Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Meio ambiente

Bacia do Paraná é a mais poluída do país

Levantamento revela que 47% dos recursos hídricos brasileiros localizados em áreas urbanas têm qualidade ruim ou péssima

Segundo a Agência Nacional de Águas, o Rio Iraí, na Grande Curitiba, apresenta o quadro mais crítico no Paraná: a qualidade da água caiu 38% em 10 anos. Ao longo do rio é comum ver lixo nas margens | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Segundo a Agência Nacional de Águas, o Rio Iraí, na Grande Curitiba, apresenta o quadro mais crítico no Paraná: a qualidade da água caiu 38% em 10 anos. Ao longo do rio é comum ver lixo nas margens (Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo)

Ainda que mais de 80% dos rios do Brasil estejam em condições consideradas boas, quase a metade dos recursos hídricos concentrados em áreas urbanas tem qualidade ruim ou péssima. Nesse cenário, a bacia do Rio Paraná, que abrange quase a totalidade dos rios paranaenses, é a que mais sofre, detendo os piores indicadores de poluição. A constatação é da Agência Nacional de Águas (ANA), que divulgou recentemente um estudo no qual avaliou a qualidade da água em quase 2 mil pontos monitorados de todo o país.

Apesar do nome, a bacia hidrográfica do Paraná abrange uma área formada por cinco estados, além do Distrito Federal: Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Foi esse território que em 2010 apresentou a maior quantidade de pontos com Índice de Qualidade da Água (IQA) péssimo ou ruim: de 891 pontos monitorados, 61% encontravam-se nessa condição. Usando uma escala de zero a 100, o IQA mede a condição de utilização da água para fins de abastecimento público, com base em nove parâmetros técnicos.

Boa parte dos pontos críticos está nas bacias do Tietê, em São Paulo, e do Alto Iguaçu, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Conhecido por ser um dos mais poluídos do Brasil no trecho que banha a cidade de São Paulo, o Rio Tietê é um dos principais responsáveis por esses indicadores negativos. No entanto, alguns pontos situados em território paranaense também revelam uma situação preocupante. De 45 locais em todo o Brasil que apresentaram tendência de piora no IQA ao longo dos últimos dez anos, três estão na RMC: os rios Tumiri, em Pinhais; Iraí, em São José dos Pinhais; e Iraizinho, em Piraquara. Apenas o Rio Bacacheri, em Curitiba, aparece entre os 49 pontos com tendência de melhora.

Cortando as cidades de São José dos Pinhais, Pinhais e Piraquara, o Iraí é o que tem o quadro mais crítico: seu IQA passou de 55 em 2001 para 34 em 2010, índice considerado ruim. Morando há 30 anos às margens do Iraí, o policial militar aposentado João da Silva vem acompanhando o processo de deterioração do rio. "Quando vim morar aqui era bem diferente, o rio era mais limpo, não tinha muita construção em volta. Agora até que diminuiu, mas antes o pessoal jogava muito lixo", conta. Em alguns trechos, é possível encontrar materiais como plástico e papel no leito e nos galhos das árvores.

Déficit

Para o gerente de estudos e levantamentos da ANA, Marcelo Pires, os números revelam uma evolução positiva na situação dos rios brasileiros, visto que foram verificados mais pontos com tendência de melhora que de piora. Ainda assim, acredita que existe um déficit muito grande na área de saneamento, principal fator responsável pela contaminação das águas urbanas. "Grande parte da população urbana não dispõe de rede de coleta de esgoto. A maioria desses dejetos vai para os rios, o que exige um investimento muito grande para recuperá-los", avalia.

Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e professor do Centro Universitário FAE, Cléverson Andreoli explica que os pontos com maior poluição estão concentrados próximos aos grandes centros urbanos por causa das características dos leitos. "Nesses locais os rios são menos caudalosos, têm uma vazão menor. Isso faz com que haja uma maior concentração de matéria orgânica e eles sejam mais suscetíveis à poluição", observa.

Investir em saneamento básico é a única saída para a recuperação

Para especialistas da área de recursos hídricos, não há outra solução para melhorar a condição dos rios brasileiros senão investir pesadamente em saneamento básico. Ao apontar as causas da má qualidade da água dos rios, especialmente nos centros urbanos, eles são unânimes em afirmar que as cidades cresceram sem que as melhorias no setor acontecessem na mesma proporção. Reverter esse quadro irá demandar não apenas recursos financeiros, mas um tempo bastante considerável.

"O grande vilão da contaminação dos cursos d’água é a falta de tratamento de esgoto doméstico. Enquanto não nos conscientizarmos da extrema urgência que exige esse investimento, nossos rios vão ficar cada vez mais deteriorados", sentencia Marco Tadeu Grassi, doutor em química ambiental e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para ele, o saneamento não tem sido prioridade para o poder público. "Isso só vai mudar quando a sociedade se conscientizar, se mobilizar e cobrar esses investimentos", acrescenta.

Contraste

No caso da região hidrográfica do Paraná, o que se observa é um curioso contraste: ao mesmo tempo que é a bacia com o maior número de pontos com má qualidade de água, também detém os melhores indicadores do país em termos de cobertura de esgoto. A taxa média de coleta de esgoto é de 60%, enquanto a de tratamento chega a 44%. Números acima das médias nacionais, de 57% e 39%, respectivamente. A meta do governo federal é chegar a 88% até 2030, investindo para isso o montante de R$ 150 bilhões.

Caso os investimentos em saneamento não se concretizem, a população pode vir a sofrer com problemas ainda maiores. O professor Cléverson Andreoli, da FAE, alerta que a má qualidade da água provoca doenças e contribui para o crescimento da mortalidade infantil. A preocupação maior, contudo, é com os mananciais que servem de abastecimento para várias cidades. "Muitos desses rios abastecem a população. Apesar de toda a tecnologia existente para tratamento da água, melhores condições garantem maior potabilidade", ressalta.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.