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Religião

Brasileiras sob o véu do Islã

Por descendência, casamento ou afinidade, mulheres ocidentais optam pelo islamismo na tríplice fronteira

O pai de Jamile Aragão é católico; a mãe, evangélica e a irmã, espírita.  A jovem  agora é muçulmana  e frequenta a mesquita de Foz do Iguaçu | Marcos Labanca/Gazeta do Povo
O pai de Jamile Aragão é católico; a mãe, evangélica e a irmã, espírita. A jovem agora é muçulmana e frequenta a mesquita de Foz do Iguaçu (Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo)

Elas são brasileiras, cresceram em meio a costumes ocidentais, mas com o passar do tempo decidiram dar outro tom à vida. Jane e Jamile são o retrato de uma geração que tem optado por algo cada vez mais comum na tríplice fronteira: seguir o islamismo.

Com duas imponentes mesquitas, Foz do Iguaçu – cidade de 320 mil habitantes situada entre o Paraguai e a Argentina –, transformou-se em um portal de entrada para novos seguidores do Islã. A difusão da doutrina pela internet e a convivência harmoniosa de brasileiros com os cerca de 20 mil árabes e descendentes da região trinacional, a segunda maior comunidade do Brasil depois da paulistana, facilitam a aproximação com a religião fundada pelo profeta Maomé.

A maior parte de homens e mulheres que se converteu ao islamismo, ou como os muçulmanos dizem ‘se reverteu’ – para o Islã todos nascem muçulmanos, mas são tirados do caminho e por isso se revertem e retornam à religião – casou-se com muçulmanos. Mas há histórias que fogem à regra. A da estudante Jamile Barreto de Aragão, 21 anos, é uma delas.

De árabe, Jamile só tem mesmo o nome. Baiana de Paulo Afonso, ela chegou a Foz do Iguaçu há cinco anos, depois que a mãe decidiu abrir uma confeitaria na cidade. Aos poucos, aprendeu a admirar o caráter multiétnico de Foz do Iguaçu, onde vivem representantes de 74 etnias, e resolveu dar aulas de espanhol pela internet. Entre um contato e outro, conheceu muçulmanos de outros países e começou a aprender com eles, além do inglês, os princípios do islamismo. O interesse de Jamile pelo Islã cresceu e, depois de pesquisar sobre a religião, procurou uma das mesquitas em Foz do Iguaçu, falou com um sheik e se converteu. Ou, como ela mesmo diz, voltou para o Islã. "Antes de conhecer não tinha muita informação e pensava que o Islã estava associado ao terrorismo", diz.

Satisfeita na condição de muçulmana, Jamile, que era católica não praticante, hoje usa véu, reza em direção à Meca cinco vezes ao dia, conforme um dos cinco pilares do islamismo, e sente-se em casa quando frequenta a mesquita sunita Omar Ibn Al-Khatab. "Tenho parte da cultura do meu país, mas hoje eu tento agregar valor da cultura islâmica", diz ela, ainda com uma ponta de sotaque da Bahia.

Apesar do nome, a família de Jamile não é de origem árabe. A mãe é evangélica, o pai católico e uma irmã, espírita. Todos convivem bem, diz ela, sorrindo.

Retorno

A conversão ao islamismo é simples. Em Foz do Iguaçu, os candidatos frequentam aulas sobre os pilares da doutrina, que podem durar semanas, conforme o tempo disponível; assistem a sermões em português e leem obras sobre o tema. No ato da conversão é pronunciada a frase: "Não há outra divindade além de Deus e Mo­­hammad, seu profeta mensageiro". Passado o ritual, o muçulmano recebe um certificado escrito em árabe e português que o ajuda a tirar o visto na Embaixada Saudita para fazer a peregrinação à Meca (o muçulmano tem de ir pelo menos uma vez na vida à Meca). O documento também facilita que seu funeral seja feito em cemitério islâmico.

Mesmo as brasileiras convertidas costumam dedicar-se ao estudo da doutrina. Na Mesquita Imam Al-Khomeini, da linha xiita, um grupo de mulheres brasileiras e paraguaias reúne-se todas as quintas-feiras para aulas de árabe clássico. Elas também têm aulas sobre os princípios do islamismo com o sheik Mohamad Khalil. "A sabedoria não tem fim, o ser hu­­ma­­no tem de procurar o conhecimento. Existem muitos detalhes sobre história na religião", diz o sheik.

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