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Ambiente

Austrália admite negligência na proteção da Grande Barreira de Corais

O governo de centro-esquerda tem tomado medidas de preservação, mas "não há dúvida de que houve negligência por décadas"

Os arrecifes poderão continuar se deteriorando nas mesmas proporções até 2022 se nada for feito para proteger a Grande Barreira de Corais Australiana | Ray Berkelmans/Australian Institute of Marine Science/AFP
Os arrecifes poderão continuar se deteriorando nas mesmas proporções até 2022 se nada for feito para proteger a Grande Barreira de Corais Australiana (Foto: Ray Berkelmans/Australian Institute of Marine Science/AFP)

A Austrália admitiu nesta quarta-feira (3) sua negligência na preservação da Grande Barreira de Corais, após um estudo revelar que a estrutura perdeu mais da metade de seus prados de corais em três décadas, como resultado das tempestades, da depredação e do aquecimento global."Eu acredito que o estudo provocou o efeito de uma onda de choque em muitos lares na Austrália", declarou o ministro do Meio Ambiente, Tony Burke, em um discurso na emissora estatal ABC.

O governo de centro-esquerda tem tomado medidas de preservação, mas "não há dúvida de que houve negligência por décadas", acrescentou.

A Grande Barreira de Corais perdeu mais da metade de seus corais nos últimos 27 anos sob a influência de fatores meteorológicos (tempestades), clima (aquecimento) e industrial (nitratos agrícolas), de acordo com o estudo publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences.

E o recife pode continuar a deteriorar-se nas mesmas proporções até 2022, se nada for feito para proteger os corais, afirma o documento que sintetizou nada menos que 2.258 trabalhos científicos.

Os ciclones, 34 no total desde 1985, são responsáveis por quase metade (48%) da degradação, seguido pela Acanthaster púrpura (42%), uma estrela do mar invasiva e predadora também chamada de "coroa de espinhos", que devora os corais, e o branqueamento associado ao aquecimento do oceano.

Os corais são o lar de milhões de algas que lhes dão cores e não suportam a elevação atual da temperatura da água. Quando essas microalgas morrem, o coral perde a cor e morre de fome, tornando-se um esqueleto calcário.

"A perda da metade da cobertura coralina original é uma fonte de enorme preocupação porque é sinônimo de perda de hábitat para dezenas de milhares de espécies" marinhas, avaliaram os pesquisadores.

Dois graves episódios de embranquecimento ocorreram em 1998 e em 2002, relacionados com o aumento da temperatura dos oceanos, e tiveram "um impacto nefasto de grande magnitude", em particular nas porções centrais e setentrionais do arrecife.

No entanto, um dos autores do estudo, Hugh Sweatman, afirma que a barreira tem a possibilidade de se reconstituir.

"Mas a reconstituição leva entre 10 e 20 anos. Atualmente, os intervalos entre os problemas são curtos demais para uma reconstituição completa", disse.

Patrimônio Mundial pela Unesco em 1981, a Grande Barreira de Corais se estende por cerca de 345 mil km² ao longo da costa leste da Austrália, e é o maior conjunto de recifes de coral do mundo, com 3.000 "sistemas" de recife e centenas de ilhas tropicais.

Ela abriga 400 espécies de corais, 1.500 espécies de peixes, 4.000 espécies de moluscos e muitas espécies ameaçadas de extinção, como o peixe-boi e a tartaruga verde.

Os recifes de coral geram dezenas de milhares de milhões de dólares em receitas de turismo a cada ano em todo o mundo e a questão da preservação é tão ecológica quanto econômica, ressaltou Tony Burke.

"É por isso que temos a responsabilidade de cuidar muito bem deles, e este estudo é um lembrete de que não podemos deixar as coisas como elas estão", disse.

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