
Buracos são os presentes indesejáveis no primeiro aniversário de operação nas concessões federais das rodovias que cortam o Paraná. Entre os dias 10 e 13 de agosto, a Gazeta do Povo percorreu os 1,2 mil quilômetros nas BRs 116, 101 e 376, nas ligações com São Paulo e Santa Catarina, que estão sob controle de empresas criadas pela concessionária espanhola OHL, vencedora da licitação para administrar as rodovias por 25 anos.
Não existem mais "crateras" na pista, mas as depressões no asfalto que tanto irritam os motoristas ainda estão no traçado, principalmente da BR-116 no percurso até São Paulo. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) considera que os critérios básicos de segurança foram atendidos pelas concessionárias. O padrão de qualidade encontrado na maioria das rodovias de concessões estaduais só será realidade nos novos trechos concessionados daqui a quatro anos.
A reportagem encontrou buracos velhos e buracos novos. Em alguns trechos as chuvas fortes dos últimos dois meses castigaram a pista e deterioram o pavimento. Nesses pontos, a rodovia está pior do que há um ano, quando o mesmo percurso foi feito pela reportagem. À exceção de obras no trecho paulista da BR-116, quase não se vê funcionários trabalhando no pavimento. As melhorias mais visíveis são na sinalização e no roçado das margens. Há um ano, era comum encontrar placas encobertas, sujas ou danificadas. Hoje está tudo novo.
Todos os motoristas consultados pela reportagem se disseram irritados com os buracos em uma rodovia pedagiada. Os trechos de serra ainda testam a paciência dos motoristas, e os motores dos veículos. Ai de quem encontrar um caminhão carregado já na subida do Espigão, em Santa Catarina. Pode percorrer todo o trecho a 30 quilômetros por hora sem encontrar um só espaço para uma ultrapassagem segura. A serra do Cafezal ainda é o principal gargalo na ligação entre São Paulo e Curitiba. A duplicação dos 32 quilômetros é obra somente para 2012.
As chuvas foram os principais entraves para o êxito completo do primeiro ano de operações na ligação com Florianópolis, acredita o diretor da Autopista Litoral Sul, César Sass. Para acabar com a insegurança de quem usa a estrada em dias chuvosos, a concessionária afirma que deu prioridade a obras de drenagem, diminuindo consideravelmente os pontos de acúmulo de água na pista. "É claro que temos muito o que fazer. Mas os turistas que visitam a região no verão vão certamente notar diferença de um ano para o outro", garante.
Chuva e peso
O superintendente da concessionária Autopista Régis Bittencourt, Enio Palazzi, também culpa o excesso de chuvas pelas dificuldades de operação do sistema. "Há décadas que não chovia tanto nesse período. Surge buraco da noite para o dia, e se continua chovendo não conseguimos consertar". Algumas recuperações feitas no pavimento não resistiram ao peso das cargas. Do tráfego da via, 70% são de caminhões e o trecho ainda não tem balança para aferir eventuais excessos de peso. Duas devem entrar em operação em setembro.
"Como ainda temos cinco anos para deixar o asfalto em ótimas condições, priorizamos os pontos mais drásticos", explica Palazzi. Impelido a dar uma nota para a rodovia, o superintendente acredita que o trecho merecia 3 antes da concessão e hoje já estaria com 7. Portanto, não exatamente uma unanimidade no quesito satisfação. "Pode não ser exatamente o ideal, mas é próximo do possível. Mas os motoristas ainda encontram dissabores", reconhece.
O diretor estadual da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto, acredita que há motivos de sobra para comemorar o primeiro aniversário de operação nos trechos federais. "Muitos motoristas ganharam confiança de voltar a viajar pela BR-116, por exemplo", diz. Ele lembra que acidentes que frequentemente paravam o tráfego por horas e colocavam mais vidas em risco agora encontram suporte de guinchos e socorristas.
"Infelizmente existem pessoas que só valorizam o serviço da concessionária quando precisam dele", declara. Em fevereiro de 2008 foram assinados os contratos de concessão, mas há um ano exatamente começou o período de atendimento ao usuário. Serviços como recolhimento de animais mortos, auxílio em casos de problemas mecânicos e atendimentos médicos nos acidentes são oferecidos desde agosto do ano passado.
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