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Baixo desempenho deixa 35 mil alunos sem ProUni

Ser bolsista é um desafio para jovens brasileiros com formação básica deficitária. Muitos não acompanham a turma na faculdade e perdem o benefício

Luciana Souza entre as filhas Vitória e Amanda. A secretária perdeu a bolsa do ProUni após atingir número máximo de reprovações | Pedro Ser[apio/Gazeta do Povo
Luciana Souza entre as filhas Vitória e Amanda. A secretária perdeu a bolsa do ProUni após atingir número máximo de reprovações (Foto: Pedro Ser[apio/Gazeta do Povo)

Um em cada cinco desligamentos do Programa Universidade para Todos (ProUni) – ação do governo federal que concede bolsas de estudo parciais e totais para universitários – foi motivado por desempenho insuficiente do estudante. Segundo balanço do Ministério da Educação (MEC), entre os 193.194 alunos que deixaram a faculdade antes da formatura, desde que o projeto foi criado, em 2004, 35.752 não conseguiram acompanhar a turma e por isso foram afastados.

O desligamento por rendimento acadêmico insuficiente é a segunda causa de abandono dos estudantes do ProUni – a primeira é por solicitação do bolsista, o que ocorreu com 62.964 beneficiados. Entre os alunos que não acompanharam as turmas, há quem não tenha se empenhado, mas há também pessoas que não receberam o apoio necessário para que conseguissem concluir os estudos, defendem os analistas.

São histórias como a da secretária Luciana Souza, 32 anos, que perdeu a bolsa integral do ProUni por não conseguir acompanhar a turma. O baixo desempenho de Luciana é resultado de uma vida inteira de privações. O pai adquiriu uma deficiência física quando ela tinha um ano e a mãe assumiu o sustento da família. Para ajudá-la, Luciana começou a trabalhar aos 15 anos.

Logo conheceu o marido e engravidou duas vezes. Só quando as filhas estavam maiores, conseguiu retomar os estudos. Concluiu os estudos no Cebeja (educação básica para jovens e adultos), fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e começou a lutar por uma vaga na faculdade. Depois de várias tentativas, veio a boa notícia: conseguiu uma bolsa para o curso de Direito.

Porém, mais problemas estavam por vir. Primeiro ela se sentiu deslocada na turma. "Senti na pele o preconceito por ser pobre, bolsista, esposa de zelador." A deficiência de formação escolar também logo pesou. Com uma jornada diária de trabalho de oito horas, os cuidados com a família e as limitações acadêmicas, Luciana bem que tentou, mas não conseguiu acompanhar a turma. "Me sentia uma analfabeta. O tempo que tinha livre era para estudar, mas não foi suficiente." Reprovou, por duas vezes, em duas disciplinas e perdeu a bolsa.

"Perdi meus sonhos, minha alegria, minha esperança. O pior é escutar que mereci perder minha bolsa porque não estudei o suficiente. Hoje, o momento mais difícil do meu dia é quando olho o relógio e vejo que era para eu estar na faculdade e estou em casa."

Apoio

Para especialistas, o que faltou à Luciana foi reforço pedagógico, além de apoio financeiro para que ela pudesse se dedicar aos estudos (leia mais nesta página). Segundo o MEC, não existe uma previsão expressa na legislação do ProUni que determine a oferta de reforço acadêmico aos bolsistas. As instituições têm, portanto, liberdade para definir ou não programas e ações de nivelamento acadêmico.

O MEC oferece bolsa permanência para que alunos carentes possam se dedicar aos estudos. O valor, porém, é baixo (R$ 300) e nem todos os estudantes são atendidos – atualmente, em todo o Brasil, 4,5 mil estudantes recebem o benefício. Para obter o auxílio tem de ser bolsista integral e estar matriculado em cursos presenciais com no mínimo seis semestres de duração e cuja carga horária média seja superior ou igual a seis horas diárias de aula. O processo de seleção dos bolsistas acontece semestralmente, em janeiro e julho, e depende da disponibilidade de recursos do MEC.

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