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Luiz Renato Sodré, 26 anos, teve 15% do corpo queimado por um molotov na terça | João Varella / Gazeta do Povo
Luiz Renato Sodré, 26 anos, teve 15% do corpo queimado por um molotov na terça| Foto: João Varella / Gazeta do Povo
  • Enfermeira do Hospital Evangélico medica Nayane da Rocha Sodré, 19 anos
  • Patrícia Sodré Saleski, 27 anos, teve queimaduras nas mãos

Um grupo de jovens é acusado de provocar pelo menos quatro incêndios desde o fim do ano passado em um bairro de Quitandinha, região metropolitana de Curitiba, causando pânico e medo entre os moradores. Uma das ações do grupo queimou doações que seriam dadas a pessoas carentes do município. O último incêndio provocado pela gangue, na noite de terça-feira (20), destruiu uma casa e fez seis vítimas - entre elas, um bebê de 9 meses. Dois foram presos em flagrante, um adolescente foi liberado e outro suspeito está solto.

As seis pessoas vítimas do último incêndio estavam reunidas na casa de Eliel Zaleski e Patrícia Sodré. O casal preparou um jantar para parentes da família Sodré, Nayane, Luiz Renato e a pequena Lorena, de apenas 9 meses de idade. Douglas, de 6 anos, filho de Patrícia e Eliel, convenceu todos a, após o jantar (por volta de 21 horas), assistirem a um DVD de seu filme de ação favorito.

"De repente eu vi uma bola de fogo entrar pela janela e deu aquele clarão", conta Nayane, 19 anos, dona de casa. A "bola de fogo", que a polícia suspeita ser uma bomba caseira parecida com um molotov (arma incendiária geralmente composta de uma garrafa de vidro, material inflamável e um pavio), rompeu a janela e bateu nas costas de Luiz Renato, 26 anos, que trabalha no posto de saúde da cidade. "Se não tivesse batido nas minhas costas, acertava em cheio a Lorena, que estava entre as minhas pernas", conta o rapaz, que está em tratamento no Hospital Evangélico de Curitiba, assim como Nayane, Patrícia e Lorena. Os outros dois - Eliel e Douglas - sofreram queimaduras leves.

Com o corpo tomado pelas chamas, Luiz Renato conta ter ido até a frente da casa pedir socorro. Ele relata ter ficado espantado ao ver um primo de terceiro grau, de 16 anos, rindo da cena. Esse primo é um dos membros da gangue apontada como responsável por causar quatro incêndios na localidade de Colônia Pangaré, de cerca de 300 casas. O grupo, que tem pelo menos outros três integrantes apontados pela população, pode ser responsável por outros três ataques na localidade.

Vizinhos da região disseram à polícia terem visto jogando a bomba caseira junto com o adolescente Gilmar Colasso dos Santos, 30 anos, e Luiz Fernando da Silveira Quepe, 26 anos. Os dois foram presos em flagrante por volta das 2h. O adolescente foi detido. Um quarto membro da quadrilha não foi localizado, mas se apresentou na delegacia de Quitandinha na tarde desta quarta-feira (21) e, como não houve flagrante, deve responder às investigações policiais em liberdade.

As quatro vítimas graves foram encaminhadas ao Hospital Evangélico, em Curitiba. Segundo o médico Fernando Dalcumune, a bebê de 9 meses teve 18% do corpo queimado. Nayane, a vítima que deve exigir maiores cuidados, teve 30%. Patrícia e Luiz Renato tiveram 15% e 10% do corpo queimado, respectivamente. Nenhum corre risco de perder a vida.

A casa da família Zaleski, feita principalmente de madeira, foi totalmente destruída. "Conseguimos salvar três colchões. Só as paredes da cozinha, que são de tijolo, ficaram em pé", conta um amigo da família que prefere não se identificar, por temer a quadrilha de incendiários.

De acordo com o escrivão da Delegacia de Quitandinha, José Adilson, seis mandados de busca e apreensão foram expedidos nesta manhã pela Justiça. A polícia apreendeu nas casas vasculhadas um líquido inflamável sem rótulos, que provavelmente provocou o incêndio na casa de Patrícia e Eliel. O material deve ser periciado pelo Instituto de Criminalística. Na residência de Gilmar dos Santos, apontado como o cabeça da gangue, a polícia encontrou um emblema falso da Polícia Civil e certidões de nascimento em branco. Gilmar responde ainda por outros inquéritos que estão sob segredo de Justiça, de acordo com o escrivão.

Outros casos

Desde o Natal do ano passado, a gangue da Colônia Pangaré teria feito quatro ataques com molotov na localidade. Segundo Patrícia Zaleski, que faz parte da paróquia da cidade, o município recebeu um excedente de doações, que inicialmente haviam sido remetidas para ajudar as vítimas das chuvas de Santa Catarina, no final de dezembro.

"Juntamos tudo em um galpão, ao lado da igreja. Fizemos três dias de doações. Dava até briga entre os moradores. Tinha umas peças lá que eram bem boas, sabe? Até que esses caras [a quadrilha] vieram numa tarde de sábado querendo levar um monte de coisa. Nós contivemos eles", conta Patrícia.

Populares ameaçaram chamar a polícia se eles não fossem embora. "Eles disseram que não tinham medo da polícia e saíram rindo", disse. Algumas horas depois da discussão, durante a noite, houve um incêndio no galpão. Todas as roupas e comida que lá estavam queimaram. Um contêiner inteiro havia sido destinado para Quitandinha.

Na semana seguinte, a gangue teria jogado outro molotov em uma oficina mecânica ao lado da igreja em plena luz do dia. O fogo foi rapidamente contido por vizinhos. Há duas semanas, outro ataque. Dessa vez no Colégio Estadual Eleutério Fernandes de Andrade. Uma bomba foi jogada em uma sala de aula durante a madrugada. O incêndio apenas danificou uma cortina e fez um buraco no piso de madeira.

"Temos conhecimento desses casos, mas ninguém até agora veio registrar queixa", afirma o escrivão da cidade. Uma possível explicação para falta de queixas é o medo que as pessoas têm da quadrilha. Todas as vítimas do incêndio da noite de terça disseram que a gangue é perigosa e responsável por outros crimes, como roubos. "Depois que eu sair daqui, só sei que vou me mudar de cidade. Todo mundo sabe que eles são bandidos", conta Luiz Renato.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar foi contatada para responder sobre a possível negligência no patrulhamento ostensivo da cidade, mas não houve retorno. O destacamento da PM tem dois policiais, segundo o cabo Antônio Carlos Portela. A delegacia de Quintadinha trabalha apenas com um policial: o escrivão José Wilson. A cidade tem 17 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE de 2007. Ninguém da assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do Estado do Paraná foi localizado às 19h para comentar sobre a estrutura de segurança pública da cidade.

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