
No dia 19 de agosto, uma aluna do sexto ano do ensino fundamental no Rio de Janeiro foi supostamente agredida pela mãe de uma de suas colegas de classe. A agressora fugiu antes de a polícia chegar ao local e a garota precisou ser levada ao hospital. Segundo a polícia, o que desencadeou a agressão foi uma briga entre as duas alunas, ambas com 12 anos, no dia anterior. Esse é um caso extremo em que a mãe suspeita quis resolver um conflito escolar da filha com as próprias mãos e na base da violência. Mas o que é recomendado que os pais façam para ajudar seus filhos em caso de briga na escola?
A psicóloga Adriana Araújo, do projeto Não Violência, considera que, quando magoados, os pais tendem a querer revidar a violência recebida pelo filho. "É preciso aprender a lidar com a raiva e achar uma solução que esteja de acordo com a cultura da paz", afirma. "Os pais não podem bancar os paladinos e querer justiça com crianças e adolescentes. Se chegarem a produzir mal-estar físico nas crianças, estão sujeitos ao Estatuto da Criança e do Adolescente", diz o professor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Joe Garcia, doutor em Educação.
A psicóloga Josete Cesarina Túlio, mediadora de conflitos do Instituto de Administração de Conflitos, Mediação e Arbitragem, considera que pais que tiveram situações em que eles próprios se sentiram agredidos podem ter mais dificuldade nessas situações. "Para eles, agredir seus filhos é como agredi-los", diz.
A pedagoga Célia Meiri Wiczneski convive diariamente com casos assim e ajuda a solucionar desentendimentos na escola estadual em que trabalha. Quando se deparou com uma briga escolar que envolveu a filha Emily, de 7 anos, aluna de uma escola particular, viu a questão de outra perspectiva. "Com ela, consigo fazer uma intervenção bem mais direta, dizendo que é preciso resolver com diálogo e não brigando. É um trabalho de formiga, de conversa diária", conta. No trabalho, a proposta é a mesma, mas ela não pode observar o retorno dos alunos que acompanha. "Muitos deles estão inseridos num contexto de violência em que as coisas são resolvidas na base da briga", relata.
Ao saber que a filha teve problemas na escola, Célia acionou a instituição de ensino. "A maior responsabilidade é da família, mas ela tem de estar em consonância com a escola, se não a criança pode ficar perdida", diz. Para ela, a reação de indignação dos pais é bastante natural, independentemente da idade do filho, mas não dá para tentar resolver sozinho. Em casa, a orientação passou a ser a de não revidar. "Quando o colega agrediu minha filha, ela estava com 100% da razão. No momento que revidou passou a ter apenas 50%", explica. O caso terminou bem, com bom controle da escola. "Nossa vantagem foi que a família do menino também tem uma visão de que não pode brigar", lembra.
"É função da escola ensinar e preparar os alunos para resolver os conflitos pacificamente, criando alunos autônomos e independentes que possam saber lidar com as situações da vida", diz Adriana. Para ela, a escola não deve tomar partido de nenhum aluno e deve buscar sempre estabelecer o diálogo. Segundo Garcia, há no Brasil um grande abismo entre escola e família. "Os pais só vão à escola para ouvir queixas, enquanto deviam ser mais participativos até para os filhos saberem que aquilo que fazem na escola tem reflexo em casa", explica.
Pais têm papel importante na medida em que podem evitar conflitos através de conversas e transmissão de valores. "Eles podem ajudar nessas situações ensinando os filhos em casa a como perceber os conflitos, lidar com eles e resolvê-los", afirma Garcia. É importante também entender os limites da criança e perceber quais recursos ela tem para lidar com cada situação. O psicólogo também ressalta que é preciso estar atento à vida dos filhos, percebendo sinais diferentes do habitual de que algo está errado na escola.



