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POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Bons ares circulam em Curitiba

Em 2010, medições revelaram níveis satisfatórios do ar em 95% do tempo. Mas frota de veículos e inversão térmica ameaçam a qualidade

No inverno, em virtude da inversão térmica, é esperado um maior número de violações dos padrões de qualidade do ar na capital | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
No inverno, em virtude da inversão térmica, é esperado um maior número de violações dos padrões de qualidade do ar na capital (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

Um relatório recente do Ins­­tituto Ambiental do Pa­­raná (IAP) revelou que o ar da região metropolitana de Curitiba (RMC) esteve dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira na maior parte de 2010. Segundo o estudo, a classificação permaneceu na condição "boa" em 95% do tempo; "regular" em 4,8%; e "inadequada" ou "má" em apenas 0,2% do período. Além da capital paranaense, as cidades de Araucária e Colombo também foram analisadas.O levantamento, realizado desde 1995, atualmente é feito por meio de 11 estações de medição automáticas e manuais distribuídas nos três municípios. Elas medem os níveis de partículas em suspensão, partículas inaláveis, fumaça, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e ozônio. Os dados são importantes para ajudar a estabelecer políticas públicas de controle da poluição atmosférica e avaliar potenciais riscos à saúde da população, já que um ser humano consome cerca de 10 mil litros de ar ao dia.

"É um pouco surpreendente [a boa qualidade do ar] porque Curitiba tem um movimento intenso de veículos. Na região central, onde há grandes fontes poluidoras, em alguns momentos a condição deve ser preocupante", avalia o químico Paulo Roberto Janissek, professor do Mestrado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo. Por outro lado, ele aponta que a cidade tem uma boa condição para a dispersão dos poluentes: geografia plana, altitude elevada, sem montanhas ao redor, altos índices de pluviosidade e ventos constantes.

Por outro lado, a região sofre, principalmente no inverno, com o fenômeno da inversão térmica. Neste período, é esperado um maior número de violações dos padrões de qualidade. "Historicamente, estas violações estão associadas a uma situação de inversão ou de extrema seca, quando a falta de chuva não ajuda a sedimentar o material que está na atmosfera", explica a engenheira química Ana Cecília Nowacki, chefe de gabinete do IAP. Ela observa ainda que a RMC conta com uma boa área verde e o controle de emissão das indústrias é rigoroso.

Carros

Um fator que preocupa é a quantidade de carros nas ruas de Curitiba. Trata-se da maior frota per capita do país (0,72 veículo por habitante). Apesar disso, segundo Ana Nowacki, a frota é mais nova – inclusive em virtude do maior poder aquisitivo da população. De acordo com Nelson Luís Dias, professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná, o grande número de áreas verdes da capital também ajuda a mitigar os fatores de poluição.

No entanto, Dias esclarece que há outros fatores potencializadores para a geração de gases na atmosfera. Entre eles o consumo crescente de produtos e serviços pela população. Além disso, segundo o especialista, é preciso vigiar constantemente os índices de poluição, para que se mantenham bons. "Fiz várias medições na Linha Verde durante as obras, confirmando o que diz o IAP. Mas hoje não temos lá um monitoramento constante", observa.

ONU considera padrão do Brasil pouco rígido

O Instituto Ambiental do Pa­­­­raná (IAP) utiliza critério próprio (o Índice de Qua­li­da­de do Ar) para medir as con­­­­dições do ar na Grande Cu­­ritiba. Os padrões se baseiam na Resolução 03/90 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelece, por exemplo, em 160 microgramas por metro cúbico (µg/m3) o índice médio recomendado para exposição ao ozônio no período de uma hora. Desde 2005, no entanto, a ONU fixou padrões mais rigorosos para a exposição a este e outros elementos. É o caso do próprio ozônio, cuja tolerância baixou para 100 µg/m3.

Para o químico Paulo Janissek, a tendência é que os padrões de controle no Brasil tornem-se mais rígidos. "Mas não adianta seguir índices superrestritivos, se não há condições de medi-los ou alternativas tecnológicas [para diminuir as emissões de gases]. A cidade não pode parar", esclarece.

A secretária do Meio Am­­biente de Curitiba, Marilza Dias, esclarece que a cidade já faz um controle de emissões. "Uma panificadora ou churrascaria, para funcionar, tem de obter a licença ambiental. Se há a possibilidade de emitir poluentes, ela precisa adotar medidas de controle", explica.

Além disso, Marilza explica que Curitiba está investindo para diminuir as emissões dos ônibus urbanos. Até o fim de 2012, 10% da frota deve estar rodando com biocombustível (que emite 50% menos poluentes). Além disso, 557 veículos serão substituídos por novos, com motores mais modernos, além da entrada em circulação, em 2012, dos ônibus híbridos: eles têm partida elétrica e liberam até 90% menos gases tóxicos.

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