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Sandra e a filha de 8 anos, Fernanda, estão na fila da oftalmologia em Ponta Grossa | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Sandra e a filha de 8 anos, Fernanda, estão na fila da oftalmologia em Ponta Grossa| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Migração

Paciente de Foz precisou procurar atendimento em outra cidade

Denise Paro, da sucursal

Em Foz do Iguaçu, as cinco especialidades mais procuradas são ortopedia, cardiologia, oftalmologia, neurologia e vascular, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O tempo de espera chega a dois meses para oftalmologia, neurologia e vascular; para ortopedia, varia de um a dois meses; e na cardiologia chega a um mês.

Desde setembro de 2013, segundo a secretaria, o tempo de espera foi reduzido em todas as especialidades. A demora no atendimento, diz a pasta, se deve à mudança no perfil do usuário que migrou do atendimento particular para o Sistema Único de Saúde (SUS), ao envelhecimento da população e ao acesso facilitado à rede de saúde a partir da construção de novas unidades.

A secretaria diz ter contratado 60 médicos para a atenção básica, 29 deles do programa Mais Médicos. Contratou ainda oito ortopedistas, quatro neurologistas e dois vasculares. A fila da ortopedia para consulta, que era de 20 mil pessoas em janeiro de 2013, diminuiu. A espera agora é de um a dois meses. Uma das preocupações, segundo a secretaria, é com a reumatologia, cujo número de profissionais é pequeno.

A informação da secretaria nem sempre está de acordo com o que a população vivencia na prática. A dona de casa Teresinha Siqueira, 50 anos, por exemplo, esperou dois anos para conseguir uma consulta com um endocrinologista. A consulta foi agendada dia 23 de outubro de 2012 para ser feita no dia 2 de outubro de 2014. Como o problema era urgente, ela resolveu procurar médicos em cidades vizinhas.

Conseguiu consulta em Toledo, a mais de 150 km, onde alugou uma casa e morou durante um ano para fazer o tratamento de hipotireoidismo associado à baixa produção de glóbulos vermelhos no sangue. "Já moro há 40 anos em Foz e tive de sair para fazer tratamento fora. É muita gente para poucos médicos", conta. Como pretende continuar o tratamento em Foz, Teresinha compareceu à consulta marcada há dois anos.

  • Teresinha esperou 2 anos por um endocrinologista, em Foz

Quem precisa consultar um médico especialista da rede pública de saúde nas maiores cidades do Paraná tem de enfrentar uma fila de até três anos e meio, conforme o caso. Em Curitiba, por exemplo, consultar um cardiologista demora até 15 meses. Já a espera por um oftalmologista é de 23 meses em Ponta Grossa, de até dois anos por um endocrinologista em Foz do Iguaçu e de 42 meses no caso de proctologista em Londrina. O gargalo nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) se explica por muitas razões, mas há dois pontos centrais.

INFOGRÁFICO: Veja o tempo de espera das especialidades médicas mais procuradas no Paraná

Em geral, os médicos da atenção primária em saúde não estão preparados para a maioria das enfermidades com que se deparam. Assim, a falta de capacitação sobre as patologias específicas de cada especialidade faz com que encaminhem a especialistas muitos casos que poderiam ser resolvidos na própria unidade básica de saúde. Na outra ponta, também faltam médicos para muitas especialidades por causa da baixa remuneração do Sistema Único de Saúde (SUS), como lembra o secretário municipal de Saúde de Londrina, Mohamad El Kadri.

Outros dois fatores ajudam a retardar os atendimentos: a migração de pacientes de planos particulares para o SUS e a rotatividade dos mesmos pacientes na atenção primária. Em Curitiba, por exemplo, as 109 UBSs realizam 160 mil consultas por mês, além de outras 120 mil em especialidades médicas e 100 mil consultas de urgência. Nove entre 10 atendimentos em especialidades clínicas são de retorno para reavaliação médica, gerando sobrecarga do sistema e filas de espera. O desafio em política pública de saúde é fazer com que esses casos sejam resolvidos na atenção primária. Isso exige repensar o modelo da atenção básica.

Na avaliação do secretário municipal de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda, um sistema de saúde só vai funcionar bem se a atenção primária resolver ao menos 80% dos casos, deixando apenas 20% para as especialidades. Segundo pesquisa interna da secretaria, se 60% dos casos fossem bem encaminhados na rede básica os paciente não precisaria ir adiante. Isso requer médicos melhor preparados para diferentes patologias. Os hospitais também precisariam aumentar a capacidade de procedimentos cirúrgicos para especialidades que requerem cirurgia.

Meios

Os municípios têm procurado meios para acabar com as filas. Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde reduziu de 17 meses para apenas um mês a espera para consultas em neurologia. A façanha se deu graças ao Telesaúde, sistema em que os profissionais das UBSs discutem os casos em videoconferência com especialistas do Hospital de Clínicas, um dos 140 prestadores de serviços de especialidades médicas para a prefeitura. Criado pelo Ministério da Saúde, o programa vinha sendo usado para debates acadêmicos e passou a ser usado em 2011 por UBSs. Em Curitiba, começou em 2013.

Curitiba também conseguiu reduzir de 10 meses para cinco meses o tempo de espera para consultas em oftalmologia, de 2 anos para 15 meses em cardiologia e de 13 meses para 10 meses em dermatologia.

Em Londrina, o assessor técnico da Diretoria de Re­gulação em Saúde, Felipe Machado, diz que a principal medida implantada para reduzir o tempo de espera é a elaboração do novo protocolo clínico orientando e capacitando o médico da UBS sobre as patologias específicas de cada especialidade. Com isso, atendimentos hoje encaminhados a especialistas poderão ser feitos nas UBSs. O protocolo clínico de dermatologia já foi implantado e o número de pacientes na fila de espera para essa especialidade caiu 28,27% – de 11.026 para 8.596 em um ano.

Oftalmologia lidera fila em Ponta Grossa

Maria Gizele da Silva, da sucursal

As especialidades médicas mais procuradas em Ponta Gros­sa, nos Campos Gerais, são neurologia, ortopedia, car­diologia, urologia e oftalmo­logia. Esta última tem a maior fila, com espera de até 23 me­ses, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O município não tem contrato de gestão plena da saúde e por isso a responsabilidade pela contratação de especialistas é do governo do estado.

O diretor da 3.ª Regional de Saúde, Jaime Menegoto Nogueira, diz que o governo pretende construir um centro estadual de especialidades. Já no Centro Municipal de Especialidades, algumas áreas são servidas por apenas um profissional, caso da oftalmologia. Há poucos especialistas interessados, apesar das tentativas de contratações.

Em cardiologia, a espera média é de 90 dias, enquanto em neurologia é de 60 dias. Segundo a Secretaria Mu­ni­cipal de Saúde, em ortopedia e urologia não há fila de espera. Nos últimos 12 meses, foram feitos 9.100 atendimentos em neurologia, 8.755 em ortopedia, 4.942 em cardiologia e 3.587 em urologia.

A dona de casa Sandra Leo­nice Farias da Silva, 34 anos, passou pela primeira consulta em agosto. Teve sorte: esperou "apenas" 14 meses. Em junho de 2013, ela procurou o posto de saúde do bairro. Depois de ser atendida no Centro Municipal de Especialidades, em agosto, foi encaminhada ao serviço especializado em Curitiba, onde já fez duas consultas.

O diagnóstico não animou. "O médico disse que não tem o que fazer. Ele pediu para eu voltar daqui a um ano", diz. Sandra ficou cega do olho direito e tem 60% da visão do olho esquerdo, como sequela de um derrame sofrido em 2010. Nem uma cirurgia pode reverter o quadro. As duas filhas dela, Raíssa, de 10 anos, e Fernanda, 8 anos, também fazem tratamento em oftalmologia no município.

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