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Baixa doação dificulta transplante de ossos

Resistência de familiares e subnotificação de possíveis doadores são as principais barreiras das centrais de transplante do país

O banco de ossos do Hospital de Clínicas da UFPR foi o primeiro do país. Hoje, recebe apenas três doações por semana | Laércio Ribeiro/Gazeta do Povo
O banco de ossos do Hospital de Clínicas da UFPR foi o primeiro do país. Hoje, recebe apenas três doações por semana (Foto: Laércio Ribeiro/Gazeta do Povo)

Se a doação de órgãos ainda é um assunto que encontra resistência entre os familiares de pessoas falecidas, a rejeição ao tema aumenta quando se trata de doação de ossos. De cada 30 tentativas para se conseguir um doador em Curitiba, por exemplo, apenas uma família aceita o procedimento. A dificuldade de aumentar o estoque dos bancos de ossos do país cresce com a subnotificação de possíveis doadores às centrais de transplante. No decorrer de uma semana, cerca de 420 pessoas morrem na capital paranaense, no entanto, apenas 20% dos casos são comunicados ao banco de ossos – totalizando três doações por semana."Muita gente que poderia ser doador não é filtrada pela central de transplantes", afirma o ortopedista Gerson de Sá Tavares Filho, presidente do Banco de Tecidos Músculo-Esqueléticos do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com 11 anos, a iniciativa paranaense foi a primeira do Brasil. Hoje, além do HC, há outros seis bancos de ossos no país (quatro em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro no Rio Grande do Sul).

No ano passado, segundo o Ministério da Saúde, foram feitos 246 transplantes para tratamento ortopédico ou correção de deformidades no país. Não há uma lista de espera oficial por transplantes de ossos. De acordo com o banco no Paraná, os pedidos são atendidos de acordo com o estoque. O Ministério da Saúde reforça que a demanda é gerenciada pelos próprios bancos.

Doação

Diferentemente de alguns órgãos, como o coração, que só podem ser doados por pessoas que tiveram morte cerebral, a doação de ossos pode ser feita até 12 horas após a parada cardíaca. Assim que uma família autoriza a doação, uma equipe de captação do banco é acionada para proceder a retirada dos ossos, feita em um centro cirúrgico. O grupo normalmente é composto por dois médicos, dois enfermeiros e um biólogo, já que se trata de tecido.

Assim que os ossos são retirados, a equipe preenche os espaços com um material especial a fim de evitar que o corpo fique desfigurado para o velório e o sepultamento. "Nós adaptamos canos de PVC com dobras nos joelhos e nos cotovelos, já que o morto tem que ficar com as mãos postadas no caixão", explica Tavares Filho.

Quarentena

Os ossos coletados ficam numa espécie de quarentena nas geladeiras do banco. Nesse período, passam por diversos exames. "O tecido ósseo é como qualquer outro tecido e, se não for bem estudado, pode passar uma doença para o receptor, como aids, sífilis, hepatites e bactérias", informa o responsável. Uma média de 30% das doações acaba descartada e encaminhada para incineração.

Outro mecanismo de segurança usado pelos bancos de ossos é a rastreabilidade dos receptores. Tavares Filho conta que todos os receptores são cadastrados. Se houver indício de doença após o recebimento do material do banco em algum dos pacientes, todos os outros são contatados para saber se houve alguma reação coletiva ao material. "Em 11 anos de banco, nunca tivemos nenhum tipo de contaminação", comenta o presidente da unidade. Para o ortopedista Carlos Cezar Wosniaki, que já encaminhou pacientes para o HC, as infecções que podem ocorrer são em decorrência da cirurgia.

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