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Mar em fúria

Batalha naval abala os mares do Paraná

Em 1850, Paranaguá foi palco do chamado Combate de Cormorant, em que navio inglês apreendeu embarcações brasileiras por suposto tráfico de escravos

Ilustração baseada na aquarela Episódio Cormorant, de Euro Brandão, que mostra o Combate de Cormorant no Litoral do Paraná |
Ilustração baseada na aquarela Episódio Cormorant, de Euro Brandão, que mostra o Combate de Cormorant no Litoral do Paraná (Foto: )

A perseguição implacável do navio inglês Cormorant a quatro embarcações brasileiras provocou um tenso combate no Litoral paranaense em 29 de junho de 1850. Na ocasião, foram aprisionados os barcos Dona Anna e Sereia e a galera Campeadora. Para não ter o barco apreendido, o comandante do Astro provocou o afundamento do próprio navio.

O historiador Romário Martins escreveu que o combate teve como pretexto evidências de que os barcos estariam transportando escravos em um período em que já havia leis que proibiam essa prática no país. A Lei 7 de novembro de 1831 declarava "livres todos os escravos vindos de fora do Império" e impunha "penas aos importadores dos mesmos escravos". Martins destacou, contudo, que isso não impediu que a importação de escravos continuasse. Registros escritos pelo historiador inglês Leslie Bethel revelam que o Sereia, por exemplo, havia transportado 800 escravos até Macaé (RJ) algumas semanas antes e o Dona Anna desembarcado outros 800 escravos em Dois Rios (RJ) em março de 1850.

O atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, Ernani Straube, afirma, porém, que no interior das embarcações brasileiras não chegaram a ser encontrados escravos no momento da abordagem do Cormorant, o que desencadeou o conflito. "A população se uniu contra essa ação dos ingleses na costa brasileira", afirma.

O comandante do Cormorant, capitão Hubert Schumberg, entregou um ofício destinado ao comandante da Força de Paranaguá sobre os acontecimentos, mas as autoridades se negaram a receber o documento. Na noite daquele dia 29, um grupo de Paranaguá se revoltou com a ação inglesa e foi até a Fortaleza da Barra, na Ilha do Mel, para combater o Cormorant.

Na manhã do dia seguinte, os improvisados "guerreiros" desembarcaram na Ilha do Mel. Para eles, um navio de guerra estrangeiro havia confiscado e apreendido embarcações nacionais dentro do porto. Isso seria o suficiente para uma reação armada do Brasil.

Ao avistarem o navio inglês perto da Barra, tentaram encaminhar um ofício a ser entregue por um sargento da Guarda Nacional às tropas inglesas. "O barco que o levava foi recebido a balas", afirma Straube. Assim, começou uma troca de tiros entre ingleses e paranaenses. Por 30 minutos, a troca de tiros foi intensa. "Apenas um marinheiro morreu no conflito", conta Straube. A batalha só terminou quando o Cormorant saiu da mira dos parnanguaras.

Somente dois meses depois, em setembro de 1850 – apoiado pelo governo inglês –, o tráfico de escravos para o Brasil foi reprimido de vez. A Lei Eusébio de Queiroz reforçou que embarcações brasileiras ou estrangeiras encontradas em qualquer parte poderiam ser apreendidas.

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