Tibagi Há três meses, o mecânico Neuton Pacher trabalha na montagem de uma bandeira do Brasil, uma peça de 1,1 tonelada, feita de ferro, metal, madeira, plástico e papel, que se transformou num verdadeiro mosaico de memórias de Tibagi, na Região dos Campos Gerais. A obra está na garagem da oficina e é motivo de orgulho do mecânico, que nas horas de folga vira artista plástico.
A bandeira de sucata começou a tomar forma juntamente com os preparativos da seleção brasileira para a Copa de 2006. Na verdade, ela é a versão ampliada da peça que Pacher confeccionou para o Mundial da França, em 1998, quando o mecânico/artista morava com a família no Rio de Janeiro. Naquela época, montar a bandeira de 500 quilos em homenagem à seleção foi o passatempo de Pacher enquanto se recuperava de um acidente.
A maior parte do material utilizado vem do estoque da oficina, formado por peças antigas e novas, juntadas aqui e ali ao longo do tempo. À medida em que a bandeira foi tomando forma, a notícia se espalhou na cidade de cerca de 20 mil habitantes e não faltaram contribuições. Ponta de flecha do sertão, isqueiro de quem parou de fumar, bola de bilhar roubada de boteco, fechadura da casa antiga, coronha de espingarda, telefone velho, botão de roupa e até a chupeta do neto de 2 anos de idade estão no mural de lembranças e balangandãs em que a bandeira se transformou. "Cada coisa dessas, por menor que seja, é parte da história de alguém. São histórias que não conheço, mas são importantes para essas pessoas. Então, eu arranjo um lugar para a peça", diz Pacher.
O mecânico ainda não parou para contar quantos itens tem a bandeira de 2,5 metros por 1,60 de largura. O plástico, o metal e a madeira se fundem por conta da perfeição dos encaixes e soldagens feitas por Pacher, deixando a superfície quase sem relevos. "A construção é um desafio", diz. Mas essa tarefa é o que deixa sua mente livre dos problemas e do cansaço do dia-a- dia, afirma. "A bandeira deixa ele muito calmo quando fica nervoso e não tem trabalho", confirma Aline, companheira de Pacher há 18 anos.
Aos olhos leigos, a obra está pronta, mas Pacher garante que não. Para ele, ainda há espaço para mais peças cheias de histórias. O artista não tem estimativa de quando dará por encerrado a tarefa e nem o que fará com ele depois. Pensa em expor no museu da cidade. Mas, por enquanto, a bandeira de memórias permanece na garagem da oficina, encantando os visitantes.



