais, discutindo-se palavra por palavra e vírgula por vírgula", disse a relatora.

Contrário à aprovação da matéria, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) argumentou que o texto é excessivamente minucioso e não abarca questões próprias da modernidade como as ressalvas práticas terapêuticas alternativas – caso da acupuntura e da homeopatia. "Eu penso que uma regulamentação minuciosa como essa, que chega a exageros que podem gerar uma certa curiosidade, desconhece o fato de que no mundo global nós recebemos influência de outras tradições terapêuticas e científicas", disse o senador antes de se manifestar contrário à aprovação.

Ministro diz que vai "analisar" o texto

Agência Estado

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou ontem que o governo vai "analisar com muito detalhe" o texto do projeto de lei do Ato Médico, aprovado no Senado. Ele argumentou que a proposta sofreu uma série de mudanças ao longo da tramitação. "É importante valorizar a profissão médica, é importante garantir a proteção para pacientes, mas é muito importante manter o conceito de equipes multiprofissionais", completou.

O texto, aprovado depois de 11 anos de tramitação, reserva aos médicos a atribuição para diagnóstico e prescrição de terapias, regra que pode trazer uma série de problemas para o atendimento na rede pública de saúde, sobretudo nos casos das doenças negligenciadas. Um dos alicerces da assistência é o atendimento por equipes. "Todos nós, inclusive nós médicos aprendemos sobre a importância de uma equipe", completou o ministro. O texto agora terá de ser submetido à sanção da presidente Dilma Rousseff.

Se a regra for aprovada sem mudanças, alguns protocolos de assistência à saúde, que atualmente contam com participação importante de enfermeiras, terão de ser alterados.

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